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A Quarta Transição Energética e a Sociedade

Publicado em: 09.12.24
Escrito por: Willians Cesar Rocha Gaspar Tempo de leitura: 14 min Temas: Desenvolvimento Verde
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Desde a transição do uso da madeira para o carvão durante a Revolução Industrial até a adoção do petróleo no século XX, a história da humanidade é marcada por mudanças nas fontes de energia que impulsionaram o progresso social e econômico. Cada etapa trouxe avanços significativos, mas também desafios que precisaram ser superados. Atualmente, estamos no início da quarta transição energética, uma fase que busca equilibrar crescimento econômico, sustentabilidade ambiental e justiça social. Diferentemente das transições anteriores, esta nova fase não visa apenas garantir energia, mas assegurar que seja limpa, acessível e equitativa.

Como transformar essa necessidade em ações concretas e acessíveis? O que cada um de nós pode fazer para contribuir com essa mudança global?

Este artigo examina como políticas públicas inovadoras, como o Programa de Eficiência, Transição e Governança Energética da Prefeitura do Rio de Janeiro, podem liderar esse processo e criar mudanças estruturais que beneficiem as gerações presentes e futuras, além de abordar os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) impactados por essa iniciativa.

Princípios Básicos da Geração de Energia

Para entender a importância e os desafios da transição energética, é essencial conhecer as diferentes formas de geração de energia e como elas impactam nosso dia a dia. Cada tipo de geração possui características únicas que influenciam diretamente a sustentabilidade e a disponibilidade de energia, aspectos fundamentais para o futuro da sociedade. Essas características impactam diretamente a vida cotidiana dos cidadãos, determinando a segurança no fornecimento de energia, o custo da eletricidade e a qualidade do meio ambiente em que vivem. A energia pode ser gerada de diversas formas, utilizando diferentes recursos naturais e tecnologias:

Fontes de Energia Descrição Prós (Impactos Positivos) Contras (Impactos Negativos)
1 Hidráulica Aproveita a energia potencial da água armazenada em reservatórios, convertendo-a em energia cinética e, em seguida, em eletricidade através de turbinas e geradores. Fonte renovável, confiável, com baixa emissão de gases de efeito estufa. Oferece alta capacidade de despacho (reservatórios armazenam energia). Impacto ambiental significativo na construção de reservatórios, deslocamento de comunidades locais. Dependente da disponibilidade hídrica em períodos de seca.
2 Fotovoltaica Gerada pela conversão direta da luz solar em eletricidade, utilizando células fotovoltaicas feitas de materiais semicondutores, como o silício. Renovável, sem emissões durante a operação, ideal para pequenos e grandes projetos. Alta intermitência (funciona apenas com luz solar), sem capacidade de despacho noturno sem armazenamento em baterias.
3 Eólica Obtida a partir da energia cinética dos ventos, que movimentam pás conectadas a um gerador, transformando o movimento em eletricidade. Renovável, baixa emissão, ocupa pouco espaço no solo, pode ser combinada com outras fontes. Alta intermitência (depende da constância e intensidade dos ventos), limitada capacidade de despacho.
4 Térmicas (GN/Diesel/ Carvão/Outros Combustíveis) Usinas termelétricas utilizam gás natural, diesel, carvão, etanol e hidrogênio para aquecer água e produzir vapor. Etanol e hidrogênio são opções mais sustentáveis. Alta capacidade de geração contínua e confiável (não intermitente), ideal para demandas de base ou picos. Emissão de poluentes, alta dependência de combustíveis fósseis, eficiência relativamente baixa em algumas fontes.
5 Nuclear Gerada pela fissão de átomos de urânio, que libera calor utilizado para gerar vapor, movimentando turbinas para produzir eletricidade. Alta densidade energética, baixa emissão de CO2eq, confiável para suprir demandas base com geração contínua e sem intermitência. Risco de acidentes nucleares, descarte de resíduos radioativos, custo elevado para construção e manutenção.
5.1 Nuclear (Fusão Atômica – Futuro) Futuras tecnologias de fusão nuclear prometem energia abundante ao fundir núcleos leves, liberando grandes quantidades de energia sem resíduos radioativos de longa duração. Potencial de ser uma fonte praticamente inesgotável, sem emissões de CO2eq, resíduos mínimos, segura em comparação à fissão. Poderá ser contínua e despachável. Tecnologia ainda em estágio experimental, altos custos de desenvolvimento, desafios na contenção do plasma.
6 Biomassa e Biocombustíveis Biomassa (resíduos agrícolas e florestais) e biocombustíveis (etanol, biodiesel) são utilizados para produzir calor e eletricidade. São renováveis e versáteis. Renovável, reduz resíduos, gera empregos locais, pode ser usada em pequena e grande escala. Pode ter despacho planejado. Emissão de CO2 (menor que combustíveis fósseis), competição com a produção de alimentos, eficiência variável.
7 Hidrogênio Verde (H2V) Obtido pela eletrólise da água usando fontes renováveis. Pode ser armazenado e utilizado para gerar energia em células a combustível ou geradores, com emissão de água (H2O). Alta versatilidade, sem emissões durante o uso, possibilidade de armazenamento e despacho sob demanda. Alto custo de produção, eficiência energética baixa na conversão, infraestrutura ainda em desenvolvimento.

Essas diferentes formas de geração possuem características específicas, vantagens, desvantagens, desafios, e são peças fundamentais no mosaico da transição energética rumo a um futuro sustentável.

Os Desafios na Geração e Transmissão de Energia

A geração de energia e sua transmissão enfrentam desafios significativos, especialmente quando se trata de atender a longas distâncias. A infraestrutura de transmissão, muitas vezes, não é suficiente para transportar a energia gerada em locais remotos até os grandes centros consumidores, resultando em perdas de eficiência e custos elevados. Neste contexto, o hidrogênio verde surge como uma solução promissora. A produção de hidrogênio verde em localidades no Brasil, como as regiões Nordeste e Sul, que possuem excelentes condições climáticas para geração de energia solar devido à alta incidência de radiação solar, e para geração de energia eólica devido aos ventos constantes e fortes, permite converter essa energia em um combustível facilmente transportável. O hidrogênio pode ser armazenado em tanques e transportado por navios para qualquer lugar do mundo, superando as limitações da transmissão elétrica tradicional e oferecendo uma alternativa viável para a distribuição de energia limpa em escala global.

Desafios e Soluções no Contexto da Transição Energética

O caminho para uma matriz energética sustentável é desafiador, mas essencial. No âmbito tecnológico, a intermitência das fontes renováveis, como solar e eólica, exige soluções inovadoras. Nesse cenário, destacam-se as micro redes de energia com armazenamento em baterias, atualmente baseadas em íons de lítio, que oferecem maior estabilidade e confiabilidade no fornecimento de energia. Essas micro redes permitem o uso eficiente de energia renovável ao armazenar excedentes gerados em horários de alta produção, garantindo sua disponibilidade em períodos de baixa geração.

Adicionalmente, a eletrólise da água, alimentada por fontes renováveis, é uma alternativa estratégica para a produção de hidrogênio verde. Esse processo converte a energia excedente em combustível utilizável, permitindo seu armazenamento e posterior reconversão em eletricidade ou calor. Assim, o hidrogênio verde desempenha um papel crucial na superação dos desafios da intermitência, garantindo uma fonte contínua de energia mesmo quando o sol não está brilhando ou os ventos não estão soprando.

No aspecto econômico, é fundamental garantir que os custos da transição sejam distribuídos de forma justa, protegendo as populações mais vulneráveis. Socialmente, a democratização do acesso à energia limpa deve ser uma prioridade, acompanhada da criação de empregos qualificados nos setores emergentes. Ambientalmente, é necessário mitigar os impactos ecológicos associados à expansão de infraestruturas energéticas.

Mas como podemos enfrentar esses desafios de forma eficaz? Estamos dispostos a reimaginar nossos sistemas econômicos e sociais para priorizar a sustentabilidade? Mais importante ainda, como podemos transformar esses desafios em oportunidades para uma sociedade mais justa e resiliente?

O Programa de Eficiência Energética do Rio: Uma Política Pública Transformadora

O Programa de Eficiência, Transição e Governança Energética da Prefeitura do Rio de Janeiro, concretizado através do Projeto Rio de Energia Verde, é uma política pública inovadora e pioneira que visa transformar o modelo energético do município. Reconhecido como a primeira iniciativa da América Latina a adotar energia 100% renovável para o abastecimento de órgãos públicos por meio do Ambiente de Contratação Livre, o projeto não apenas contribui para a redução das emissões de gases de efeito estufa, mas também melhora diretamente a qualidade de vida dos cidadãos, ao liberar recursos financeiros que são reinvestidos em serviços essenciais, como saúde, educação e infraestrutura urbana.

O Projeto Rio de Energia Verde se destaca por sua governança energética municipal eficaz, com mecanismos bem estruturados que incluem parcerias estratégicas com o setor privado, como a colaboração com empresas de energia renovável para fornecimento de tecnologia e expertise, marcos regulatórios que garantem a segurança jurídica necessária para a implementação de iniciativas renováveis, além de incentivos financeiros, como linhas de crédito subsidiadas, que estimulam a adesão ao programa por outros órgãos e municípios. Ao reduzir custos em quase 50%, evitar a emissão de mais de 80 mil toneladas de CO₂ e gerar economias significativas que são redirecionadas para áreas fundamentais, como saúde e educação, o projeto demonstra como políticas locais bem planejadas podem promover eficiência econômica e sustentabilidade ambiental. Além disso, o Rio de Energia Verde serve de inspiração para outras cidades, reforçando a ideia de replicabilidade e liderança no avanço para uma matriz energética mais sustentável. Imagine viver em uma cidade onde os recursos economizados com energia são investidos diretamente em melhorias para a população. Como seria se mais cidades adotassem um modelo tão transformador?

O Impacto nos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)

O Projeto Rio de Energia Verde está diretamente alinhado com diversos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) das Nações Unidas, atuando como um exemplo concreto de como políticas públicas podem contribuir para o cumprimento dessas metas globais. Entre os ODS impactados pelo projeto, destacam-se:

  • ODS 3: Saúde e Bem-Estar – Ao redirecionar os recursos economizados para serviços de saúde, o projeto também contribui para melhorar a qualidade de vida e o bem-estar da população.
  • ODS 7: Energia Acessível e Limpa – O projeto promove o acesso à energia limpa, segura e sustentável para os órgãos públicos da cidade, contribuindo para a meta de aumentar a participação de energias renováveis na matriz energética.
  • ODS 11: Cidades e Comunidades Sustentáveis – A adoção de energia 100% renovável torna o Rio de Janeiro uma cidade mais sustentável, reduzindo a poluição e promovendo uma infraestrutura urbana resiliente.
  • ODS 13: Ação contra a Mudança Global do Clima – A significativa redução nas emissões de CO₂ contribui diretamente para a mitigação das mudanças climáticas, demonstrando o comprometimento da cidade com ações concretas em prol do clima.

Esses impactos demonstram que o Projeto Rio de Energia Verde vai além de ser uma simples política energética; ele é um componente fundamental para alcançar um desenvolvimento urbano mais sustentável e equitativo, promovendo benefícios ambientais, sociais e econômicos.

BioGera Rio – Transformando o lixo em energia para um futuro mais verde!

Além do Projeto Rio de Energia Verde, a cidade do Rio de Janeiro está implementando outras políticas públicas inovadoras voltadas para a transição energética. Um exemplo promissor é o Projeto BioGera Rio, atualmente em fase de desenvolvimento. Este projeto visa transformar o centro de triagem de resíduos do Caju em uma unidade piloto de geração de energia sustentável, utilizando resíduos sólidos e biomassa como fontes primárias. O Projeto será a próxima etapa no programa de governança energética, fortalecendo ainda mais a posição da cidade como líder na transição para uma matriz energética mais limpa e resiliente. O aproveitamento dos resíduos como fonte de energia não apenas contribuirá para a sustentabilidade ambiental, mas também trará benefícios econômicos e sociais, criando novas oportunidades e promovendo uma economia circular, que poderá ser totalmente replicável em outras cidades, alinhada com o ODS 8 – Trabalho Decente e Crescimento Econômico, ao fomentar a criação de empregos qualificados e impulsionar o desenvolvimento de tecnologias sustentáveis, promovendo uma economia verde e inclusiva.

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Construindo uma Sociedade Igualitária e Consciente

Mais do que uma mudança tecnológica, a transição energética representa uma oportunidade de transformação social, capaz de reduzir desigualdades ao garantir acesso equitativo à energia limpa e de gerar novas oportunidades econômicas, como a criação de empregos verdes e o desenvolvimento de novas indústrias voltadas para tecnologias sustentáveis. A construção de uma sociedade igualitária, com liberdade econômica e consciência coletiva, é essencial para garantir o sucesso dessa jornada. Uma sociedade igualitária assegura que os benefícios da transição, como energia mais barata e um ambiente mais saudável, sejam compartilhados de forma justa. A liberdade econômica incentiva a inovação e a competitividade no setor energético, enquanto a conscientização coletiva destaca o papel de cada indivíduo na promoção de práticas sustentáveis.

Qual é o papel de cada cidadão nessa transição? Estamos dispostos a repensar hábitos e exigir mudanças estruturais para garantir um planeta habitável para as próximas gerações? Exemplos de ações práticas incluem reduzir o consumo de energia em casa, optar por meios de transporte mais sustentáveis, como bicicletas ou transporte público, apoiar políticas públicas que incentivem o uso de energias renováveis, e promover a educação e conscientização ambiental, incentivando uma participação mais ativa da sociedade no processo de transição energética. O exemplo do Projeto Rio de Energia Verde mostra como esforços coordenados entre governo, setor privado e sociedade podem gerar impactos significativos. No entanto, essa transformação exige que todos os atores assumam suas responsabilidades, desde a formulação de políticas públicas até a adoção de hábitos sustentáveis no cotidiano.

A quarta transição energética é uma oportunidade única de corrigir os desequilíbrios históricos causados pelos modelos anteriores de desenvolvimento. Mais do que um desafio técnico, trata-se de um projeto global de transformação social e econômica. A liderança demonstrada pela Cidade do Rio de Janeiro, com sua abordagem pioneira e resultados concretos, exemplifica como cidades podem ser protagonistas dessa mudança.

Nossa reflexão

Estamos preparados para transformar essa oportunidade em realidade? Construir um futuro sustentável depende da ação coletiva e do compromisso de governos, empresas e indivíduos. Cada um pode contribuir adotando práticas como o uso de energias renováveis em casa, a redução do consumo de energia, o investimento em tecnologias sustentáveis, como painéis solares residenciais e sistemas de aquecimento solar, e o apoio a políticas públicas que promovam a transição energética.

Essa transição não apenas redefinirá a maneira como consumimos energia, mas também moldará um novo paradigma de desenvolvimento humano, baseado em justiça, sustentabilidade e colaboração. A responsabilidade de garantir um legado positivo para as próximas gerações recai sobre todos nós, e as escolhas feitas hoje definirão o mundo que deixaremos para o futuro.

 

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*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.

Artigo escrito por: Willians Cesar Rocha Gaspar
Gerente de Projetos
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