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Descarbonização como ativo de investimento sustentável

Publicado em: 22.06.23 Escrito por: Redação Tempo de leitura: 10 min
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As mudanças climáticas já são uma realidade. Observamos evidências do aquecimento global em diversas frentes. Por exemplo, você sabia que a última década foi a mais quente dos últimos 125 mil anos? E que a cobertura do gelo no verão do Ártico é a menor dos últimos mil anos?

Pois é, a temperatura está subindo e o cenário está cada vez mais preocupante. A cada 0,5°C de aumento na temperatura global é desencadeado efeitos negativos em todos os cantos do planeta e na própria existência da humanidade. Segundo a World Resources Institute (WRI), desde 2008, um dos principais efeitos do aquecimento global são as inundações e tempestades extremas, que refletiram em mais de 20 milhões de pessoas terem que deixar as suas casas.

Durante o Acordo de Paris em 2015, foi estabelecido o limite de aumento da temperatura em 1,5°C, porém nos dias de hoje as pesquisas já indicam que, nesta fração, a ameaça é devastadora para grupos em específico, como as populações tradicionais (ribeirinhas, indígenas, etc.), além de quem vive próximo a regiões costeiras e regiões áridas.  Foi previsto que, com esse nível de aquecimento, “950 milhões de pessoas em todo o mundo enfrentarão estresse hídrico, estresse térmico e desertificação, e a parcela da população mundial exposta a inundações subirá para 24%” (WRI, 2023).

Mão de uma pessoa impedindo a saída de dióxido de carbono de uma indústria

Descarbonizar as grandes indústrias é uma das peças chaves para impedir o avanço do aquecimento global. Créditos SCL.

Posto isso, é crucial o fomento de ações justas de adaptação e resiliência aos riscos climáticos que o planeta vive atualmente. Principalmente sobre o aumento de dióxido de carbono (CO2) na atmosfera que é a principal causa do aumento da temperatura da Terra. É neste contexto que o processo de descarbonização se torna a chave em direção a um mundo mais sustentável!

Venha entender com a Rede Juntos, o conceito de “descarbonizar” e como o processo de descarbonização como um investimento sustentável é fundamental para combater as mudanças climáticas.

O que é descarbonização?

Segundo o dicionário de língua portuguesa, o verbo descarbonizar significa a ação de reduzir ou eliminar o carbono de uma fonte de energia. No cenário climático atual, entendemos “descarbonização” como o processo de redução a longo prazo das emissões antropogênicas de CO2 e gases de efeito estufa (GEE) na atmosfera.

Para o processo de descarbonização ser eficaz, é necessário a contribuição de todos, uma vez que diz respeito à vida no planeta. Entretanto, os maiores emissores de CO2 acabam adquirindo maior responsabilidade em ações de mitigação e, em um futuro, a neutralização total de suas emissões.

Como por exemplo, a nível mundial as maiores emissões de CO2 são oriundas das atividades das grandes corporações extrativas de recursos naturais, como petrolíferas e mineradoras. Porém, no caso brasileiro, a principal causa das emissões é originada do gás metano das atividades da agropecuária.

Você sabia que o setor de energia é a fonte de cerca de três quartos das emissões de gases de efeito estufa hoje? 

Entretanto, é importante lembrar que descarbonizar é diferente de neutralizar, por mais que os conceitos sejam muito similares. A neutralização, se resume no balanceamento de carbono na atmosfera com objetivo de compensar as emissões que prejudicam o efeito estufa. A Organização das Nações Unidas criou uma coalizão especificamente para a neutralização de carbono, é chamada de Net Zero Coalition e incluiu que mais de 70 países estabelecessem uma meta líquida zero de CO2, cobrindo cerca de 76% das emissões globais.   O Brasil é um dos países com metas e o setor empresarial está inserido através do Pacto Global no Movimento Ambição Net Zero.

É possível conquistar a neutralidade, compensando a emissão de carbono com alguma ação que capte o CO2 da atmosfera. Atualmente, muitas empresas fazem essa compensação por meio da plantação de árvores. Por outro lado, a descarbonização pode ser entendida como um passo anterior da neutralização e também um complemento para atingir o mesmo propósito final, que é impedir o avanço do aquecimento global e das mudanças climáticas.

Os objetivos da descarbonização, podem ser resumidos em: desacelerar o aquecimento do planeta, combater as mudanças climáticas e alcançar uma economia de baixo carbono. Mas afinal, por quais meios conseguimos atingir estes objetivos? Confira abaixo!

Estratégias da descarbonização

De acordo com o secretário-geral adjunto da ONU, Amina Mohammed, a descarbonização dos sistemas de energia é o elemento mais crucial para solucionar a crise climática. Em razão disso, a transição para energias mais limpas é a primeira estratégia mencionada aqui da descarbonização.

Consiste na mudança completa da matriz energética para fontes renováveis. Incluindo além das convencionais como a energia solar e eólica, a geração de energia com fonte de hidrogênio verde, bioenergia, amônia verde e outros combustíveis sustentáveis, por exemplo.

Transições estas que devem ser o mais equitativas possíveis, colocando também os fatores de inclusão social, erradicação da pobreza e proteção ambiental em suas diretrizes. Uma vez que quando haja a suspensão de locais de extração, por exemplo, as pessoas que dependem daquilo como renda, não sofrerão impactos negativos sobre as suas vidas. É necessário que neste momento, seja fomentado políticas públicas de renda, de novas alternativas de trabalho e inclusão social, direcionadas principalmente para a população mais pobre e vulnerável.

Seguindo a mesma linha energética, a segunda estratégia da descarbonização citada aqui, é a eficiência energética. Ela refere-se à capacidade de gerar a mesma quantidade de energia com menos recursos naturais. Nesta ação, o uso de fontes de energia é otimizado, os gastos são reduzidos, o desperdício é evitado e consequentemente, a redução da emissão de carbono. A eletricidade é a opção mais eficiente para descarbonizar, por duas razões: é o vetor energético que permite uma maior integração das energias renováveis e por ser a única alternativa que melhora a eficiência energética.

A terceira e última estratégia, é a adoção de tecnologias de baixa emissão de carbono, que incluem Captura, Armazenamento e Utilização de Carbono (CCUS, sigla em inglês). Conforme a Agência Internacional de Energia (IEA), a CCUS “refere-se a um conjunto de tecnologias que podem desempenhar um papel importante e diversificado no cumprimento das metas globais de energia e clima”. Contudo, ainda está um pouco confuso, não?

Ao redor do mundo já são datadas 35 instalações comerciais que aplicam a CCUS em processos industriais, transformação de combustível e geração de energia. Contudo, ainda está um pouco confuso, não? Conheça o processo abaixo!

Primeiro, a CCUS envolve a captura de CO2 de grandes fontes pontuais, incluindo geração de energia ou instalações industriais que usam combustíveis fósseis ou biomassa como combustível. O CO2 também pode ser capturado diretamente da atmosfera. Se não for usado no local, o CO2 capturado é comprimido e transportado por dutos, navios, trens ou caminhões para ser usado em uma série de aplicações ou injetado em formações geológicas profundas (incluindo reservatórios de petróleo e gás esgotados ou formações salinas) que retém o CO2 para armazenamento permanente.

Atualmente, as instalações da CCUS capturam quase 45 milhões de toneladas de CO2 em todo o mundo. Entretanto, esta tecnologia não é tão nova, já em 1996 houve o primeiro projeto de captura e injeção de CO2 em larga escala com armazenamento e monitoramento dedicados de CO2, comissionado na instalação de gás offshore de Sleipner, na Noruega.

Até o momento, o único poço de injeção de CO2 localizado do Brasil é também o mais profundo do mundo, se encontra no Campo de Petróleo do Pré-Sal da Bacia de Santos da Petrobras. A previsão mundial é que mais de 200 novas instalações de captura estejam em operação até 2030, capturando mais de 220 milhões de toneladas de CO2 por ano.

Agora, como é sustentável este processo? As CCUS podem fornecer um meio de remover o CO2 da atmosfera, resultando em “emissões negativas”, para compensar as emissões de setores em que atingir emissões zero não sejam ainda econômicas ou tecnicamente viáveis. Entretanto, de acordo com a IEA, estas abordagens baseadas em tecnologia para a remoção de carbono podem complementar e suplementar as soluções baseadas na natureza, como o florestamento e o reflorestamento, mas não substitui a necessidade de se encontrar meios para a redução da emissão de gases de efeito estufa.

Investimento sustentável X Descarbonização

Todas as estratégias da descarbonização citadas ao longo do texto podem servir como investimentos sustentáveis, tanto por parte de órgãos privados como governamentais. Um investimento sustentável é aquele investimento associado a questões ambientais e sociais, não sendo exclusivo para o retorno financeiro de determinada instituição.

Um estudo da KPMG, Net zero readiness spotlight: Cities, trouxe o perfil de mais de 30 cidades ao redor do mundo com perfil “zero-líquido”, que já estão criando projetos dentro da temática. Entre elas, foi citada a cidade do Rio de Janeiro. Foi criado um projeto inovador que busca produzir fertilizantes e gás natural a partir de resíduos, assim mirando na descarbonização energética. O projeto foi uma parceria com a Universidade Federal de Minas Gerais e teve financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES).

Outro projeto mencionado localizado na América do Sul, foram as estações de tratamento de águas residuais transformadas em “biofábricas”, que possibilitaram a conversão destas águas e do esgoto em energia limpa. O projeto foi feito em Santiago, no Chile. Confira os demais projetos inovadores de cidades “descarbonizando” aqui.

Ao longo do texto vemos que cada vez mais existem novas saídas para superar as alterações climáticas e a crise ecológica global. Apesar disso, cumprir esse desafio não é uma tarefa nada fácil. É previsto que investimentos mundiais em tecnologias de descarbonização de pelo menos 500 bilhões de dólares devem ocorrer até 2030. Porém, para que essas tecnologias sejam eficazes para descarbonizar os setores de energia, é necessário 4.3 trilhões de dólares por ano até 2030.

Felizmente, se estas inovações continuarem progredindo, elas serão responsáveis por mais de 40% das reduções globais de gases de efeito estufa até 2050. Portanto, vemos que para descarbonizar tanto a economia quanto o sistema energético, é indispensável os esforços em múltiplas frentes empresariais, públicas, acadêmicas e da própria sociedade. Para atingirmos, enfim, emissões zero de CO2.

Você já conhecia o termo descarbonização? Conhece alguma prática que a utiliza em municípios ou empresas? Conta para a gente nos comentários! 

 

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