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Como reduzir os riscos de desastres climáticos? Entrevista com Marcus Belchior sobre a Iniciativa COR

Publicado em: 23.05.24 Escrito por: Redação Tempo de leitura: 10 min Temas: Ciência e Tecnologia, Meio ambiente e Sustentabilidade
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Você sabe como uma iniciativa no Rio de Janeiro está usando tecnologia e inovação para proteger vidas e prevenir desastres? Será que essa abordagem pode ser implementada em outros estados?

O Centro de Operações Rio (COR) é um marco para o Rio de Janeiro e  referência para desastres climáticos no Brasil. Desde sua inauguração, em dezembro de 2010, mantém sua missão de monitorar e integrar ações públicas para prevenção e mitigação dos impactos das chuvas com diversas pastas transversais ao clima. 

A criação do COR foi motivada por uma chuva histórica em abril de 2010, que causou deslizamentos de terra e mortes na cidade do Rio de Janeiro. O prefeito da época, percebeu a falta de informações e ferramentas necessárias para tomar decisões mais assertivas considerando o contexto de crise vivenciado.

Inicialmente planejado como um centro de urgência e emergência, o COR expandiu suas funções para incluir defesa civil, mobilidade, agências estaduais, modais de transporte (Rio Ônibus, VLT, Barcas, SuperVia), distribuição de água e esgoto, distribuição de gás natural, além de corpo de bombeiros, polícia civil e polícia militar, marinha e aeronáutica. Ou seja, o COR estourou a bolha da cidade do Rio e criou um ecossistema transversal entre as esferas municipal, estadual e federal.

O COR é um grande gerador de informações que apoia a definição de estratégias para condução e correção de políticas públicas. Um exemplo prático é a logística de operação da cidade, onde a queda de uma árvore em uma rede elétrica requer a coordenação entre várias entidades para resolver o problema de forma eficiente. Outra inovação do COR é o sistema de estágios da cidade do Rio de Janeiro, que vai de 1 a 5. Quando atinge o estágio 3, a imprensa é alertada para comunicar em massa à população as recomendações necessárias.

Visando apoiar outras cidades a replicarem o que é desempenhado no Centro de Operações do Rio, o COR criou uma prática recomendada com 127 normas em conjunto com a ABNT, com consulta pública por todo Brasil. Esta será publicada na íntegra no próximo dia 27 de maio. A confecção da nota foi feita através do entendimento das capacidades do centro e da maioria das cidades do Brasil para compreender o que é possível replicar com base no histórico que cada cidade possui.

Atualmente, o COR está trabalhando com o BNDES para deixar prontos dois modelos de centros de operações. Um voltado para as cidades com mais de 500 mil habitantes e outro para aquelas com menos de 500 mil habitantes. 

Muitas cidades se veem de frente com a crise climática e não sabem como podem se preparar. Pensando nisso, o COR criou esses dois modelos para que os municípios possam, através do pleito de financiamento do governo federal (seja pela pauta de Clima ou pela de Cidades Inteligentes), saber como proceder e implementar esses centros de operação construídos pelo COR.

Com a aproximação da temporada de chuvas, o Rio de Janeiro se prepara para enfrentar inundações, alagamentos e deslizamentos que colocam em risco a vida da população. Nos últimos anos, esses eventos climáticos extremos se tornaram cada vez mais frequentes e intensos, ameaçando a segurança dos cariocas.

Em fevereiro de 2019, fortes chuvas causaram enchentes que paralisaram a cidade, e em abril de 2022, a região metropolitana foi novamente severamente afetada por tempestades que resultaram em mortes e desabrigados. Em 2023, o Rio de Janeiro vivenciou um dos verões mais chuvosos da história, com acumulado de precipitação 25% acima da média. As fortes chuvas provocaram diversos alagamentos e inundações, principalmente nas áreas mais baixas da cidade. 

Por meio de um sistema de monitoramento de última geração, o COR transforma dados em tempo real de radares, pluviômetros, câmeras e sensores espalhados pela cidade em previsões meteorológicas precisas. Com base nessas informações, o centro identifica áreas de risco com antecedência e emite alertas tempestivos para autoridades e população, prevenindo desastres causados por chuvas fortes e eventos climáticos extremos.

Em vista disso, a plataforma Rede Juntos conversou com,  Marcus Belchior(1), CEO do Centro de Operações Rio (COR), que compartilhou percepções valiosas sobre a atuação do centro, como a cidade do Rio de Janeiro se prepara para enfrentar eventos climáticos extremos, quais são os desafios enfrentados e as perspectivas para o futuro.

  1. Você pode explicar o que é o Centro de Operações Rio (COR) e qual a sua importância para a cidade do Rio de Janeiro?

O Centro de Operações é um equipamento de gestão de cidade que integra mais de 30 órgãos das esferas municipal, estadual, federal e concessionárias de serviços públicos. Com operadores sentados lado a lado, o COR consegue reduzir significativamente o tempo de resposta aos muitos acidentes e incidentes registrados todos os dias no Rio. 

O COR opera 24 horas por dia, sete dias por semana, e transformou-se no “QG” da Prefeitura do Rio. Além disso, ele  também é referência em tecnologia. São mais 3.500 câmeras de monitoramento, parcerias com as principais empresas de tecnologia do mundo e, até mesmo, sistemas desenvolvidos pela NASA. Acredito que cada cidade deveria ter um centro operacional como o nosso.

  1. Com o aumento da frequência e intensidade dos eventos climáticos extremos, como o COR tem atuado para auxiliar na adaptação da cidade do Rio de Janeiro a esses eventos?

O Rio de Janeiro conta com o Sistema Alerta Rio – órgão de meteorologia da capital fluminense – que funciona dentro do COR. Os meteorologistas trabalham em escala de 24 horas. Hoje, a cidade do Rio é a única a contar com dois radares meteorológicos próprios, sistema de detecção de raios, a maior rede pluviométrica de uma cidade no Brasil, entre outros equipamentos. Gosto sempre de lembrar do Sistema de Alerta e Alarme da Defesa Civil. Essas sirenes salvam vidas e são acionadas diretamente do Centro de Operações. O sistema está instalado em 103 comunidades de alto risco geológico da cidade. Toda cidade pode receber eventos extremos, mas diferente da maioria, o Rio hoje é uma cidade com protocolos que vão reduzir significativamente os impactos de eventuais chuvas fortes.

  1. Como as parcerias com a NASA, o LNCC e o Cefet/RJ têm contribuído para o aprimoramento dos modelos de previsão e resposta do COR?

Essas parcerias técnicas visam o desenvolvimento de ferramentas que compreendam, de maneira automática, as características da cidade do Rio. Cito sempre o desenho da cidade que aprendi no primário. Ou seja, da montanha junto ao mar e das áreas de baixada. Temos um relevo complexo. Por isso, diversas parcerias nos dão a possibilidade de desenvolver ferramentas cada vez mais assertivas para as características do Rio. Seguiremos buscando essas parcerias e esses avanços.

  1. O COR foi um marco para o Rio de Janeiro. Quais são os principais avanços que você viu desde a sua inauguração em termos de resposta a eventos climáticos extremos? Quais foram os principais desafios?

São incontáveis os avanços. Hoje, além de notar uma cidade mais preparada, sinto o cidadão carioca mais preocupado com tudo que acontece no seu entorno. A comunicação tem um papel extremamente importante de fazer as pessoas compreenderem os riscos de estarem nas ruas conforme dos estágios operacionais da cidade. Saber como agir em cada um dos cenários operacionais é fundamental para construirmos uma cidade cada vez mais resiliente. Além de salvar vidas em dias de grandes chuvas.

  1. Desde sua inauguração, o COR tem utilizado tecnologia de ponta para monitorar o clima e prever eventos extremos, permitindo que a cidade tome medidas preventivas e responda de forma mais eficaz às crises. Como funciona essa tecnologia? Qual é a importância da tecnologia e da inovação para aprimorar as ações na área de adaptação a eventos climáticos extremos?

Sem tecnologia e sem inovação o COR não existiria. Quando iniciamos a nossa operação em 2010, por exemplo, o WhatsApp sequer existia. Da mesma forma, nossos sistemas precisaram avançar, nossos canais de comunicação com o cidadão foram expandidos e, após 13 anos de existência, o COR transformou-se na maior base de dados da Prefeitura do Rio. Com dados, você consegue entender a movimentação da cidade e a movimentação das pessoas. E, assim, colocando inteligência sobre os dados, conseguimos ajustar sistemas, operação de cidade, e os protocolos utilizados em situações de eventos climáticos extremos.

  1. Como o COR envolve a população carioca nas iniciativas de preparação e resposta a desastres? Há planos para aumentar essa participação no futuro?

Hoje, posso afirmar que todo o cidadão carioca já ouviu falar no Centro de Operações. O último Censo mostrou que cidade conta com 6,2 milhões de habitantes. Só nas nossas redes sociais são quase 2 milhões de pessoas. Além disso, os canais de comunicação não param de se expandir. Recentemente, firmamos uma parceria com uma empresa de mídia externa com alcance diário de 6,5 milhões no Grande Rio. A informação é a nossa grande arma. Além disso, vale lembrar que a prefeitura já conta com o canal 1746, que é um canal direto com o cidadão do Rio.

  1. Quais são os próximos passos ou projetos futuros que o COR está planejando para continuar melhorando o cenário climático do Rio de Janeiro?

A implantação da Inteligência Artificial nos processos embarcados no COR é o nosso próximo passo. A revolução digital é um processo em âmbito mundial e a gente não poderia estar de fora. Estamos com estudos avançados e, em breve, teremos sistemas que funcionarão com o uso da IA.

(1). Marcus Belchior Corrêa Bento é coronel do Corpo de Bombeiros do Estado do Rio de Janeiro (CBMERJ) há 26 anos. Na corporação, participou do desenvolvimento de diversos planejamentos operacionais. Na Prefeitura do Rio, já atuou como secretário de Conservação e Serviços Públicos entre os anos de 2012 e 2016, quando o Centro de Operações Rio fazia parte da estrutura da pasta. Foi o responsável pelas implementações da Operação Lixo Zero (Comlurb) e do Sistema de Gestão de Obras em Vias Públicas (Geovias).

O COR tem uma dinâmica única e inédita. Antes de sua criação, chuvas e outros eventos pegavam a administração pública e os cariocas de surpresa. 

Depois do COR, soluções são antecipadas, alertando os setores responsáveis sobre os riscos e as medidas urgentes que devem ser tomadas em casos de crise.

E você, gestor público? Já conhecia as atividades do COR? Deixe um comentário abaixo, queremos saber! 

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