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A COP-29 teve início hoje em Baku, Azerbaijão, e promete ser um marco no debate climático global. Até o dia 22 de novembro, líderes de várias nações estarão reunidos no maior fórum climático do mundo, com foco em um tema crucial: o financiamento climático. Esse é um pilar essencial para garantir uma transição energética justa e eficiente, especialmente para os países em desenvolvimento. A plataforma Rede Juntos está na COP-29 e trará para você, diariamente, os principais destaques do dia. Vamos começar?
Dia 11.11.2024
Na abertura, o presidente da COP-29, Mukhtar Babayev, Ministro da Ecologia e Recursos Naturais do Azerbaijão, trouxe uma mensagem clara e urgente: “As pessoas estão sofrendo nas sombras. Elas estão morrendo no escuro. Elas precisam de mais do que compaixão, mais do que burocracia, e estão clamando por liderança e ação.” O tom foi ecoado pelo diretor executivo da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre a Mudança do Clima, Simon Stigell, que reforçou: “Não podemos continuar a permitir a destruição de vidas e meios de subsistência em todas as nações.”
O Daily Show da COP-29, uma iniciativa inédita desta edição, contará com convidados ilustres diariamente e apresentará insights importantes. No primeiro episódio transmitido hoje (11/11), Tony Blair, ex-Primeiro Ministro do Reino Unido, destacou que suas expectativas estão voltadas para o aceleramento das soluções financeiras e tecnológicas capazes de apoiar o crescimento sustentável dos países em desenvolvimento, sem aumentar as emissões globais. Blair enfatizou que, sem fluxos financeiros adequados para essas nações, elas continuarão a depender de combustíveis fósseis como principal fonte de energia.
Outro tema central da COP-29 é a regulamentação dos mercados globais de créditos de carbono, uma ferramenta importante para canalizar recursos para países em desenvolvimento. A ideia é que as nações com maiores emissões compensem financeiramente aqueles que mantêm emissões baixas, permitindo um desenvolvimento mais sustentável. Blair sublinhou a importância desse mecanismo: “A menos que encontremos maneiras de enviar o dinheiro para os países em desenvolvimento, será difícil avançar no debate sobre mudanças climáticas.”
Atualmente, a falta de regulamentação global dos mercados de carbono gera desafios de transparência e credibilidade. Para resolver isso, a ONU lançou um conjunto de normas que estabelece padrões para as transações de créditos de carbono, criando um caminho para uma operação mais segura e transparente. Hoje, os 193 Estados-membros da Organização das Nações Unidas (ONU) deram um passo importante ao ratificar essas normas, marcando o início de uma nova fase para o mercado de carbono global.
Ao longo das próximas semanas, novas medidas de regulamentação serão negociadas para fortalecer ainda mais o processo e garantir a transparência no financiamento climático. A COP-29 não é apenas um evento: é um chamado global para ações reais e concretas que promovam um futuro mais sustentável e justo para todos.
Dia 12.11.2024
Mesmo sem a presença de algumas das maiores lideranças globais, como os presidentes do Brasil, dos Estados Unidos e da China, o segundo dia de COP-29 avançou com resultados significativos e decisões impactantes. Os holofotes de hoje no evento recaíram sobre o Fundo de Perdas e Danos e uma ambiciosa agenda de transição energética, liderada pelo Azerbaijão em parceria com a Agência Internacional de Energia (AIE).
Após dois anos de intensas negociações, o Fundo de Perdas e Danos, uma iniciativa para apoiar países vulneráveis às mudanças climáticas, finalmente entrou em operação. A cerimônia de abertura do fundo, realizada em Baku, foi marcada por uma importante contribuição da Suécia, que se comprometeu com um investimento inicial de 19 milhão de dólares — valor ainda sujeito à aprovação pelo parlamento sueco. Ibrahima Cheikh Diong, Diretor Executivo do Fundo, destacou que essa contribuição é um exemplo poderoso de solidariedade global e reforçou a importância de manter o impulso para que o fundo continue crescendo e beneficiando os países que mais precisam.
Na agenda de transição energética, o presidente da COP-29, Mukhtar Babayev, em conjunto com a AIE, apresentou cinco diretrizes essenciais para acelerar a transição rumo a uma economia de baixo carbono:
- Expansão do Armazenamento de Energia e Redes Elétricas
A meta é triplicar a capacidade de energia renovável até o final da década. Esse aumento não apenas fortalece a rede, mas também assegura que os benefícios da energia limpa alcancem mais regiões e populações. - Eficiência Energética
Políticas de eficiência energética deverão ser implementadas em todos os países até 2030. A AIE destaca que esse é um passo essencial para reduzir o consumo de energia e otimizar os recursos já disponíveis. - Redução de Emissões de Metano e Combustíveis Fósseis
Com foco em reduzir as emissões de gases de efeito estufa, especialmente metano, a COP29 está incentivando um compromisso global com o fim do uso de combustíveis fósseis em prol de alternativas mais limpas. - Investimento em Soluções de Energia Limpa para Países em Desenvolvimento
A transição energética precisa ser inclusiva. Por isso, foi reforçada a necessidade de apoiar financeiramente os países em desenvolvimento na implementação de soluções de energia limpa, garantindo uma transição justa e acessível. - Revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs)
A meta é que os países revisem suas NDCs para garantir o cumprimento dos objetivos climáticos em 2030 e 2035, reafirmando o compromisso com o Acordo de Paris.
Ainda sobre a revisão das Contribuições Nacionalmente Determinadas, o vice-presidente brasileiro Geraldo Alckmin em seu discurso hoje, destacou a meta ambiciosa do Brasil de reduzir as emissões de carbono em 67% até 2035. Essa proposta mostra o papel de liderança que o Brasil busca assumir no combate às mudanças climáticas e a disposição do país em contribuir significativamente para um futuro mais sustentável.
A COP29 continua a revelar novas promessas e compromissos, mesmo diante das ausências de grandes potências. O evento reforça a importância de colaboração e solidariedade global para enfrentar os desafios climáticos e construir um caminho mais verde e resiliente para todos.
Dia 13.11.2024
No segundo e último dia de participação dos líderes mundiais seguiu com um ritmo intenso de negociações climáticas. Neste ano, o foco recai sobre o financiamento climático, essencial para acelerar a transição energética em escala global. Porém, apesar dos compromissos financeiros dos países desenvolvidos para apoiar as nações em desenvolvimento, um ponto ficou claro: esses recursos não serão suficientes para transformar a realidade atual. É fundamental que o setor privado também esteja comprometido e engajado para que uma mudança efetiva aconteça.
Além do financiamento, as ações de mitigação e adaptação continuam indispensáveis na luta contra as mudanças climáticas. Entre as principais iniciativas, destacam-se as Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs), os Planos Nacionais de Adaptação e estratégias de incentivo a baixas emissões de carbono no longo prazo. Estas são ferramentas que gestores públicos podem e devem implementar e monitorar em suas esferas, considerando o impacto direto e positivo para comunidades locais.
Ainda sobre a participação dos líderes mundiais na COP deste ano, uma reunião para demonstrar o apoio aos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento (SIDS) foi realizada. Esses países, que praticamente não contribuem para as emissões globais de carbono, são, paradoxalmente, os mais vulneráveis aos efeitos das mudanças climáticas, a exemplo da elevação do nível do mar. A portas fechadas, as lideranças globais reconheceram a necessidade de amplificar as vozes dessas nações e promover suporte financeiro para um futuro resiliente e sustentável. Como resultado, foi adotada a Declaração de Baku para Amplificação das Vozes dos Pequenos Estados Insulares em Desenvolvimento, um compromisso para fortalecer o apoio a esses países vulneráveis.
Para gestores públicos brasileiros, é importante observar como a cooperação internacional pode beneficiar as regiões mais vulneráveis, incluindo áreas costeiras no Brasil, que também enfrentam desafios semelhantes. A ampliação de políticas de adaptação pode ser inspirada por essas discussões internacionais e adaptada à realidade local.
Outro tema relevante em discussão foi a integração da saúde nos acordos climáticos. Em um encontro entre Mukhtar Babayev, presidente da COP-29, representantes da OMS, o Ministro de Estado da Saúde Espanhol e as presidências das COP26, COP28 e COP30, enfatizou-se a necessidade de formalizar o papel da saúde nas futuras COPs. Questões como o calor extremo e suas consequências para a saúde pública tornam-se cada vez mais urgentes. Também se discutiu sobre o progresso do apelo feito pelo Secretário-Geral da ONU, Antonio Gutérres, sobre as ações voltadas para o calor extremo. A iniciativa de sistemas de alerta precoce entitulada Pilares para Liderar os Alertas Precoces para Todos, que visa proteger as populações de eventos climáticos extremos, deve estar totalmente implementada até 2027.
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Por fim, as presidências da COP-28, COP-29 e COP-30 se reuniram para traçar o Roadmap to Mission 1.5º (em tradução livre, Roteiro para Missão 1.5º), que estabelece diretrizes para manter o aquecimento global abaixo de 1,5ºC. Dentre os temas, a implementação do Global Stocktake – uma análise periódica dos esforços climáticos globais – e o avanço das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) foram discutidos como prioridades. Essas medidas visam orientar ações estratégicas até 2025, com base nas experiências das COPs anteriores.
Dias 14.11.2024 e 15.11.2024
Nos dias 4 e 5 da COP, as discussões se intensificaram e tornaram-se mais desafiadoras, principalmente no que diz respeito ao financiamento climático. A meta de US$ 1 trilhão para o financiamento climático dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento continua sendo o grande objetivo, mas a distribuição desse valor ainda é um ponto de grande disputa.
Um dos temas centrais em Baku tem sido a cobrança sobre os países com economias que ainda se beneficiam do petróleo e de altos índices de crescimento. Eles têm sido criticados por não contribuírem de maneira proporcional para o financiamento das ações contra as mudanças climáticas como os países do Norte Global, o que tem dificultado o fechamento de acordos.
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Apesar das dificuldades nas negociações intergovernamentais, alternativas estão sendo discutidas para potencializar o financiamento climático. Uma delas é a Plataforma Climática de Negócios, Investimentos e Filantropia (BIPCP), uma aliança de mais de 1.000 investidores e empresários que juntos somam mais de US$ 10 trilhões. Esses atores comprometeram-se a criar um plano de ação colaborativo para impulsionar investimentos no combate às mudanças climáticas, o que pode representar uma nova via de recursos para projetos locais e nacionais em países como o Brasil.
Além disso, discutiu-se o papel das corretoras de criptomoedas no financiamento climático, uma vez que o setor de criptos gerou emissões de carbono equivalentes a 0,33% das emissões globais em 2022. A ideia é que esse mercado também contribua para a mitigação das mudanças climáticas, seja por meio de impostos sobre transações ou taxação sobre ganhos de capital.
Outro ponto relevante da COP foi a criação do Baku Climate and Peace Action Hub, um centro dedicado a coordenar iniciativas que ligam questões de paz e clima. O laboratório será responsável por coordenar ações de recuperação da paz e alívio humanitário, especialmente nos países em desenvolvimento, que enfrentam desafios como escassez de água, insegurança alimentar e degradação do solo.
Finalmente, o quinto dia da COP trouxe boas notícias em relação à transição energética. As iniciativas incluem a implementação de 1.500 GW de armazenamento de energia até 2030 e a ampliação do uso de painéis solares em todo o mundo. Outra proposta importante foi o aumento da produção de hidrogênio verde, com a meta de atingir 1 milhão de toneladas anuais, além da criação de zonas e corredores de energia verde que conectem fontes abundantes de energia limpa com comunidades locais.
Na próxima semana, a Rede Juntos volta com a cobertura dos últimos dias da Conferência Mundial do Clima. Não percam!
Dia 16.11.2024, 17.11.2024 e 18.11.2024
As negociações da COP-29, que estão ocorrendo em Baku, têm avançado a passos lentos, com um cenário de incertezas e obstáculos. O principal ponto de tensão envolve o financiamento climático, cuja meta de um novo acordo ainda está em pausa. Esse impasse está diretamente ligado à presença de mais de 1.000 lobbistas do setor de petróleo, que chegaram à cúpula nesta semana e têm dificultado o andamento das discussões. Com reuniões paralelas envolvendo representantes do setor, o petróleo tem se colocado como um bloqueio nas conversas sobre soluções climáticas.
As autoridades climáticas agora aguardam a conclusão da Cúpula do G20 no Rio de Janeiro, marcada para a próxima quarta-feira. Espera-se que, com o encerramento das reuniões entre os líderes das 20 maiores economias do mundo — responsáveis por 80% do PIB global e pelas maiores emissões de carbono, como Estados Unidos e China — as negociações de financiamento climático sejam destravadas. Essa interseção entre as duas cúpulas é vista como um passo fundamental para avançar com o financiamento de ações climáticas em escala global.
Apesar dos desafios enfrentados nas negociações de financiamento climático, a COP-29 também trouxe progressos significativos em outras áreas, como a inclusão da tecnologia no combate às mudanças climáticas e no desenvolvimento social.
Tecnologia e Inovação para a Sustentabilidade
Neste final de semana, a COP-29 lançou uma iniciativa inédita que marca a colaboração entre o setor de tecnologia e as agendas climáticas globais. Em uma conferência que reuniu mais de 1.000 representantes do setor tech e 90 governos ao redor do mundo, foi anunciada a COP29 Green Digital Action Declaration (Declaração para Ação Digital Verde). A declaração enfatiza o uso de ferramentas tecnológicas, como a inteligência artificial, para modelar projetos climáticos mais eficazes e otimizar sistemas de energias renováveis. A ideia é utilizar a inovação digital para acelerar a transição para um mundo mais sustentável, alinhando a transformação tecnológica com as necessidades ambientais urgentes.
Desenvolvimento Social e Resiliência Climática
No dia dedicado ao desenvolvimento social, também foram feitos avanços importantes. Um dos marcos foi a adoção do Joint Statement on the Baku Initiative for Climate Resilience, um documento que visa reforçar a cooperação internacional no enfrentamento da crise climática, ao mesmo tempo em que promove o desenvolvimento social. O comunicado é fruto de um esforço conjunto entre agências da ONU, bancos de desenvolvimento e organismos multilaterais do clima.
Além disso, a COP-29 lançou os Baku Guiding Principles on Human Development for Climate Resilience (Princípios Orientadores de Desenvolvimento Humano para Resiliência Climática de Baku), um conjunto de estratégias que visa garantir o desenvolvimento social enquanto se constrói resiliência frente aos desafios climáticos. Esses princípios buscam criar uma abordagem integrada, que promova tanto a adaptação das comunidades às mudanças climáticas quanto a melhoria das condições sociais e econômicas globais.
A Caminho de uma Solução no Artigo 6 do Acordo de Paris
Outro avanço importante nas negociações foi o progresso nas discussões sobre o Artigo 6 do Acordo de Paris, que trata dos mecanismos de mercado e cooperação internacional para enfrentar a crise climática. Na última semana, as negociações sobre os subartigos 6.8 e 6.4 avançaram significativamente, com a expectativa de que, em breve, o Artigo 6 será totalmente operacionalizado, faltando apenas alguns detalhes das seções 6.2 e 6.4 para finalizar o processo.
Enquanto as negociações climáticas ainda enfrentam obstáculos, como a resistência do setor de petróleo e as dificuldades em alcançar um consenso sobre o financiamento climático, a COP-29 também tem sido um palco de inovações e avanços significativos. O papel crescente da tecnologia na construção de soluções sustentáveis e os progressos no desenvolvimento social e na resiliência climática são aspectos fundamentais que poderão ajudar a acelerar a ação global contra as mudanças climáticas.
Ainda há muito a ser feito, mas a cúpula de Baku mostra que, mesmo diante dos desafios, há sinais de que o mundo está caminhando para um futuro mais sustentável, com mais cooperação internacional e o engajamento de setores chave como a tecnologia e o desenvolvimento social.
Dia 19.11.2024
Expectativas criadas, expectativas atendidas. A aguardada recomendação dos líderes do G20, proposta pelos representantes e negociadores em Baku, finalmente foi incluída no documento final divulgado ontem à noite, após o encerramento do primeiro dia da Cúpula de Líderes das 20 maiores economias do mundo, realizada no Rio de Janeiro. Com uma menção à COP29, o texto orienta os países a colaborarem na busca por acordos mais eficazes no combate às mudanças climáticas. Além disso, o presidente Lula destacou, em seu discurso, a necessidade de tratar as questões da “agenda de Baku em Baku”, sem permitir que as metas da COP29 se arrastem até Belém.
Embora as negociações sobre a meta de 1 trilhão de dólares para o financiamento climático dos países em desenvolvimento ainda não tenham sido retomadas, o dia no Azerbaijão foi marcado pela adoção da Declaração para Redução do Metano Proveniente do Lixo Orgânico (Reducing Methane from Organic Waste Declaration). O objetivo, alinhado à meta de reduzir as emissões de metano em 30% até 2030, acordada na COP26, é que os 30 países signatários, incluindo o Brasil, se comprometam a adotar políticas e diretrizes para reduzir as emissões de metano do lixo orgânico, que representam 47% das emissões totais de metano, sendo o terceiro maior contribuidor, atrás apenas da agricultura e dos combustíveis fósseis.
Além disso, foi lançada a Baku Harmoniya Climate Initiative for Farmers, uma iniciativa destinada a transformar agricultores em agentes poderosos no combate às mudanças climáticas. O projeto contará com a criação de um portal organizado pela Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO) para identificar lacunas e oportunidades em futuras políticas de apoio, visando capacitar agricultores, comunidades rurais e vilarejos a implementar práticas sustentáveis e inovadoras na gestão agropecuária.
Dia 20.11.2024 e 21.11.2024
Em seus últimos dias, a COP29 atingiu seu ponto mais crítico nas negociações sobre a meta climática, com a tensão entre os países em busca de uma solução viável para combater as mudanças climáticas. Apesar do apoio reforçado pelos líderes do G20 na última terça-feira, as conversas continuam emperradas. Até o momento, foi compartilhada apenas uma versão preliminar do documento final, mas, até agora, ela não menciona o famoso “golden number” – um valor que, para que as negociações sejam bem-sucedidas, precisa estar na casa dos trilhões de dólares anuais.
Entre os impasses e desafios, a COP29 também tem sido palco de importantes avanços, com novas agendas e declarações voltadas para temas essenciais do combate às mudanças climáticas. Nos antepenúltimo e penúltimo dias do evento, temas como urbanismo, mobilidade, turismo e o acesso à água foram abordados, trazendo iniciativas promissoras.
Dentre as iniciativas divulgadas nas últimas horas, estava a criação de uma agenda de trabalho conjunto entre os 50 países signatários da Water for Climate Action (Água para Ação Climática). O objetivo dessa parceria é gerar mais evidências científicas sobre os impactos das mudanças climáticas nas bacias hidrográficas e recursos hídricos. O uso da água no contexto do clima tornou-se um tema crucial, dado que a escassez de água e os eventos climáticos extremos impactam diretamente a segurança hídrica mundial. Com a colaboração entre países, espera-se fortalecer a geração de dados que possam orientar políticas públicas mais eficazes e soluções inovadoras para enfrentar os desafios climáticos que afetam as fontes de água ao redor do mundo.
O diretor de projetos e relações governamentais da Comunitas, Thiago Milani, também está na Cúpula do Clima no Azerbaijão. Para isso, pedimos que ele nos contasse como foi a semana por lá, trazendo informações de bastidores do maior evento sobre clima do ano. Dá uma olhadinha!
Segundo o Thiago, o presidente da COP29, Mukhtar Babayev, tem destacado a necessidade de integrar biodiversidade e natureza como pilares centrais nas estratégias climáticas. A ênfase foi na urgência de alinhar ações globais para atingir um futuro positivo para a natureza e cumprir as metas do Acordo de Paris.
Já nos painel governamentais, ministros de diversos países discutiram políticas e financiamentos para conectar proteção ambiental e desenvolvimento sustentável, destacando parcerias entre países e o papel do Brasil na conservação da Amazônia. #VemCOP30!
Enquanto isso, no painel privado, líderes empresariais enfatizaram a inovação e as parcerias público-privadas como motores para escalar soluções baseadas na natureza (NBS), com foco em práticas regenerativas e métricas claras para mensurar impactos positivos.
Os dias dedicados à pauta sobre urbanismo, mobilidade e turismo também contaram com duas importantes declarações sendo lançadas: a COP29 MAP Declaration for Resilient and Healthy Cities (Declaração para Cidades Resilientes e Saudáveis) e a COP29 Declaration on Enhanced Climate Action in Tourism (Declaração para Aprimoramento da Ação Climática no Turismo).
A Declaração para Cidades Resilientes e Saudáveis propõe um maior envolvimento intersetorial, desde os níveis locais até o global, com foco em promover cidades mais sustentáveis, com transporte urbano verde, construção de infraestruturas resilientes, agricultura urbana e, sobretudo, financiamento climático voltado para as áreas urbanas. A ênfase é em soluções baseadas na natureza e ações que tornem as cidades mais preparadas para enfrentar os impactos das mudanças climáticas.
Por outro lado, a Declaração sobre o Turismo pede um esforço conjunto para integrar as políticas climáticas ao setor do turismo. A ideia é explorar a contribuição das administrações nacionais de turismo para alcançar as metas do Acordo de Paris e melhorar a inclusão das questões climáticas nas políticas de turismo. O turismo, sendo uma das indústrias mais afetadas pelas mudanças climáticas, precisa se adaptar e colaborar para mitigar os efeitos ambientais e promover práticas mais sustentáveis.
Embora as negociações da COP29 ainda estejam longe de um consenso completo, iniciativas como essas mostram a importância de avançar em compromissos concretos para o futuro climático global. O caminho até um acordo robusto passa por debates intensos e pela busca por soluções que integrem as várias dimensões do problema, desde a gestão da água até a construção de cidades mais resilientes e um turismo sustentável. A pressão para definir as metas financeiras e a alocação de recursos será um fator determinante para que a COP29 seja lembrada como um marco de ação eficaz no combate às mudanças climáticas.
Dia 22.11.2024
E, finalmente, chegamos ao último dia da COP29, realizada em Baku, no Azerbaijão. E, o que inicialmente, prometia ser uma cúpula histórica, terminou deixando um gosto amargo e um profundo sentimento de desilusão.
O tão aguardado acordo de financiamento climático, que visava alocar US$ 1,3 trilhões anuais dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento, não passou de uma promessa frustrada. O valor final alcançado foi de apenas US$ 300 bilhões anuais, um esforço modesto que gerou intensas críticas.
Confira aqui o documento final da COP-29.
Representantes da União Europeia e do governo dos Estados Unidos expressaram descontentamento com o valor que será transferido pelos países do Norte Global. Em contrapartida, líderes de nações africanas — uma região que abriga 17 dos 20 países mais vulneráveis às mudanças climáticas — deixaram Baku com um sentimento de desesperança e sem vislumbrar uma reversão do cenário atual.
No que diz respeito à redução do uso de combustíveis fósseis, outro grande ponto de discussão, os representantes dos países árabes recuaram do compromisso assumido na COP-28. Eles afirmaram que não aceitarão nenhum acordo que inclua compromissos específicos relacionados ao setor de energia fóssil.
Agora, o foco se volta para o Brasil, que presidirá a COP30, marcada para o próximo ano em Belém, no Pará. A expectativa é que, ao se reunir no coração da Amazônia — o “pulmão do mundo” —, os líderes globais se sintam compelidos a fazer mais por aqueles que mais sofrem com as consequências da crise climática.
Referências
Asset Owners Worth $10 Trillion Commit To Climate Action At COP29 Day Four – Finance, Investment and Trade Day;
CNN Brasil
COP29 countries endorse global carbon market framework;
COP29 Co-Chairs Publish Draft Text On Climate Finance Goal During Third Day Of Conference
COP29 Presidency and International Energy Agency Share Call to Action for Energy Transition;
COP29 Presidency Launches Baku Call on Climate Action for Peace, Relief, and Recovery;
COP29: relatório coloca criptoativos e plástico na mira do financiamento climático;
Energy and Peace Are The Focus At COP29 Day Five – Energy/Peace, Relief and Recovery Day;
Fund for responding to Loss and Damage ready to accept contributions
Na COP 29, Alckmin chama de ‘ambiciosa’ meta do Brasil de reduzir emissões em até 67% antes de 2035; ambientalistas criticam;
Países aprovam na COP29 regras de mercado global de carbono;
The Official COP29 Daily Show, Episode 1.
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