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Es posible cambiar?

Publicado em: 18.07.22 Escrito por: Regina Esteves Tempo de leitura: 6 min
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Es posible cambiar?

Medellín oferece pistas interessantes para a construção de políticas públicas que apontam caminhos para gestores públicos do Brasil

Fevereiro, 2022

Vista aérea de Medellín, na Colômbia: Extraordinária força de reerguer uma cidade assolada por uma situação de violência que destruiu seu tecido social (Javier Larrea/Getty Images)

Quando falamos de gestão pública, é possível listar um conjunto extenso de desafios a serem superados, especialmente em um contexto tão complexo quanto o de pós-pandemia, que envolve a redução das desigualdades, a necessidade de recuperação econômica e as preocupações com as mudanças climática e tecnológica.

Um desses enormes desafios é o de construir políticas públicas que promovam a mudança concreta das condições de vida da população e, ao mesmo tempo, enderecem os desafios que listei acima. No caso brasileiro, isto significa apoiar decisivamente as inúmeras famílias que, em número cada vez maior, estão pressionadas por demandas de educação, saúde, emprego e renda, e se veem ainda mais impactadas pela ineficiência dos serviços oferecidos pelo poder público no Brasil.

A pergunta que emerge é: podemos mudar?

Passei a última semana em Medellín, na Colômbia, com um grupo de gestores públicos: secretários, deputados e prefeitos, visitando as políticas públicas da cidade e buscando boas práticas que inspirem a transformação de nosso país. O case colombiano sempre intriga quem o conhece de perto e visita a cidade, pela extraordinária força de reerguer uma cidade assolada por uma situação de violência que destruiu seu tecido social e a transformou em um centro estratégico da atividade internacional do tráfico de drogas.

Que a cidade tenha superado este desafio é, em si, uma grande façanha. Mas, não é apenas isto, a recuperação da cidade não apenas tem se mostrado longeva, mas a sua força no sentido da inovação e permanência dos fatores que garantem o sucesso da experiência se mostram sempre presentes.
Seria possível, no Brasil, acender a centelha de um impulso de mudança tão extraordinário?

Medellín oferece algumas pistas interessantes, muito embora estejamos falando de uma cidade apenas, a construção de políticas públicas, especialmente o conceito de urbanismo social, ajudou a cidade neste processo de recuperação e tais práticas fincaram raízes profundas na cidade.

Neste sentido, a perspectiva de mudança que Medellin oferece aponta em várias direções.

A primeira dela é que o engajamento cívico na cidade se tornou uma realidade das políticas públicas locais. As facilidades do sistema de transporte, os espaços públicos pensados para agregação e participação da população, a presença dos órgãos públicos nas regiões mais vulneráveis e a política urbana focada na integração e no direito à cidade mostram como a aposta em trazer a população para o lado do poder público cria um ambiente positivo de mudança.

Um dos exemplos mais claros desta abordagem de engajamento é o “Cartão Cívico”, que tem muita similaridade com o Bilhete Único, utilizado na grande São Paulo. Todavia, o cartão colombiano, além de ser usado para pagar tarifas em todos os meios de transportes da região, incluindo aluguel de bicicletas, permite que o cidadão realize até mesmo o pagamento de algumas contas de consumo, como água e energia, com a personalização do cartão. Ou seja, todos os serviços da Prefeitura juntos, em uma única ferramenta tecnológica, que facilita a vida do cidadão, além de criar um senso cívico e de pertencimento. Outro ponto importante é o fato dessa ferramenta possibilitar a criação de um banco de dados desse usuário, permitindo uma melhor gestão do poder público.

A aposta em soluções inovadoras pode ser elencada como outra perspectiva concreta de mudança da realidade das políticas públicas.

Neste sentido, podemos citar a Ciudadela Nuevo Occidente, uma cidade universitária projetada como uma ecocidade que, além de receber estudantes das áreas de tecnologia, também conta com uma grande área de lazer que foi construída visando à proteção do meio ambiente local. O destaque aqui vai para as construções eco-friendly e para as grades curriculares dos ensinos voltados para tecnologia, em especial as dedicadas para a quarta revolução industrial.

Uma terceira lição significativa, ligada à percepção do impacto da tecnologia na vida de nossas sociedades, é o caso do Centro Valle del Software de San Javier que visa a transformação da economia da cidade a partir da educação, inovação e empreendimento, além de aumentar a produtividade da indústria digital e promover a geração de milhares de empregos bem remunerados no desenvolvimento da indústria 4.0.

O espaço busca impulsionar a criação de empresas e processos de desenvolvimento tecnológico que permitam gerar ideias de negócio, ter suporte para a consolidação e crescimento de empresas de todo o tipo, formação em novas competências, ampliação de contatos e conquista de mercados.

Por último, mas não menos importante, a perspectiva de mudança de que estamos falando deve ser cultivada desde cedo na sociedade e, novamente, Medellín oferece um exemplo que merece atenção.

O programa Jardín Buen Comienzo, complexo educacional voltado à primeira infância, busca promover o desenvolvimento integral, diversificado, inclusivo e autônomo de meninos, meninas e suas famílias durante os primeiros cinco anos de vida. O projeto atende 93% das crianças de Medellín, cujas famílias se encontram em situação de vulnerabilidade e alta vulnerabilidade social. Toda a estrutura do projeto disponibiliza 442 centros e 24 jardins de infância.

Engajamento cívico, compromisso com a inovação e o meio ambiente e foco na primeira infância são apenas três das muitas lições que podemos elencar no caminho de mudança construído por Medellín.

E, em todas essas lições, um fio condutor transparente e objetivo, a construção de políticas públicas que possam enfrentar os desafios das desigualdades, da tecnologia e do cultivo de uma relação republicana e saudável de engajamento cívico da sociedade com o poder público.

Ou seja, si, se puede cambiar!



*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.

Artigo escrito por: Regina Esteves
Diretora Presidente Comunitas
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