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Neste mesmo momento, milhares de pessoas ao redor do mundo estão sofrendo dificuldades para sobreviver com temperaturas extremas. À medida que as temperaturas sobem, especialmente em algumas das maiores cidades do mundo, de Delhi a Xangai, é observado diversos impactos nocivos à saúde e ao planeta Terra como um todo, de acordo com pesquisas que você, leitor, confere ao longo deste texto.
Não é preciso citar casos internacionais para comprovar essa informação. Já vivencia-se no Brasil as consequências das mudanças climáticas de forma extrema. Nesta última semana, viu-se o sofrimento de quem vive na capital do Rio de Janeiro e arredores.
Em 17 de janeiro, a cidade em questão chegou a registrar sensação térmica de 60°C, sendo que no bairro da Barra da Tijuca às 9h da manhã a temperatura registrada chegou a 36,8°C, enquanto em Guaratiba, no mesmo horário, a sensação térmica foi de 52,9°C, segundo o Centro de Operações Rio (COR). Em busca de um refresco do calor extremo, vimos também diversos vídeos de banhistas durante a noite e madrugada nas praias de Copacabana, do Arpoador e também no município vizinho de Maricá (RJ).
Antes da onda de calor, cerca de 20 mil moradores da zona norte da cidade perderam móveis, eletrodomésticos e documentos durante a enchente provocada pelas chuvas do final de semana dos dias 13 e 14 de janeiro. E ainda, 13 pessoas perderam suas vidas durante as inundações.
No final de 2023, vimos a mesma situação no estado do Rio Grande do Sul, após fortes temporais em mais de 50 cidades, seguidos de uma onda de calor extrema que fugiu da normalidade da climatologia até mesmo para o período de verão. É desesperador, não é mesmo?
Você deve estar se perguntando: Quais são os impactos dessas trocas de temperaturas bruscas que estamos vivendo? Ou ainda, como somos afetados por estes eventos? E o que os órgãos públicos estão fazendo nestas situações? Saiba a resposta para todas essas perguntas no texto abaixo.
Saúde humana e o calor extremo
No âmbito da saúde, é considerado calor extremo quando a temperatura do ar fica mais alta que a temperatura média do corpo humano (em torno de 36,5°C). Quando ocorre esta situação, como ocorreu no Rio de Janeiro, o corpo tenta fazer ajustes para regular a temperatura interna pelo suor e aumento das batidas do coração e da pressão arterial.
Quando ocorre esta situação, como ocorreu no Rio de Janeiro, o corpo tenta fazer ajustes para regular a temperatura interna pelo suor e aumento das batidas do coração e da pressão arterial.
Segundo a Secretaria de Saúde do Rio Grande do Sul, essa situação pode criar quadros de cansaço, dificuldade para respirar e alteração na frequência e volume de urina. O calor, inclusive, pode levar à morte em virtude de ataques cardíacos e derrames causados pelo esforço de tentar manter a temperatura corporal estável e pela desidratação.
Neste vídeo, é possível visualizarmos o percurso do aquecimento global desde 1880 até 2022. Pode-se ver o calor, representado pelas nuvens mais alaranjadas e avermelhadas, cada vez mais presente ao longo dos anos. Se continuarmos da mesma maneira, a tendência é piorar e termos cada vez mais ondas de calor e as suas consequências em todo o globo.
Em um artigo da Exame, chamado de “11 maneiras de o clima influenciar o comportamento e a saúde”, são citados algumas dessas influências, tais como:
- Condições climáticas extremas podem provocar problemas psicológicos;
- Dias ensolarados estão ligados a humor melhor;
- A criatividade é mais estimulada em temperaturas mais elevadas;
- Climas quentes e úmidos dificultam o sono.
Como foi mostrado, o calor extremo exerce uma enorme pressão sobre a saúde humana e sobre todos os sistemas de saúde. Durante o clima mais quente, as pessoas ficam mais vulneráveis à desidratação, exaustão pelo calor, lesões e doenças. A exposição prolongada ou aguda a altas temperaturas pode levar a problemas de saúde de longo prazo, como danos aos rins, doenças cardiovasculares, abortos espontâneos, distúrbios neurológicos e até mesmo à morte.
que o calor mata dez vezes mais pessoas nos EUA do que tornados ou outros eventos climáticos extremos? *Dado estudado por Richard Keller, professor de história da medicina da Universidade de Wisconsin-Madison.
Impactos fatais à nível global
Pouco se fala sobre a letalidade das ondas de calor, mas como já foi citado anteriormente, o calor extremo, pode sim levar a morte. De acordo com a Cool Coalition do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, 5 milhões de pessoas morrem anualmente no mundo devido a temperaturas extremas.
Segundo uma pesquisa publicada na revista Nature Medicine, estima-se que só em 2022, as ondas de calor na Europa mataram mais de 61 mil pessoas. Um ano depois, estima-se que as ondas tenham causado mais de 70 mil mortes. Sendo que em apenas uma onda de calor, ocorrida entre 18 e 24 de julho, deixou mais de 11 mil mortos.
No entanto, a Europa não é o único continente que está enfrentando uma crise de saúde pública. As ondas de calor mortais mais notáveis incluem o evento de 2010 na Rússia, que matou pelo menos 10 mil pessoas, dentre os quais a maioria dos mortos eram idosos, grupo extremamente vulnerável nestas situações. Em 2021, a capital russa viveu novamente uma forte onda de calor, a qual ficou registrada como a mais forte em 120 anos, chegando a 34,7°C, uma temperatura que a população russa não está acostumada a enfrentar.
Um estudo realizado no estado da Virgínia, nos Estados Unidos, constatou que os eventos de calor resultaram em quase 7.000 visitas adicionais ao departamento de emergência e 2.000 internações hospitalares no sistema de saúde local. Em escala nacional, os autores estimam que os dias de eventos de calor levariam a quase 235.000 visitas ao departamento de emergência, 56.000 internações hospitalares e US$ 1 bilhão em custos de saúde.
Ondas de calor letais também foram documentadas na cidade de Nova York, Washington, D.C., Los Angeles, Chicago, Toronto, Londres, Pequim, Tóquio, Sydney e São Paulo.
Falando um pouco mais do Brasil, a Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo (SES-SP) registrou, nos sete primeiros meses de 2023, um aumento de 102,5% nos atendimentos ambulatoriais e internações por causas relativas à exposição ao calor em relação a 2022. Foram 312 em 2023 e 154 no mesmo período de 2022. A partir destes dados, já podemos imaginar o que veremos nos próximos anos, não é?
Clima X Comportamento Humano
Desde o século 19, são realizados diversos estudos que analisam os diferentes efeitos da temperatura no comportamento humano. E agora, com a constância que estamos vivendo de eventos climáticos extremos e dias com maior volatilidade de temperatura, os diferentes tipos de influências aos humanos estão cada vez mais sendo estudadas por especialistas.
Entretanto, a relação entre os dois fatores (clima e comportamento humano) vai mais além ainda. Segundo um artigo publicado na Science Direct em 2014, o tempo quente provoca um crescimento de atos violentos. A pesquisa estudou o impacto das mudanças climáticas sobre a prevalência de atividades criminosas nos Estados Unidos, tomando por base 20 anos de dados mensais sobre crimes e clima em 2.997 condados do país.
Como resultado da pesquisa, foi estimado que entre 2010 e 2099, a mudança climática causará um acréscimo de 22.000 assassinatos, 180.000 casos de estupro, 1,2 milhão de agressões agravantes, 2,3 milhões de agressões simples, 260.000 roubos, 1,3 milhão de arrombamentos, 2,2 milhões de casos de furto e 580.000 casos de roubo de veículos em território estadunidense.
Neste artigo publicado na Forbes também é feita esta mesma correlação, foi observado que um clima mais quente causa um número maior de crimes violentos – considerando tiroteios em massa até agressões graves. Por exemplo, nos meses de verão de 2022 houveram 278 tiroteios em massa no país, o que representaram 86% do total de 2022, segundo dados do Gun Violence Archive. O que mostra uma concentração desproporcional desses delitos na estação do verão em comparação com as outras estações com temperaturas mais amenas.
Quer aprender mais sobre comportamento humano? Confira a Trilha Como aplicar Ciências Comportamentais em Políticas Públicas para entender mais de como essa ciência pode ser uma grande aliada para os gestores públicos.
Sabemos que o cenário não é muito motivador, entretanto, há muitos governos que estão fazendo a diferença por aí, continue a leitura para conhecê-los!
O que governos podem fazer para diminuir o impacto de ondas de calor
Na maioria dos territórios, as Secretarias de Saúde são as responsáveis por criar campanhas de alerta e de comunicação reforçando os cuidados com o calor, como manter-se hidratado, usar roupas leves, procurar ficar em locais arejados e frescos e não fazer atividades físicas entre 10 e 16 horas. Estas ações são feitas principalmente quando há alertas meteorológicos prévios em relação a ondas de calor.
Um exemplo foi feito pela Secretaria de Saúde de Marília (SP) em dezembro de 2023. A campanha de enfrentamento às altas temperaturas contou com a distribuição de garrafas de água gelada e panfletos orientando sobre os cuidados a serem tomados com relação às altas temperaturas, prevenção ao câncer de pele e prevenção da proliferação do mosquito da dengue.
No Tocantins, a ação de combate à onda de calor em setembro de 2023 foi feita pela Secretaria Estadual de Educação. A equipe da secretaria, criou e difundiu orientações para mitigar problemas relacionados ao calor nas unidades escolares. Como medida preventiva, foram suspensas as atividades ao ar livre das 10h às 17 horas enquanto durasse a onda de calor, e orientou que fossem oferecidos alimentos leves na merenda escolar para ajudar a hidratação de crianças e adolescentes.
Na capital paulistana, a Operação Altas Temperaturas (OAT) é a responsável por mobilizar ações sempre que os termômetros atingirem 32º C, ou sensação térmica equivalente. A iniciativa tem objetivo de evitar insolação, desidratação e outros problemas que podem decorrer da exposição ao sol forte e altas temperaturas.
As ações feitas pela operação são:
- Reforço no convencimento das pessoas para procurarem a rede de acolhimento, onde poderão se abrigar do sol e receberão água e alimento;
- A instalação de dez tendas em pontos estratégicos, das 10h às 16h, com fornecimento de água, chá gelado, frutas e bonés, além de espaço pet;
- Reforço na compra de ventiladores em unidades de acolhimento;
- E disponibilização de uma ambulância referenciada para atendimento a casos de exposição ao calor para atender essas tendas.
Governos resilientes às temperaturas extremas
Com a intensificação das mudanças climáticas, prefeituras das cidades de Miami (EUA), Santiago (Chile), Freetown (Serra Leoa), Melbourne (Austrália), Monterrey (México) e Atenas (Grécia), criaram um novo cargo no governo municipal: o chamado “Chief Heat Officer”, ou em tradução livre, Secretário(a) de Calor, cujo trabalho é enfrentar os efeitos do aumento das temperaturas no ambiente urbano.
A criação dos cargos foi financiada pela Extreme Heat Resilience Alliance (EHRA), em português, a Aliança pela Resiliência ao Calor Extremo. A EHRA foi criada pela Fundação Arsht-Rock, organização internacional do terceiro setor que fomenta soluções de resiliência climáticas até 2030, com o compromisso de proteger vidas e meios de subsistência dos impactos do calor extremo, com foco especial em grupos mais vulneráveis.
Os Secretários de Calor recebem assistência técnica estendida da EHRA e conexão com uma rede de cidades globais que trabalham para enfrentar os riscos do calor. Dentre as responsabilidades do cargo, incluem-se aumentar a conscientização dentro do poder público sobre os riscos das ondas de calor, identificar as comunidades e os bairros mais vulneráveis ao aumento das temperaturas e coordenar projetos de redução de risco de calor no longo prazo, entre outras medidas.
Para atingir o nível técnico necessário do cargo, a EHRA apoia os secretários por meio da assessoria de dois painéis científicos, com especialistas de diversas áreas, incluindo clima, meteorologia, saúde humana, ciências sociais e comportamentais.
A Secretária de Calor de Atenas, Eleni Myrivili, em uma entrevista para a Folha de São Paulo em 2022, contou que um dos trabalhos planejados foi a criação de uma metodologia específica para determinar o melhor modo de categorizar ondas de calor de acordo com maior ou menor risco para as pessoas da cidade.
Outra ação comentada foi juntar 10 municípios da área metropolitana de Atenas para redesenhar áreas verdes usando água de um antigo aqueduto romano que não era usado com o fim de resfriar a cidade.
Vimos ao longo do texto que nenhum lugar está a salvo dos impactos do calor extremo provocado pelo clima. Apesar das questões referentes ao calor serem subestimadas e não terem a atenção que deveriam, felizmente sinalizamos movimentos, em diversos governos, para tornar as cidades mais resilientes às temperaturas elevadas.
Vamos ver ao longo prazo o que acontecerá? Continue acessando a Plataforma Rede Juntos para se manter atualizado sobre o tema.
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