Os desafios para modernizar a gestão pública, diante de um mundo cada vez mais digital, sustentável e financeiramente integrado, seguem exigindo soluções criativas e colaborativas. No texto anterior da série Futuro Digital, exploramos caminhos possíveis para fomentar os chamados ecossistemas de inovação. Agora, avançamos para entender como diferentes tipos de startups – as GovTechs, FinTechs e Climatechs – podem atuar como parceiras estratégicas no fortalecimento da gestão pública, ampliando eficiência, inclusão e sustentabilidade.
Neste novo texto, vamos explorar os potenciais dessas parcerias, os desafios que ainda precisam ser superados e, principalmente, como gestores públicos podem liderar a criação de ecossistemas de tecnologia em governos que beneficiem o cidadão. Tudo isso para uma gestão pública mais conectada, eficiente e preparada para os desafios contemporâneos.
Então, como as GovTechs, FinTechs e Climatechs podem apoiar os setores da gestão pública? Siga a leitura e descubra!
O que são as Techs?
O termo “tech” tem sido utilizado para designar empresas que aplicam tecnologia e inovação como base para oferecer soluções escaláveis e disruptivas. No contexto da gestão pública, as GovTechs, as FinTechs e as Climatechs possuem um papel importante e estratégico no apoio ao setor público.
As GovTechs reúnem soluções tecnológicas criadas especificamente para atender às necessidades dos governos. Essas startups ajudam a modernizar processos, reduzir processos morosos e ampliar o acesso da população a serviços públicos de qualidade. Ao desenvolver desde plataformas digitais de atendimento até sistemas inteligentes de coleta de dados, as GovTechs atuam diretamente para gerar valor público.
Além de melhorar a eficiência administrativa, as GovTechs fortalecem a transparência e a participação cidadã. Plataformas de dados abertos, aplicativos que permitem que a população fiscalize obras públicas, ou sistemas de consultas públicas digitais que envolvem os cidadãos na construção de políticas, são exemplos concretos dessa transformação. Esse movimento contribui para a criação de governos mais acessíveis, responsivos e confiáveis.
Um exemplo de parceria entre o setor público e as GovTechs é o case do Portal de Compras Públicas (PCP). O portal tem como objetivo otimizar licitações de compra de bens e serviços, sendo responsável por simplificar o processo e facilitar a fiscalização tanto de órgãos reguladores, quanto dos cidadãos.
Dados Abertos são informações públicas disponíveis para qualquer pessoa acessar, usar, modificar e compartilhar livremente, desde que mantenham a origem e a abertura. São dados publicados em formatos e licenças abertas, com o objetivo de ampliar a transparência, incentivar a participação cidadã e possibilitar novas soluções para a sociedade.
As FinTechs são startups que transformam os mercados financeiros por meio do uso intensivo de tecnologia. Elas introduzem soluções digitais que agilizam operações, criam novos modelos de negócios e ampliam o acesso a serviços financeiros. No Brasil, o setor é diversificado, com fintechs especializadas em crédito, pagamentos, gestão financeira, empréstimos, investimentos, seguros, câmbio, negociação de dívidas e serviços integrados.
Quando olhamos para o contexto da gestão pública, as FinTechs podem se tornar grandes aliadas. Elas oferecem soluções que aumentam a eficiência na arrecadação de tributos, simplificam a estrutura de pagamentos públicos e podem acelerar o repasse de benefícios sociais por meio de plataformas digitais. Além disso, ao dar agilidade no acesso ao crédito, as FinTechs contribuem para programas governamentais de inclusão produtiva, ajudando públicos que poderiam ter dificuldade no acesso, como pequenos empreendedores e agricultores familiares.
Já as Climatechs estão no centro da agenda de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Essas empresas desenvolvem tecnologias e serviços que contribuem para a descarbonização da economia, seja por meio da remoção de carbono da atmosfera, da redução das emissões futuras ou do aumento da resiliência das cidades frente aos impactos climáticos.
As soluções abrangem setores-chave como sistemas agroalimentares e uso do solo, energia, transporte, indústria, Infraestrutura Urbana, gestão climática e captura de carbono, que são temas apontados como as principais fontes de emissão mapeadas pelo IPCC. Para os governos, as Climatechs oferecem ferramentas essenciais para planejar cidades mais sustentáveis, monitorar riscos ambientais e criar políticas públicas alinhadas às metas globais de sustentabilidade.
O IPCC é o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas, criado em 1988 pela ONU. Ele reúne especialistas de todo o mundo para avaliar milhares de estudos e fornecer informações científicas que ajudam governos a criar políticas climáticas. Seus relatórios são referência global no combate às mudanças climáticas. Acesse o nosso glossário climático para saber mais!
Ecossistema de GovTechs
Ao favorecer meios de colaboração entre o setor público e essas startups, cria-se um terreno fértil para que a inovação possa prosperar dentro da gestão pública. Esse ambiente colaborativo é a base do que vem sendo chamado de ecossistema GovTech, um novo modelo de atuação que rompe com a lógica tradicional de compra e fornecimento de tecnologia para os governos.
No ecossistema GovTech, a relação entre governo e empresas deixa de ser meramente contratual e passa a ser estratégica e contínua. As startups deixam de ser apenas fornecedoras de serviços e tornam-se parceiras na construção de soluções públicas, atuando em conjunto com gestores para desenvolver tecnologias que atendam às demandas sociais.
Esse modelo cria espaço para inovação aberta. No último texto da série, vimos que para fomentar a inovação, os governos podem lançar desafios públicos, sandboxes regulatórios e chamadas de inovação para atrair soluções criadas sob medida. Com isso, o setor público ganha agilidade para testar novas tecnologias, ajustar processos e escalar rapidamente soluções bem-sucedidas. Por outro lado, as startups encontram oportunidades para validar suas tecnologias em cenários reais, com impacto direto na vida das pessoas. Ou seja, há um potencial ganho na esfera pública e privada.
Esse novo modelo de atuação é uma oportunidade de transformar a forma que o governo enxerga a inovação: de um processo distante para um movimento colaborativo, orientado a resultados públicos e dirigido pelo usuário.
Caminhos possíveis para uma gestão pública mais inovadora
A construção de uma gestão pública mais inovadora está diretamente ligada à evolução para um governo digital. Mas essa transição não acontece apenas com a adoção de novas tecnologias. É preciso criar estruturas e ambientes que permitam a experimentação, a colaboração e a construção coletiva de soluções. Ou seja, é preciso investimento e criar condições para os ecossistemas de govtech prosperarem Nesse contexto, entram os laboratórios de inovação pública, espaços estratégicos para consolidar o governo digital como prática e cultura.
Laboratórios de inovação
Laboratórios de inovação funcionam como ambientes seguros e criativos onde gestores públicos, GovTechs e cidadãos podem cocriar soluções para problemas complexos. Eles permitem testar ideias em pequena escala, ajustar processos de forma ágil e aprender com os erros sem comprometer grandes recursos. Um exemplo relevante é o Gnova Lab, da Escola Nacional de Administração Pública (ENAP), que atua como um espaço de experimentação no governo federal, aplicando metodologias de design thinking e inovação aberta para aprimorar políticas públicas.
Outro exemplo é o 011 Lab, da Prefeitura de São Paulo, um laboratório que trabalha com foco no usuário para melhorar a entrega de serviços públicos municipais. O 011 Lab desenvolve protótipos, mapeia jornadas do cidadão e cria soluções digitais de forma colaborativa com os servidores, com o objetivo de aprimorar a gestão e governança de serviços públicos.
Os laboratórios de inovação materializam o conceito de ecossistema GovTech ao criar conexões entre diferentes setores, promover e incentivar a colaboração aberta. Quando esses espaços são fortalecidos, GovTechs, FinTechs e Climatechs deixam de ser fornecedores isolados e passam a integrar redes que impulsionam a transformação digital e o aprimoramento das políticas públicas de forma contínua.
Esses espaços mostram que a inovação pública não é apenas sobre tecnologia, mas sobre mudança de mentalidade e criação de condições institucionais para que novas ideias possam florescer. Aqui, as lideranças desempenham um papel central. No processo de construção de políticas públicas inovadoras e digitais, liderar não é apenas criar boas propostas técnicas, é sobretudo ser capaz de articular diferentes esferas de governo, conectar interesses diversos e mediar diálogos duradouros com startups e empresas.
Uma liderança comprometida cria as condições políticas, administrativas e culturais necessárias para que, mesmo diante de resistências ou limitações locais, a inovação não seja um esforço isolado, mas sim um movimento contínuo no cotidiano da gestão pública. Fortalecer os ecossistemas GovTech e ampliar as conexões com FinTechs e Climatechs é um caminho promissor para construir um governo digital mais eficiente, colaborativo e verdadeiramente voltado ao cidadão.
E você, gestor? Já pensou em como GovTechs, FinTechs e Climatechs podem impulsionar soluções inovadoras no seu território? Se quiser continuar aprofundando seus conhecimentos sobre o futuro digital, continue acompanhando a Plataforma Rede Juntos!
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