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O potencial verde brasileiro

Publicado em: 04.07.23 Escrito por: Regina Esteves Tempo de leitura: 5 min
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O potencial verde brasileiro

Em resumo, o Brasil está bem-posicionado para tomar a dianteira das iniciativas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas no mundo
Setembro, 2022
Na visão do relatório do Brazil Climate Report 2022, o Brasil pode dar uma contribuição expressiva para a descarbonização da economia mundial (iStock/Thinkstock/Reprodução)

Na visão do relatório do Brazil Climate Report 2022, o Brasil pode dar uma contribuição expressiva para a descarbonização da economia mundial (iStock/Thinkstock/Reprodução)

Em alguns dois artigos publicados recentemente neste espaço, chamei atenção para as questões ligadas às mudanças climáticas e a necessidade de ação efetiva por parte do setor privado na construção de ações compartilhadas que colaborem na superação deste desafio global.

Em 20 de maio, discutia que a realidade dos esforços de reversão dos efeitos das mudanças climáticas “cria oportunidades econômicas, especialmente para o setor privado, que tem se mobilizado fortemente na direção de abraçar os desafios do meio ambiente, do social e da governança (ESG), ao incorporar novos conceitos, perspectivas e tecnologias na produção, administração e responsabilização do setor face aos riscos ambientais que vivemos.” 

No início do mês de julho, tratando especificamente da publicação do relatório de pesquisa do MERCO Responsabilidade ESG no Brasil, a partir das práticas do setor privado, argumentava que seria “possível afirmar que, no caso do setor de cosméticos, temos um exemplo concreto de como o foco do ESG é capaz de gerar valor e impacto socioambiental, proporcionando reconhecimento para as empresas e, melhor ainda, estabelecendo uma agenda pública que afasta as práticas do ESG da simples redução a uma agenda de mitigação de riscos.” 

Cito essas análises por duas razões. De um lado, sabemos que os anos que nos separam de 2050 serão decisivos para a humanidade e a continuidade de nossa história neste planeta.

Assim, reiterar como atores econômicos importantes vêm assumindo responsabilidades na questão climática joga luz sobre a compreensão da urgência e relevância do tema, que, infelizmente, ainda não se transformou numa agenda pública de característica popular, ou seja, que domine o imaginário de nossa população, estimulando mudanças e hábitos de produção e consumo em larga escala.

Em segundo lugar, olhando com detalhes para o relatório Brazil Climate Report 2022, publicado neste mês de setembro, durante o Brazil Climate Summit, que ocorreu entre os dias 15 e 16, temos um aprofundamento da discussão, com contorno ainda mais específico e promissor para o lugar do Brasil em contexto global.

O relatório se constitui em um chamado para ação de líderes, planejadores de políticas públicas e cidadãos, no sentido de maximizar as oportunidades econômicas intrínsecas à transição da economia mundial para o chamado padrão “Net Zero”. Trata-se de um olhar para o futuro, focado em soluções que reconhecem, priorizam e lidam com os desafios nacionais nesta área.

Como pontua o relatório, o “potencial verde” do país gera enormes perspectivas para continuarmos atraindo investimentos mundiais em áreas como as energias renováveis, biomassa e biocombustíveis, agricultura sustentável e o hidrogênio verde, que já se demonstram viáveis economicamente.

Em termos de vantagem comparativa, para usar um termo clássico, no que é relativo à energia, 85% de nossas fontes já são renováveis, um patamar que os países desenvolvidos esperam alcançar somente entre as décadas de 2030 e 2040.

Na produção de cimento, a indústria brasileira já produz cerca de 10% dos estoques com tecnologias de baixo carbono e, no caso da produção de aço, este número vai a aproximadamente 30%. Destaca-se também o caso da nossa indústria automobilística, cuja frota nacional já se constitui em 85% de veículos adaptados ao uso de biocombustível.

Esta realidade pode colocar o Brasil em uma situação privilegiada como exportador de tecnologias de descabornização no mundo, nas áreas de energia limpa, agricultura sustentável e de produtos verdes, que se beneficiam de nossos recursos naturais e da biodiversidade.

Assim, na visão do relatório, o Brasil pode dar uma contribuição expressiva para a descarbonização da economia mundial, pois espera-se que, nos próximos anos 35% da redução da emissão de gases de efeito estufa venha de soluções naturais de produção, que incluem entre outras, a conservação, restauração e o uso sustentável das florestas e da agricultura.

Além disso, o país tende a ocupar lugar destacado no mercado de créditos de carbono, cuja meta mundial é alcançar valores da ordem de US$ 1 trilhão até 2028. A pressão de investidores, a melhor organização deste mercado, as mudanças regulatórias e de hábitos dos consumidores e os novos padrões de qualidade dos créditos irão pressionar a demanda, e, novamente, gerar oportunidade econômica clara para o nosso país.

Em resumo, o Brasil está bem-posicionado para tomar a dianteira das iniciativas de mitigação dos efeitos das mudanças climáticas no mundo, pois já dispomos de soluções climáticas concretas e em escala e, com isto, poderemos atrair entre US$ 2 e 3 bilhões de investimentos até 2050.

Por último, mas não menos importante, a concretização dessas perspectivas positivas passa pelo compromisso público de governo locais, em todos os níveis federativos, com a redução do desmatamento e o aumento dos recursos para ações ambientais. Esta sinalização governamental funciona internacionalmente como uma evidência clara de que nosso compromisso com o Clima é concreto e posicionará o país, como nos mostra o relatório, na fronteira dos esforços mundiais.

 



*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.

Artigo escrito por: Regina Esteves
Diretora Presidente Comunitas
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