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Desde a transição do uso da madeira para o carvão durante a Revolução Industrial até a adoção do petróleo no século XX, a história da humanidade é marcada por mudanças nas fontes de energia que impulsionaram o progresso social e econômico. Cada etapa trouxe avanços significativos, mas também desafios que precisaram ser superados. Atualmente, estamos no início da quarta transição energética, uma fase que busca equilibrar crescimento econômico, sustentabilidade ambiental e justiça social. Diferentemente das transições anteriores, esta nova fase não visa apenas garantir energia, mas assegurar que seja limpa, acessível e equitativa.
Como transformar essa necessidade em ações concretas e acessíveis? O que cada um de nós pode fazer para contribuir com essa mudança global?
Este artigo examina como políticas públicas inovadoras, como o Programa de Eficiência, Transição e Governança Energética da Prefeitura do Rio de Janeiro, podem liderar esse processo e criar mudanças estruturais que beneficiem as gerações presentes e futuras, além de abordar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) impactados por essa iniciativa.
Princípios Básicos da Geração de Energia
Para entender a importância e os desafios da transição energética, é essencial conhecer as diferentes formas de geração de energia e como elas impactam nosso dia a dia. Cada tipo de geração possui características únicas que influenciam diretamente a sustentabilidade e a disponibilidade de energia, aspectos fundamentais para o futuro da sociedade. Essas características impactam diretamente a vida cotidiana dos cidadãos, determinando a segurança no fornecimento de energia, o custo da eletricidade e a qualidade do meio ambiente em que vivem. A energia pode ser gerada de diversas formas, utilizando diferentes recursos naturais e tecnologias:
Fontes de Energia | Descrição | Prós (Impactos Positivos) | Contras (Impactos Negativos) | |
1 | Hidráulica | Aproveita a energia potencial da água armazenada em reservatórios, convertendo-a em energia cinética e, em seguida, em eletricidade através de turbinas e geradores. | Fonte renovável, confiável, com baixa emissão de gases de efeito estufa. Oferece alta capacidade de despacho (reservatórios armazenam energia). | Impacto ambiental significativo na construção de reservatórios, deslocamento de comunidades locais. Dependente da disponibilidade hídrica em períodos de seca. |
2 | Fotovoltaica | Gerada pela conversão direta da luz solar em eletricidade, utilizando células fotovoltaicas feitas de materiais semicondutores, como o silício. | Renovável, sem emissões durante a operação, ideal para pequenos e grandes projetos. | Alta intermitência (funciona apenas com luz solar), sem capacidade de despacho noturno sem armazenamento em baterias. |
3 | Eólica | Obtida a partir da energia cinética dos ventos, que movimentam pás conectadas a um gerador, transformando o movimento em eletricidade. | Renovável, baixa emissão, ocupa pouco espaço no solo, pode ser combinada com outras fontes. | Alta intermitência (depende da constância e intensidade dos ventos), limitada capacidade de despacho. |
4 | Térmicas (GN/Diesel/ Carvão/Outros Combustíveis) | Usinas termelétricas utilizam gás natural, diesel, carvão, etanol e hidrogênio para aquecer água e produzir vapor. Etanol e hidrogênio são opções mais sustentáveis. | Alta capacidade de geração contínua e confiável (não intermitente), ideal para demandas de base ou picos. | Emissão de poluentes, alta dependência de combustíveis fósseis, eficiência relativamente baixa em algumas fontes. |
5 | Nuclear | Gerada pela fissão de átomos de urânio, que libera calor utilizado para gerar vapor, movimentando turbinas para produzir eletricidade. | Alta densidade energética, baixa emissão de CO2eq, confiável para suprir demandas base com geração contínua e sem intermitência. | Risco de acidentes nucleares, descarte de resíduos radioativos, custo elevado para construção e manutenção. |
5.1 | Nuclear (Fusão Atômica – Futuro) | Futuras tecnologias de fusão nuclear prometem energia abundante ao fundir núcleos leves, liberando grandes quantidades de energia sem resíduos radioativos de longa duração. | Potencial de ser uma fonte praticamente inesgotável, sem emissões de CO2eq, resíduos mínimos, segura em comparação à fissão. Poderá ser contínua e despachável. | Tecnologia ainda em estágio experimental, altos custos de desenvolvimento, desafios na contenção do plasma. |
6 | Biomassa e Biocombustíveis | Biomassa (resíduos agrícolas e florestais) e biocombustíveis (etanol, biodiesel) são utilizados para produzir calor e eletricidade. São renováveis e versáteis. | Renovável, reduz resíduos, gera empregos locais, pode ser usada em pequena e grande escala. Pode ter despacho planejado. | Emissão de CO2 (menor que combustíveis fósseis), competição com a produção de alimentos, eficiência variável. |
7 | Hidrogênio Verde (H2V) | Obtido pela eletrólise da água usando fontes renováveis. Pode ser armazenado e utilizado para gerar energia em células a combustível ou geradores, com emissão de água (H2O). | Alta versatilidade, sem emissões durante o uso, possibilidade de armazenamento e despacho sob demanda. | Alto custo de produção, eficiência energética baixa na conversão, infraestrutura ainda em desenvolvimento. |
Essas diferentes formas de geração possuem características específicas, vantagens, desvantagens, desafios, e são peças fundamentais no mosaico da transição energética rumo a um futuro sustentável.
Os Desafios na Geração e Transmissão de Energia
A geração de energia e sua transmissão enfrentam desafios significativos, especialmente quando se trata de atender a longas distâncias. A infraestrutura de transmissão, muitas vezes, não é suficiente para transportar a energia gerada em locais remotos até os grandes centros consumidores, resultando em perdas de eficiência e custos elevados. Neste contexto, o hidrogênio verde surge como uma solução promissora. A produção de hidrogênio verde em localidades no Brasil, como as regiões Nordeste e Sul, que possuem excelentes condições climáticas para geração de energia solar devido à alta incidência de radiação solar, e para geração de energia eólica devido aos ventos constantes e fortes, permite converter essa energia em um combustível facilmente transportável. O hidrogênio pode ser armazenado em tanques e transportado por navios para qualquer lugar do mundo, superando as limitações da transmissão elétrica tradicional e oferecendo uma alternativa viável para a distribuição de energia limpa em escala global.
Desafios e Soluções no Contexto da Transição Energética
O caminho para uma matriz energética sustentável é desafiador, mas essencial. No âmbito tecnológico, a intermitência das fontes renováveis, como solar e eólica, exige soluções inovadoras. Nesse cenário, destacam-se as micro redes de energia com armazenamento em baterias, atualmente baseadas em íons de lítio, que oferecem maior estabilidade e confiabilidade no fornecimento de energia. Essas micro redes permitem o uso eficiente de energia renovável ao armazenar excedentes gerados em horários de alta produção, garantindo sua disponibilidade em períodos de baixa geração.
Adicionalmente, a eletrólise da água, alimentada por fontes renováveis, é uma alternativa estratégica para a produção de hidrogênio verde. Esse processo converte a energia excedente em combustível utilizável, permitindo seu armazenamento e posterior reconversão em eletricidade ou calor. Assim, o hidrogênio verde desempenha um papel crucial na superação dos desafios da intermitência, garantindo uma fonte contínua de energia mesmo quando o sol não está brilhando ou os ventos não estão soprando.
No aspecto econômico, é fundamental garantir que os custos da transição sejam distribuídos de forma justa, protegendo as populações mais vulneráveis. Socialmente, a democratização do acesso à energia limpa deve ser uma prioridade, acompanhada da criação de empregos qualificados nos setores emergentes. Ambientalmente, é necessário mitigar os impactos ecológicos associados à expansão de infraestruturas energéticas.
Mas como podemos enfrentar esses desafios de forma eficaz? Estamos dispostos a reimaginar nossos sistemas econômicos e sociais para priorizar a sustentabilidade? Mais importante ainda, como podemos transformar esses desafios em oportunidades para uma sociedade mais justa e resiliente?
O Programa de Eficiência Energética do Rio: Uma Política Pública Transformadora
O Programa de Eficiência, Transição e Governança Energética da Prefeitura do Rio de Janeiro, concretizado através do Projeto Rio de Energia Verde, é uma política pública inovadora e pioneira que visa transformar o modelo energético do município. Reconhecido como a primeira iniciativa da América Latina a adotar energia 100% renovável para o abastecimento de órgãos públicos por meio do Ambiente de Contratação Livre, o projeto não apenas contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, mas também melhora diretamente a qualidade de vida dos cidadãos, ao liberar recursos financeiros que são reinvestidos em serviços essenciais, como saúde, educação e infraestrutura urbana.
O Projeto Rio de Energia Verde se destaca por sua governança energética municipal eficaz, com mecanismos bem estruturados que incluem parcerias estratégicas com o setor privado, como a colaboração com empresas de energia renovável para fornecimento de tecnologia e expertise, marcos regulatórios que garantem a segurança jurídica necessária para a implementação de iniciativas renováveis, além de incentivos financeiros, como linhas de crédito subsidiadas, que estimulam a adesão ao programa por outros órgãos e municípios. Ao reduzir custos em quase 50%, evitar a emissão de mais de 80 mil toneladas de CO₂ e gerar economias significativas que são redirecionadas para áreas fundamentais, como saúde e educação, o projeto demonstra como políticas locais bem planejadas podem promover eficiência econômica e sustentabilidade ambiental. Além disso, o Rio de Energia Verde serve de inspiração para outras cidades, reforçando a ideia de replicabilidade e liderança no avanço para uma matriz energética mais sustentável. Imagine viver em uma cidade onde os recursos economizados com energia são investidos diretamente em melhorias para a população. Como seria se mais cidades adotassem um modelo tão transformador?
O Impacto nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
O Projeto Rio de Energia Verde está diretamente alinhado com diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, atuando como um exemplo concreto de como políticas públicas podem contribuir para o cumprimento dessas metas globais. Entre os ODS impactados pelo projeto, destacam-se:
- ODS 3: Saúde e Bem-Estar – Ao redirecionar os recursos economizados para serviços de saúde, o projeto também contribui para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar da população.
- ODS 7: Energia Acessível e Limpa – O projeto promove o acesso à energia limpa, segura e sustentável para os órgãos públicos da cidade, contribuindo para a meta de aumentar a participação de energias renováveis na matriz energética.
- ODS 11: Cidades e Comunidades Sustentáveis – A adoção de energia 100% renovável torna o Rio de Janeiro uma cidade mais sustentável, reduzindo a poluição e promovendo uma infraestrutura urbana resiliente.
- ODS 13: Ação contra a Mudança Global do Clima – A significativa redução nas emissões de CO₂ contribui diretamente para a mitigação das mudanças climáticas, demonstrando o comprometimento da cidade com ações concretas em prol do clima.
Esses impactos demonstram que o Projeto Rio de Energia Verde vai além de ser uma simples política energética; ele é um componente fundamental para alcançar um desenvolvimento urbano mais sustentável e equitativo, promovendo benefícios ambientais, sociais e econômicos.
BioGera Rio – Transformando o lixo em energia para um futuro mais verde!
Além do Projeto Rio de Energia Verde, a cidade do Rio de Janeiro está implementando outras políticas públicas inovadoras voltadas para a transição energética. Um exemplo promissor é o Projeto BioGera Rio, atualmente em fase de desenvolvimento. Este projeto visa transformar o centro de triagem de resíduos do Caju em uma unidade piloto de geração de energia sustentável, utilizando resíduos sólidos e biomassa como fontes primárias. O Projeto será a próxima etapa no programa de governança energética, fortalecendo ainda mais a posição da cidade como líder na transição para uma matriz energética mais limpa e resiliente. O aproveitamento dos resíduos como fonte de energia não apenas contribuirá para a sustentabilidade ambiental, mas também trará benefícios econômicos e sociais, criando novas oportunidades e promovendo uma economia circular, que poderá ser totalmente replicável em outras cidades, alinhada com o ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico, ao fomentar a criação de empregos qualificados e impulsionar o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, promovendo uma economia verde e inclusiva.
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Construindo uma Sociedade Igualitária e Consciente
Mais do que uma mudança tecnológica, a transição energética representa uma oportunidade de transformação social, capaz de reduzir desigualdades ao garantir acesso equitativo à energia limpa e de gerar novas oportunidades econômicas, como a criação de empregos verdes e o desenvolvimento de novas indústrias voltadas para tecnologias sustentáveis. A construção de uma sociedade igualitária, com liberdade econômica e consciência coletiva, é essencial para garantir o sucesso dessa jornada. Uma sociedade igualitária assegura que os benefícios da transição, como energia mais barata e um ambiente mais saudável, sejam compartilhados de forma justa. A liberdade econômica incentiva a inovação e a competitividade no setor energético, enquanto a conscientização coletiva destaca o papel de cada indivíduo na promoção de práticas sustentáveis.
Qual é o papel de cada cidadão nessa transição? Estamos dispostos a repensar hábitos e exigir mudanças estruturais para garantir um planeta habitável para as próximas gerações? Exemplos de ações práticas incluem reduzir o consumo de energia em casa, optar por meios de transporte mais sustentáveis, como bicicletas ou transporte público, apoiar políticas públicas que incentivem o uso de energias renováveis, e promover a educação e conscientização ambiental, incentivando uma participação mais ativa da sociedade no processo de transição energética. O exemplo do Projeto Rio de Energia Verde mostra como esforços coordenados entre governo, setor privado e sociedade podem gerar impactos significativos. No entanto, essa transformação exige que todos os atores assumam suas responsabilidades, desde a formulação de políticas públicas até a adoção de hábitos sustentáveis no cotidiano.
A quarta transição energética é uma oportunidade única de corrigir os desequilíbrios históricos causados pelos modelos anteriores de desenvolvimento. Mais do que um desafio técnico, trata-se de um projeto global de transformação social e econômica. A liderança demonstrada pela Cidade do Rio de Janeiro, com sua abordagem pioneira e resultados concretos, exemplifica como cidades podem ser protagonistas dessa mudança.
Nossa reflexão
Estamos preparados para transformar essa oportunidade em realidade? Construir um futuro sustentável depende da ação coletiva e do compromisso de governos, empresas e indivíduos. Cada um pode contribuir adotando práticas como o uso de energias renováveis em casa, a redução do consumo de energia, o investimento em tecnologias sustentáveis, como painéis solares residenciais e sistemas de aquecimento solar, e o apoio a políticas públicas que promovam a transição energética.
Essa transição não apenas redefinirá a maneira como consumimos energia, mas também moldará um novo paradigma de desenvolvimento humano, baseado em justiça, sustentabilidade e colaboração. A responsabilidade de garantir um legado positivo para as próximas gerações recai sobre todos nós, e as escolhas feitas hoje definirão o mundo que deixaremos para o futuro.
Gostou do texto, gestor? Já conhecia as iniciativas em transição energética do Rio de Janeiro? Faça um comentário abaixo com a sua opinião!
*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.
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