Neste ano, a Semana de Inovação, promovida pela Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), integrou a programação oficial pré-COP 30 e marcou um momento importante da agenda “Rumo a Belém“. Realizado entre 30 de setembro e 2 de outubro, o evento reuniu debates e reflexões preparatórias para a Conferência das Partes (COP 30), que ocorrerá em novembro, em Belém do Pará.
Com o tema “Um Planeta, Uma Chance: inovar para um futuro possível”, a edição contou com mais de 500 horas de atividades distribuídas em cinco eixos centrais: comportamento, educação e cultura para a sustentabilidade; transformação da gestão pública; novos paradigmas de regeneração e resiliência; tecnologias para um novo amanhã; e territórios e ecossistemas verdes e azuis.
A equipe da Rede Juntos também marcou presença, apresentando um painel expositivo sobre o poder do conhecimento em rede — expresso tanto na plataforma Rede Juntos quanto na comunidade de gestores públicos que dela fazem parte. Além de participar de outros painéis em diferentes temas. Na sequência, reunimos os principais aprendizados e insights vivenciados pela equipe, organizados em três grandes eixos que marcaram a Semana:
- O cenário brasileiro e global sob a perspectiva ambiental e o convite à ação coletiva;
- A criatividade e o design como ferramentas para construir um futuro melhor;
- O papel das redes e da inovação compartilhada na América Latina.
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Como está a saúde do planeta?
Embora muitas vezes seja difícil enxergar o papel econômico da natureza, dois dados ajudam a dimensionar essa relevância. De acordo com TEEB, os serviços ecossistêmicos globais movimentam mais de 125 trilhões de dólares ao ano (Relatório TEEB), enquanto os oceanos sozinhos geram 2,5 trilhões de dólares anuais — o equivalente a estar entre os dez maiores PIBs do planeta (WWF, 2020).
O estudo da Economia de Ecossistemas e Biodiversidade (TEEB) é uma importante iniciativa internacional para atrair a atenção para os benefícios da biodiversidade, para destacar o custo crescente da perda da biodiversidade e da degradação de ecossistemas e para reunir conhecimento de especialistas dos campos da ciência, economia e política, permitindo, assim, o avanço de ações práticas (IPEA).
A pesquisa “Checagem de Saúde Planetária 2025”, divulgada pelo Instituto Potsdam de Pesquisa de Impacto Climático (PIK) da Alemanha, divulgou que ultrapassamos sete dos nove limites planetários. Sendo que os únicos que ainda não estão próximos de serem ultrapassados são aerossóis na atmosfera (aumento de partículas suspensas no ar, como poeira, que vem alterando os padrões climáticos regionais e afetando a saúde humana) e a camada de ozônio.

Legenda: Status dos limites planetários atualizado em setembro de 2025. Imagem: UOL.
Além disso, outros cenários foram expostos, a geração de resíduos crescerá mais de 50% até 2050 (Banco Mundial), e desmatamos anualmente o equivalente a 20 campos de futebol americano a cada minuto (FAO, 2020). Para agravar, dois terços do aquecimento global são causados pelos 10% mais ricos, e os desastres climáticos e eventos extremos se multiplicam — só em 2024, o Brasil registrou 1,6 mil ocorrências.
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Diante desse cenário, a mensagem foi direta: a solução não pode recair apenas sobre escolhas individuais, mas precisa ser coletiva. Políticas públicas, empresas, comunidades e juventudes têm de assumir juntos a responsabilidade de repensar processos, produtos e estilos de vida. O convite foi para que todos — gestores, cidadãos e organizações — se vejam como parte dessa transformação, capazes de multiplicar ações locais e transformar cultura em força de mudança global.
A quem pertence o futuro?
Ele pertence a todos nós, mas especialmente aos jovens e às crianças. Afinal, como estará a Terra daqui a 30 anos? Essa pergunta abriu espaço para um dos destaques da Semana: a reflexão sobre o design de futuros, que parte da constatação de que, da forma como estamos fazendo hoje, não está funcionando — e, por isso, precisamos imaginar e construir novos caminhos. Trabalhar com futuros significa imaginar, comunicar e construir como as coisas podem ser. O design, com sua capacidade de materializar ideias abstratas, se conecta à futurologia para transformar visões especulativas em realidades possíveis, prática conhecida como design de futuros.
Na oficina de Design Thinking e Design de Futuro, os participantes vivenciaram o jogo Futuros Sustentáveis, inspirado no jogo de cartas Equitable Futures do Institute for the Future e adaptado pela equipe de cocriação da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa (RNP). A proposta foi imaginar cenários para o Brasil em 2045: em grupos, os participantes criaram narrativas provocativas, propuseram soluções a partir de personas, investiram nas ideias mais promissoras e, por fim, transformaram a melhor proposta em uma narrativa coletiva de futuro. O exercício reforçou a importância de propor soluções criativas e plausíveis para desafios reais da sociedade.
A prática nos convida a pluralizar — reconhecendo que o futuro não é fixo, mas feito de múltiplas possibilidades; a antecipar — transformando desafios em soluções antes que se tornem oportunidades perdidas; a imaginar — identificando sinais do futuro no presente; e a transformar — entendendo que o ato de criar novos caminhos modifica tanto quem os constrói quanto o destino que se alcança. Como sintetizou John Schaar, renomado futurista e filósofo:
O futuro não é um lugar para onde estamos indo, mas um lugar que estamos criando.
Hablamos igual?
Apesar da proximidade geográfica e das raízes linguísticas tão semelhantes, ainda existe um certo distanciamento entre o Brasil e seus países hermanos. No entanto, não deveria ser assim. Nossas línguas têm origens comuns e, mais do que isso, compartilhamos desafios sociais, ambientais e econômicos que nos convidam a dialogar e a aprender juntos. Não só podemos, como devemos fortalecer essa conversa entre países latino-americanos, a fim de incentivar a inovação na região como um todo e melhorar os serviços públicos e o bem-estar da população.
Nesse contexto, a Semana trouxe reflexões sobre inovação na América Latina, marcada pela diversidade de culturas e realidades. Ficou evidente que inovação não pode se limitar a metodologias importadas ou projetos isolados, mas precisa ser construída coletivamente, com parcerias sólidas e comunidades que gerem pertencimento. Exemplos como a hackathon de laboratorios, experiência que nasceu no Brasil e já chegou ao Peru, mostram como iniciativas podem ser recontextualizadas e ganhar força regional.
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Mais do que disseminar técnicas, o desafio é garantir que redes sejam realmente úteis, funcionais e capazes de agregar valor às pessoas. A superação das barreiras de idioma, a união de experiências de diferentes países e o alinhamento com agendas globais ampliam as oportunidades de aprendizado mútuo e de resultados compartilhados. A inovação latino-americana tem avançado especialmente na participação cidadã, e cada replicação é também uma chance de melhorar e adaptar soluções. A mensagem final é clara: somos diversos e, justamente por isso, inovar na América Latina significa respeitar os contextos locais enquanto construímos, juntos, uma rede capaz de transformar a região.
E já temos uma boa notícia: o tema da Semana de Inovação 2026 já foi lançado e será “O futuro é coletivo”.
Confira os principais tópicos da Semana de Inovação 2025!
- Economia regenerativa
- Confiança compartilhada
- Linguagem simples
- Design de futuro
- Justiça climática
- Transformação sistêmica
- Rede
- Tecnologias sustentáveis
- Pertencimento
- Ecossistemas de inovação
- Inclusão
E, você, gestor? Gostou do texto? Já se imaginou criando um novo futuro a partir da sua ação diária? Conta para a gente nos comentários, queremos saber!
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Somos servidores, prefeitos, especialistas, acadêmicos. Somos pessoas comprometidas com o desenvolvimento dos governos brasileiros, dispostas a compartilhar conhecimento com alto potencial de transformação.
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