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O G20 no Brasil: Oportunidades e Desafios para a Liderança da Transformação Global 

Publicado em: 20.03.24 Escrito por: Redação Tempo de leitura: 8 min
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O Brasil assume a presidência do G20 pela primeira vez em 2024, tendo o Rio de Janeiro como o ponto de encontro dos líderes das 20 maiores economias do mundo em novembro. O Grupo dos Vinte (G20) é o principal fórum para a cooperação econômica internacional, composto pelas 19 maiores economias do mundo, pela União Europeia e pela União Africana, desde 2023. Representam cerca de 85% do PIB global, mais de 75% do comércio global e cerca de dois terços da população mundial. 

Por não possuir uma estrutura institucionalizada, a presidência do grupo alterna entre seus países-membros por meio de diferentes regiões e a agenda de discussões é definida pela presidência do momento. Ao longo de um ano inteiro, portanto, a presidência brasileira é o maestro da orquestra de reuniões do G20, dando o tom à uma série de discussões temáticas que cobrem as principais questões relacionadas ao desenvolvimento socioeconômico mundial, desde comércio e finanças, até infraestrutura, saúde e educação.

Serão mais de 100 eventos oficiais em 17 cidades ao longo do ano, com a participação esperada de mais de 20.000 delegados a partir de dezembro de 2023 até novembro de 2024. Estes eventos não só atrairão a atenção global, mas também estimularão o intercâmbio intelectual e cultural, oferecendo ao Brasil uma plataforma única para melhorar as relações bilaterais e obter ganhos com compromissos multilaterais. 

O G20 também representa um hub de stakeholders de diversos setores, proporcionando às entidades brasileiras oportunidades para estabelecer novas parcerias e fortalecer as existentes. Esta interação é vital para promover o desenvolvimento econômico e enfrentar desafios globais como as alterações climáticas e a desigualdade. 

No entanto, alguns desafios geopolíticos transpassam este processo. Os conflitos entre Rússia e Ucrânia e Israel-Palestina devem seguir provocando fissuras profundas entre os posicionamentos dos países. Na edição indiana do G20 em 2023, a dificuldade em estabelecer a abordagem sobre o conflito ucraniano na declaração de cúpula sinalizava que o G20 estava dividido. Ainda, o G20 no Brasil será durante um super ano de eleições ao redor do globo, contando com mais de 40 eleições nacionais ou transnacionais, em países que concentram mais de 40% da população mundial. Ou seja, os chefes de Estado que participarão da Cúpula em novembro podem ter alinhamentos ideológicos totalmente diferentes daqueles que negociaram ao longo de todo ano a agenda final. 

Por fim, a crise climática se faz mais presente do que nunca num contexto em que ainda falta direcionamento contundente de investimentos e coordenação política para tecnologias e medidas de mitigação e adaptação do clima.

Prioridades do Brasil

Neste cenário, as prioridades da presidência brasileira buscam consensos de perspectivas e orientações políticas de questões menos sensíveis, porém estratégicas para o país e ainda relevantes para os demais integrantes do grupo. Sobretudo aos países do chamado Sul Global, aproveitando a vigência da Troika atual formada por Índia, Brasil e África do Sul para avançar com debates latentes para países em desenvolvimento. O Brasil definiu então como suas prioridades

  1. O combate à pobreza e à fome
  2. A mobilização para o desenvolvimento sustentável e a proteção do clima; 
  3. E, a reforma das instituições de governança global.

Combate à pobreza e à fome

No que condiz à primeira prioridade, o Brasil está muito bem posicionado para liderar a pauta e mobilizar maior esforço global. A partir de boas experiências com programas como o Bolsa Família e o Fome Zero, o país tradicionalmente coopera com países do Sul Global e é referência no mundo para a erradicação da fome. Para ampliar a cooperação internacional em um tópico considerado de fácil consenso, a presidência brasileira propôs a Força-tarefa para Aliança Global contra a Fome e a Pobreza, que tem o objetivo de 

[…] angariar recursos e conhecimentos para a implementação de políticas públicas e tecnologias sociais comprovadamente eficazes para a redução da fome e da pobreza no mundo.

Mobilização para o desenvolvimento sustentável e a proteção do clima

Igualmente bem posicionado está o Brasil para liderar as discussões acerca da segunda linha prioritária da presidência, assim como garantir benefícios das negociações. Mediante a sua vocação natural e posicionamento político relevante dentro da pauta ambiental e climática, o país aproveitará o momento para reforçar a necessidade de um maior financiamento para os países que têm grande potencial de alavancar a transição ecológica-econômica global, mas que não possuem dinheiro suficiente para tal. 

Entenda mais sobre financiamento climático aqui!

No entanto, algumas controvérsias podem frear o ímpeto da liderança brasileira, por exemplo, ainda há uma possibilidade de exploração petrolífera na Foz do Rio Amazonas e a não resolução da situação de crise humanitária indígena. Por outro lado, por ser um fórum mais flexível, o Brasil está dedicado ao avanço de outras pautas, como a sustentabilidade oceânica, a adaptação preventiva e emergencial, e a economia circular. A bioeconomia também é um tema caro ao país, que lança a Iniciativa Global de Bioeconomia para ampliar o pagamento por serviços ambientais e apoio a programas e projetos de valorização da natureza.

Reforma das instituições de governança global

Por fim, a terceira prioridade da presidência brasileira é a que se apresenta como mais espinhosa e de difícil avanço dentro do fórum. Devido ao momento de retração do multilateralismo e ascensão do nacionalismo, com a erupção de conflitos que promovem tensão mundial, a ampliação da governança global e reforma das instituições multilaterais têm sido ofuscadas e enfraquecidas. 

O Brasil como um país altamente diplomático e visto como um pêndulo da balança muitas vezes, tendo atuado na mediação de conflitos no passado, vem adotando posicionamentos que dividem os analistas internacionais. Tradicionalmente, ao mesmo tempo que se identifica como um país do Sul Global, através da sua vocação diplomática, o Brasil conseguiu promover um amplo diálogo com as chamadas superpotências, como Estados Unidos e China. Porém, agora tem se posicionado de maneira mais contundente, questionando a ordem global criada por estes países. 

O que para alguns representa “um tiro no próprio pé” pois provoca um distanciamento delas e dificulta uma reforma global, enquanto para outros aparece como uma oportunidade de despontar como um líder regional e do Sul Global, fortalecendo uma pressão sobre a necessidade de transformar a ordem vigente.

Diferenciais desta edição

Para além dos desafios e oportunidades do G20 no Brasil, o maior diferencial desta edição é, sem dúvida, a promoção da ampla participação que a presidência tem estimulado. Além dos já existentes Grupos de Engajamento que surgiram ao longo do tempo na dinâmica do G20, em que a sociedade civil se organiza por temas de interesse para participar e influenciar as decisões finais, tanto o Governo Federal como o Rio de Janeiro têm estimulado a participação e contribuição da sociedade civil no processo. A Prefeitura do Rio estabeleceu o Comitê Rio G20 não só para apoiar a presidência na organização das reuniões oficiais, mas para promover iniciativas existentes e inovadoras que tratem dos temas do G20 ao mesmo tempo que endereçam questões locais, por exemplo, através de eventos paralelos que vão desde iniciativas culturais e comunitárias até discussões internacionais.

O Brasil, então, seja como país, cidades e população brasileira, está numa posição única de liderar discussões globais críticas, forjar novas parcerias e mostrar os seus pontos fortes. O G20 não consiste somente na sua cúpula principal, mas num fórum que promove discussões e articulações ao longo de um ano inteiro entre diversos setores da sociedade. 

A Cúpula no Rio será mais do que um evento de grande visibilidade das ações locais e nacionais, mas uma plataforma para garantir que vozes muitas vezes silenciadas de grandes processos globais sejam ouvidas e uma oportunidade em reforçar o papel do Brasil como um catalisador da cooperação internacional no mundo.

 

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Texto escrito por Ana Carolina Abreu. Internacionalista e Mestranda em Análise e Gestão de Políticas Internacionais pela PUC-Rio. Membro do Comitê Organizador Rio G20 da Prefeitura do Rio de Janeiro.

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