Laboratórios de inovação e o futuro da gestão pública
As mudanças sociais, econômicas e tecnológicas observadas nos últimos anos ao redor do mundo, combinadas com uma crescente desconfiança da população nos governos, levam cidadãos a demandar aos seus governos cada vez mais e melhores serviços públicos, novas possibilidades de participação nos processos de tomada de decisão e maior transparência.
Governos estão sob grandes pressões para atender às demandas da população e os modelos tradicionais de gestão não são suficientes para integrar a diversidade de vozes e novos desafios da sociedade. Assim, governos têm buscado maneiras de se modernizar para fazer a transformação necessária da gestão pública para acompanhar as mudanças da sociedade e enfrentar problemas cada vez mais complexos.
Nesse contexto, os Laboratórios de Inovação têm se consolidado como um caminho possível e muitos têm surgido na última década. Unidades de inovação no governo nascem para rever as formas de fazer e pensar políticas públicas e repensar o relacionamento entre governo e outros atores sociais importantes como cidadãos, academia, empresas e sociedade civil.
Lab.Ges, Laboratório de Inovação na Gestão do Espírito Santo
Laboratórios de inovação são espaços que buscam criar e testar ideias e soluções a desafios de interesse público no intuito de melhorar a qualidade dos serviços públicos e assim transformar a administração pública. São espaços usados para tratar desafios públicos e sociais através de métodos experimentais e a cocriação entre as equipes multidisciplinares e o apoio de outros setores da sociedade, o que permite olhar problemas sob diferentes ângulos e criar soluções que não teriam oportunidade de surgir pelo caminho tradicional, promovendo assim uma nova cultura de governo.
Seguindo um movimento internacional de criar espaços dedicados à experimentar dentro da administração pública, diversas unidades de inovação surgiram nas três esferas do governo no Brasil. Cada laboratório de inovação é único e tem características próprias com ações adaptadas à realidade do governo em que está inserido e às prioridades estratégicas das lideranças e da gestão. No entanto, é possível identificar diferentes formatos de laboratórios de acordo com os objetivos definidos e os tipos de serviços oferecidos, conforme apresentado a seguir:
Tipo 1: Melhoria de serviços e solução de problemas
Laboratórios que focam sua atuação na criação de soluções a problemas específicos e melhoria de serviços públicos. A depender do laboratório podem optar por olhar para desafios internos à administração, ou áreas fins setoriais ou espaço urbano. Essas unidades de inovação geralmente atuam como um escritório de projetos estratégicos cujo foco é explorar possibilidades, testar e validar ideias. São características importantes do funcionamento do lab a colaboração, experimentação e agilidade na busca por essas soluções.
Tipo 2: Engajamento de atores sociais
Laboratórios cujo foco é promover a colaboração entre o governo, cidadãos e outros atores sociais importantes como academia, sociedade civil, iniciativas privadas, na busca de soluções a problemas de interesse público. Nesta categoria, alguns laboratórios focam mais na participação cidadã no sentido de trazer o usuário do serviço público para o centro da tomada de decisão, enquanto outros focam mais na colaboração com o ecossistema de inovação local (startups, pesquisadores, etc.), ambos para a construção de soluções e melhorias dos serviços. Exemplos de ações incluem: concursos de ideias, programas de inovação aberta.
Tipo 3: Transformação de cultura do governo
Laboratórios cujo objetivo é reforçar a cultura da inovação no governo para além do lab em si. O intuito é transformar a cultura de trabalho do governo por meio da transformação de processos, da construção de capacidades dos servidores, da valorização de saberes e da promoção de momentos de trocas e aprendizado. Exemplos de ações incluem: prêmios que reconhecem práticas inovadoras, criação de comunidades de práticas.
Tipo 4: Tecnologia e dados
Unidades de inovação cuja atuação foca principalmente na transformação digital da administração pública e na mudança de cultura que acompanha esse processo. De forma geral, os projetos fazem uso de ferramentas tecnológicas e incentivam o uso de dados para criação de soluções e embasar a tomada de decisão. Exemplos de ações incluem: organização de hackathons, digitalização de processos e serviços.
Boas práticas
Exemplos de laboratórios de inovação em governo tanto fora do Brasil como internacionalmente são inúmeros. A seguir nomeamos alguns que podem inspirar suas administrações:
No Brasil, se destaca o
Laboratório de Inovação do Governo Federal (GNova). O objetivo do GNova é fomentar o ecossistema de inovação brasileiro desenvolvendo projetos práticos de experimentação que criam soluções inovadoras e criativas para demandas públicas. O GNova tem três eixos de atuação: prospecção, disseminação e experimentação.
Também cabe mencionar o
Laboratório de Inovação em Governo (011).lab da prefeitura de São Paulo. Criado em 2017, o (011).lab é um espaço que busca estratégias para aproximar a gestão pública das pessoas, assim como aumentar a eficiência da administração municipal e a qualidade dos serviços prestados à população. O lab tem três frentes de atuação: desenhar e melhorar serviços públicos, mobilizar comunidades de prática de inovação pública e desenvolver capacidades para inovar em serviços.
Outro projeto que teve êxito é o
LAB.ges, laboratório de inovação e governo desenvolvido pelo governo do Espírito Santo. Com foco nas pessoas, o escopo de trabalho do Laboratório envolve a colaboração e a cocriação envolvendo servidores públicos, sociedade, empreendedores, terceiro setor e academia. A ideia é que a administração tenha um olhar macro para as diferentes perspectivas, contribuindo com a criação de novas ideias e soluções para os desafios enfrentados.
O estado de Goiás instituiu o laboratório de inovação
Pequi Lab (Ponto de Encontro para Qualificação e União para Inovação). O objetivo do projeto é ter uma uma rede de melhorias de gestão no Governo, com conexão de servidores, órgãos, entidades e parceiros. Além disso, o laboratório conta com programas de certificação e capacitação contínua atrelados às funções estratégicas.
Recentemente, o município de Campinas (SP) anunciou a criação do Laboratório de Inovação em Gestão e Desenvolvimento Humano, denominado GestAÇÃO. A iniciativa busca ser um ambiente orgânico vivo, dinâmico e permanente de criação de ideias, estudos, pesquisas, projetos e trabalhos conjuntos para solução de desafios e problemas de interesse comum, a partir do foco nas pessoas que movem a administração pública, que propõem, criam ou se beneficiam da solução criativa ou inovadora: servidores e cidadãos.
O laboratório tem três objetivos centrais: qualificação, para gerar mensuração e qualificação do servidor e do serviço público; engajamento, com intuito de estimular uma cultura de inovação e engajamento do servidor com o cidadão campineiro; e transformação, para fomentar propostas indutoras de transformação da sociedade com foco na cultura de paz e nos direitos humanos.
A ideia do laboratório foi construída durante e com apoio da Jornada Reforma Administrativa e Gestão de Pessoas, liderada pela Comunitas com apoio da Fundação Lemann.
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