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Sustentabilidade e meio ambiente: como enfrentar o desafio do século
Precisamos “zerar” 51 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa lançados por ano. A regulação do mercado de carbono no Brasil pode ajudar nessa meta
Maio, 2022
Fazenda com geração de energia solar distribuída no interior de São Paulo: Brasil é o quarto maior produtor dessa fonte de energia renovável (BK Brasil/Divulgação)
O início desta década tem trazido desafios extraordinários para a humanidade. A pandemia e a guerra vêm operando consequências imediatas. Desorganização das cadeias de produção, pressão sobre os sistemas de saúde, retração econômica, com diminuição da renda e do emprego e, mais recentemente, uma crise inflacionária que desafia as autoridades monetárias mundiais.
Ainda nesta década, a questão climática, por mais sutil e difícil de implementar, inclusive como agenda pública tão urgente quanto as questões de saúde e economia, está a demandar maiores esforços de política pública em diversas direções, tais como a inovação tecnológica e de processos, comunicação e sustentabilidade econômica.
E, como se trata de uma agenda global, em que o futuro e a sobrevivência das novas gerações está em jogo, para além dos esforços de cientistas, diplomatas, instituições multilaterais e governos nacionais, a sociedade civil tem de estar mobilizada e atenta às oportunidades que este esforço cria, no sentido de mudanças de relação com o meio ambiente, hábitos de consumo, criação de novos produtos e a mudança da estrutura mais ampla de funcionamento da economia.
Para dar uma dimensão do que está em jogo, a equação matemática é um tanto simples e, ao mesmo tempo, assustadora. Precisamos “zerar” os atuais 51 bilhões de toneladas de gases de efeito estufa (GEE) que lançamos anualmente na atmosfera.
E a realidade do que vivemos em 2020, joga luz sobre o desafio! Por conta das restrições estabelecidas devido à pandemia, houve uma queda geral de 5,6% nas emissões de CO2. Mesmo assim, as quantidades de gás carbônico, metano e dióxido nitroso liberadas atingiram a maior marca anual registrada nos últimos 10 anos, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM).
No instigante “Como Evitar um Desastre Climático. As soluções que temos e as inovações necessárias”, lançado em 2021, Bill Gates avança didaticamente na exposição do problema e no debate de suas soluções.
Um dos pontos interessantes da discussão que propõe é mostrar que para fabricar coisas (cimento, aço, plástico) e ligar as coisas na tomada, geramos 58% dos GEE que lançamos na atmosfera. O cultivo, 19%, transporte, 16%, e a manutenção das coisas quentes ou frias, 7%, respondem pelos demais percentuais de atividades econômicas que geram lançamento de GEE.
Como dissemos, esta realidade cria oportunidades econômicas, especialmente para o setor privado, que tem se mobilizado fortemente na direção de abraçar os desafios do meio ambiente, do social e da governança (ESG), ao incorporar novos conceitos, perspectivas e tecnologias na produção, administração e responsabilização do setor face aos riscos ambientais que vivemos.
Alguns exemplos merecem atenção. Por exemplo, desde 2009, a B3 inventaria suas emissões de GEE, e a partir de 2010 passou a ser verificado por terceira parte e a incluir o documento no Registro Público de Emissões do Programa Brasileiro GHG Protocol.
Outras iniciativas interessantes e inovadoras também vêm do mercado, através do exemplo de start-ups que apostam no desenvolvimento de produtos sustentáveis, abrindo oportunidades de novos negócios e hábitos de consumo.
De um lado, uma startup de higiene e beleza, que tem como missão ser zero plástico e ter o menor uso de água possível. De outro, uma empresa que aposta no consumo sustentável, envazando água em embalagem 100% reciclável e com 82% da matéria-prima renovável, feita de papel, plástico de cana-de-açúcar e alumínio.
O avanço da produção de energias renováveis no país também é exemplo interessante das oportunidades que a mudança climática é capaz de gerar.
A energia solar fotovoltaica deve, até o final de 2031, ser encarregada de cerca de 17% da matriz de eletricidade produzida no Brasil, valor que corresponde a um crescimento de 120% em um intervalo de nove anos, uma vez que, atualmente, a energia solar diz respeito a 7,7% de toda a energia elétrica aqui gerada.
Além disso, em 2021, o Brasil ocupou o quarto lugar entre os países do mundo no quesito de expansão da geração distribuída, atrás dos Estados Unidos, China e Índia. A “geração distribuída” remete à produção de energia realizada pelos próprios consumidores, por exemplo, em casas ou empresas que apresentam placas para a geração de energia solar.
Finalmente, ainda deste ponto de vista de oportunidades econômicas de iniciativas sustentáveis, o Governo Federal deverá publicar decreto regulamentando o mercado de carbono no país, tendo como base a Política Nacional de Mudança do Clima.
Ao anunciar o decreto o Congresso Mercado Global de Carbono – Descarbonização & Investimentos Verdes, promovido conjuntamente pela Petrobrás e o Banco do Brasil, pode-se perceber que duas das maiores empresas públicas do país também estão atentas às questões ambientais como oportunidade, o que deve se tornar o norte principal do processo decisório público e privado no Brasil nas próximas décadas.
*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.
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