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Reconstrução e Adaptação Climática com Germano Bremm

Publicado em: 17.06.25 Atualizado em: 16.06.25
Escrito por: Redação Tempo de leitura: 8 min Temas: Ciência e Tecnologia, Desenvolvimento Verde, Planejamento Urbano
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Em 2024, Porto Alegre enfrentou um dos momentos mais críticos de sua história. Assim como o restante do Rio Grande do Sul, a capital gaúcha foi profundamente afetada por enchentes históricas, resultado direto do aumento na frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos

Apenas no mês de maio, foram registrados 539,9 milímetros de chuva, o maior volume da série histórica da cidade, superando marcas de décadas anteriores, como os 447 milímetros de setembro de 2023 e os 405,5 milímetros de maio de 1941, os maiores volumes registrados até o momento, evidenciando o impacto das mudanças climáticas no cotidiano urbano 

Diante desse cenário, a agenda de adaptação climática ganha nova urgência. Mas como gestores públicos podem preparar suas cidades para serem mais resilientes? E, quando a tragédia já ocorreu, por onde começar a reconstrução?

Nesta entrevista, o Secretário de Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade e Coordenador-Geral do Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática de Porto Alegre, Germano Bremm¹, compartilha os caminhos trilhados pela cidade diante da crise climática, e como políticas públicas bem estruturadas estão guiando Porto Alegre rumo a um novo modelo de desenvolvimento urbano, que é o exemplo do Programa Porto Alegre Forte e do Plano de Ação Climática.

Continue a leitura para conferir a entrevista completa!

O que é o Porto Alegre Forte?

Recentemente, vivemos em Porto Alegre a maior tragédia da nossa história. Foi, também, uma das maiores tragédias climáticas do mundo. Especificamente em Porto Alegre, 30% do território foi afetado. Mais de 160 mil pessoas sofreram diretamente, 45 mil empresas foram impactadas e cerca de 20 mil famílias vulneráveis perderam total ou parcialmente suas residências. Foram mais de mil quilômetros de vias afetadas, com prejuízo público estimado em mais de R$ 12 bilhões — praticamente o valor de todo o orçamento anual do município, que deveria ser destinado a áreas essenciais como saúde, educação, segurança e limpeza urbana. Ao todo, 309 equipamentos públicos, entre escolas, unidades de saúde, centros de assistência social, praças e parques, foram parcial ou totalmente destruídos. Como resposta a essa tragédia, estruturamos o programa Porto Alegre Forte, uma estratégia robusta de recuperação que tem como objetivo não apenas reconstruir, mas transformar a cidade diante da realidade das mudanças climáticas, tornando-a mais resiliente.

Imagem de Porto Alegre antes e depois das enchentes 

Estima-se que a maior tragédia climática da história de Porto Alegre tenha causado um prejuízo de R$ 12,3 bilhões ao setor público. Há necessidade de investimentos em habitação, expansão e melhoria da infraestrutura de macrodrenagem, reconstrução e reforma de equipamentos públicos, entre outras obras. Foto: geógrafo Vinícius Catto de Cardia | Reprodução.

Quais são os objetivos e eixos do Programa? 

O programa Porto Alegre Forte atua em cinco eixos:

  • Eixo de Infraestrutura e Equipamentos: com foco na reconstrução e revitalização de 309 equipamentos danificados;
  • Eixo de Adaptação Climática: busca reduzir os efeitos dos eventos extremos, com investimentos em inteligência e tecnologia;
  • Eixo de Habitação: projetos em parceria com o Governo Federal, para garantir moradia digna às famílias que perderam suas casas;
  • Eixo de Transformação Urbana: repensar e reorganizar territórios vulneráveis, evitando reocupações de áreas de risco;
  • Eixo Financeiro e Econômico: captação de recursos e articulação com União e Estado, uma vez que o orçamento municipal já está comprometido com despesas essenciais.

E qual é o papel do Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática dentro do programa?

O Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática foi criado para executar, de forma coordenada, as estratégias do programa Porto Alegre Forte. Com apoio da Comunitas, o escritório funciona como um centro de articulação entre diferentes secretarias e atores institucionais. Embora esteja sob minha coordenação, enquanto Secretário do Meio Ambiente, Urbanismo e Sustentabilidade, o escritório atua de forma transversal, com temas que envolvem educação, saúde, habitação, cultura e assistência social. Já conseguimos vistoriar e elaborar laudos de todos os 309 equipamentos afetados. Até agora, firmamos 240 contratos, temos 52 obras em andamento, 128 obras concluídas e 285 equipamentos já operando – mais de 90% da capacidade restabelecida.

Quais foram os investimentos feitos em adaptação climática e prevenção de desastres? 

Na adaptação climática, investimos mais de R$ 20 milhões em ações, como: Plano de preparação e mitigação de desastres climáticos; Criação do Centro de Monitoramento e Condições Climáticas, com estrutura autônoma e tecnológica para garantir a continuidade dos serviços públicos; Qualificação da Defesa Civil; Instalação de réguas de medição em rios e lagos, e contratação de serviço meteorológico em tempo integral; Sistema de alerta, totens informativos e contratação de monitoramento da qualidade do ar. Também mapeamos 114 equipamentos do sistema de proteção (diques, comportas, casas de bomba), com custo de recuperação estimado em R$ 618 milhões.

Existe algum tipo de monitoramento dos projetos de reconstrução? 

Sim. Para garantir total transparência e permitir que a população acompanhe de perto as ações de recuperação da cidade, foi criado o Portal da Reconstrução e Adaptação Climática. Essa plataforma pública reúne dados atualizados sobre o andamento dos projetos liderados pelo Escritório de Reconstrução e Adaptação Climática, possibilitando o monitoramento dos investimentos, prazos, contratos, obras e entregas realizadas após a enchente de maio de 2024. As informações estão organizadas pelos cinco eixos temáticos que foram comentados anteriormente. O portal é alimentado com dados provenientes do painel interno de monitoramento do Escritório, que consolida as ações de diferentes secretarias e áreas técnicas do município. Dessa forma, ele promove o acesso público a informações essenciais sobre cada projeto, como localização, status e valores investidos.

Portal da Reconstrução e Adaptação Climática

O Portal da Reconstrução e Adaptação Climática é a ferramenta de monitoramento e transparência para que a população acompanhe de perto as ações realizadas pela prefeitura na recuperação de Porto Alegre após a enchente de maio de 2024. As informações estão divididas por eixos:

Eixo de Infraestrutura e Equipamentos: a recuperação da infraestrutura e dos equipamentos públicos afetados pela calamidade em Porto Alegre abrange escolas, unidades de saúde, áreas de lazer, espaços culturais, entre outros. Além de reparar danos, a reconstrução visa aprimorar as estruturas urbanas, tornando-as mais resilientes e sustentáveis.

Eixo de Transformação Urbana: planeja projetos para aumentar a resiliência e sustentabilidade da cidade, com foco em áreas afetadas por enchentes. As iniciativas incluem revitalização de espaços públicos, áreas verdes e infraestrutura urbana.

Eixo de Adaptação Climática: planeja projetos para mitigar os impactos de eventos climáticos extremos e reduzir a vulnerabilidade às enchentes. As ações de curto, médio e longo prazo estão em desenvolvimento, assim como a captação de recursos para o financiamento das obras.

Eixo de Habitação: gerencia projetos de habitação social para populações vulneráveis afetadas por enchentes, promovendo moradias dignas, seguras e sustentáveis. Parcerias com órgãos públicos e privados viabilizam as iniciativas. 

Eixo Financeiro e Econômico: elabora diagnósticos dos impactos e planos estratégicos para otimização dos recursos financeiros para recuperação da cidade. A gestão de riscos e a coordenação com outras unidades são essenciais para aplicação dos recursos.

Você comentou que estão realizando parcerias com o Governo Federal para garantir moradia aos que perderam suas casas. Você pode explicar um pouco mais sobre essa iniciativa? 

Mapeamos mais de 20 mil domicílios de interesse social impactados. Já foram produzidos cerca de 6 mil laudos técnicos, dos quais 3.869 foram aprovados pelo governo federal e 1.116 contratos já foram assinados via Caixa Econômica Federal. Enquanto as soluções definitivas não chegam, estamos oferecendo o programa Estadia Solidária, com pagamento de R$ 1.000 mensais para mais de 3.100 famílias em situação de vulnerabilidade, totalizando R$ 26 milhões já investidos.

Como estão sendo feitas as ações de revitalização de espaços públicos?  

Então, no eixo de Transformação Urbana, territórios como as Ilhas, Sarandi, o centro histórico e o 4º Distrito estão sendo reestruturados. Nas Ilhas, contratamos a Universidade de Delft, da Holanda, para desenvolver um plano urbano sustentável. Em Sarandi, estamos desenvolvendo parques lineares sobre áreas que compõem o sistema de proteção. E no centro histórico, criamos incentivos fiscais e urbanísticos para estimular a permanência e o investimento nas áreas atingidas.

Quer saber mais sobre como trazer resiliência para o seu território? Leia o Guia para o Enfrentamento às Emergências Climáticas: Estratégias de Colaboração Público e Privada aqui!

E no campo das parcerias externas, há um sistema estruturado de parcerias e de captação de recursos nesse processo? 

Conseguimos acessar cerca de R$ 5 bilhões em financiamentos com base na agenda de resiliência climática. Também estruturamos uma plataforma de captação de doações chamada Reconstrói POA, com a qual recuperamos cinco escolas municipais por meio de parcerias com empresas como Ambev, Gerdau e Instituto Jama. Além da parceria com a Universidade de Delft já comentada anteriormente.

dica para o gestor!

Assim como Porto Alegre, o que outras cidades podem fazer para se tornarem cada vez mais resilientes? Qual dica você daria para cidades que querem se preparar e adaptar para eventos extremos?

A principal lição é: uma cidade resiliente precisa de planejamento. É fundamental que as cidades estruturem seus Planos de Ação Climática com base em ciência, inventário de emissões e políticas para mitigação e adaptação climática. Isso exige envolvimento comunitário, continuidade entre gestões e visão de longo prazo. Porto Alegre só conseguiu responder rapidamente porque já estava se preparando antes do desastre. As fragilidades estavam mapeadas, e o plano existia. A tragédia nos obrigou a antecipar ações, mas a estrutura estava posta. Agora, nossa missão é seguir executando com compromisso e transparência.

E você, gestor, gostou da entrevista? Já sabia sobre todas as ações que Porto Alegre está fazendo em relação a reconstrução e adaptação climática? Continue acessando os nossos conteúdos para saber mais!

 


1 – Entrevista realizada em junho de 2025 com a equipe da Plataforma Rede Juntos.

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