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Ao mesmo tempo em que as tecnologias avançam e nos permitem produzir mais e mais alimentos, dados da Organização das Nações Unidas (ONU) mostram que cerca de 828 milhões de pessoas passaram fome no mundo em 2021 e 3 bilhões não tiveram acesso a uma dieta saudável, o que compromete seu desenvolvimento físico e intelectual. Esta é uma contradição que precisa ser discutida em suas muitas variáveis para que possamos realmente encontrar soluções.
Para agravar o cenário, o Instituto Fome Zero aponta que a insegurança alimentar deve crescer na esteira da crise climática global e, consequentemente, da perspectiva de perda de áreas cultiváveis e de diminuição da diversidade agrícola no mundo.
O segundo Objetivo de Desenvolvimento Sustentável (ODS) para a Agenda 2030, pauta da ONU, prevê justamente acabar com a fome e promover a agricultura sustentável. É um esforço internacional que demanda repensarmos as formas de produção e distribuição de alimentos e é atravessado por temas sensíveis como ocupação de terras cultiváveis, circulação local de mercadorias, agricultura sustentável, entre outros.
O combate à fome é assunto que pede o envolvimento de toda a sociedade através de parcerias público-privadas, ações de voluntariado, campanhas de doação de alimentos, cozinhas populares, incentivo a produtores regionais, entre tantas outras possibilidades.
Entretanto, resultados mais robustos são alcançados quando o tema está no centro das políticas públicas de todas as esferas governamentais. Prefeituras e governos estaduais precisam se comprometer, por exemplo, a fornecer dados atualizados para o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) e a utilizar corretamente os recursos recebidos, envolvendo nutricionistas na elaboração de cardápios que respeitem as necessidades nutricionais, os hábitos e a cultura alimentar da localidade e investindo o mínimo de 30% dos recursos na compra direta de produtos da agricultura familiar.
Mais do que nunca, é preciso valorizar e apoiar novos modelos. Pequenas ideias que impactam positivamente comunidades e territórios podem se tornar referência para grandes mudanças.
Escola de Comer
O Programa Escola de Comer – denominado como tal em 2017 – é uma iniciativa da Prefeitura de Paraty (RJ) em parceria com a Comunitas, o Pólo Gastronômico e agricultores da cidade, é um exemplo do que pode ser alcançado através da governança compartilhada em prol de uma causa. Além de agricultores, reúne também voluntários, professores, merendeiras, nutricionistas, pescadores, entre outros, em um grande esforço para garantir merenda de qualidade para os alunos da rede pública e fomentar a produção de alimentos de Paraty.
A partir de uma pesquisa que revelou a falta de estrutura e equipamentos nas cozinhas das escolas e a escassez de opções saudáveis na oferta de alimentos, o Pólo Gastronômico, uma associação de empresários da cidade, apresentou à Secretaria Municipal de Educação uma proposta de requalificação da merenda escolar.
O documento levava em conta, além da valorização de produtos locais, a importância da variedade nutricional na alimentação escolar para o desenvolvimento global dos alunos como indivíduos e sabendo que, muitas vezes, esta é a refeição mais completa do dia para muitas crianças e jovens.
Impactos positivos
Iniciado em 2015, o projeto alcança hoje 32 das 36 escolas da rede pública, atende mais de seis mil alunos e qualifica cerca de 50 merendeiras da rede municipal com treinamento e apoio para a montagem de cardápios saudáveis, através da ajuda de chefes de cozinha voluntários.
Seguindo a pauta do Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE), a Escola de Comer investe na valorização da cultura gastronômica da região e na compra direta de produtos da agricultura local, como pescados e produção orgânica familiar, medidas que estimulam o desenvolvimento econômico e sustentável das comunidades.
Gostou da iniciativa? Saiba mais sobre a Escola de Comer na página de boas práticas aqui.
Conquistas e resultados
O programa Escola de Comer obteve resultados importantes, desde a melhoria da infraestrutura das cozinhas escolares através da aquisição de novos equipamentos como bebedouros, geladeiras, fogões e utensílios, até uma parceria com o SEBRAE para a capacitação das merendeiras e uma troca de experiências como o município paraense de Paragominas.
O impacto mais importante da melhoria na qualidade da merenda foi justamente na taxa de rendimento acadêmico, que apresentou aumento já no primeiro ano do programa. Também houve queda nos índices de abandono e reprovação, o que mostra o alcance multidimensional da boa nutrição para a população em idade escolar.
Atualmente, a Escola de Comer é base de um Projeto de Lei, que deve ser votado pela Câmara Municipal de Paraty em 2024. O texto reconhece que a iniciativa amplia a qualidade da merenda, através da reformulação dos cardápios, que incluiu cerca de 15 novos pratos. Ainda, incide diretamente sobre o ensino e o aproveitamento dos estudantes e fortalece as atividades internas do município, na medida em que privilegia os alimentos produzidos e fornecidos pelos agricultores locais.
E você, conhece alguma iniciativa no combate à fome no Brasil ou no mundo? Deixa nos comentários, queremos saber! Ah, e, veja também a cartilha completa com os dados de implementação do projeto Escola de Comer.
IFZ | Instituto Fome Zero | ODS 2 – Fome Zero e Agricultura Sustentável – Ipea – Objetivos do Desenvolvimento Sustentável | Sustainable Development Goal 2: Fome zero e agricultura sustentável | As Nações Unidas no Brasil | PNAE – home — Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (www.gov.br) | Escola de Comer em Paraty – Home
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Excelente o projeto da prefeitura de Paraty.