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A inovação no setor público como caminho para o desenvolvimento
Junho, 2021
Não é novidade que a pandemia da covid-19, a qual já dura cerca de um ano e meio, impactou os mais diversos aspectos de nossas vidas: desde a maneira como fazemos compras, passando por questões de higiene pessoal e até mesmo afetando nossas relações sociais.
Contudo, talvez uma das maiores implicações sofridas tenha sido na maneira como a pandemia forçou a execução do trabalho.
Vimos o mundo a migrar em velocidade recorde para uma nova forma de muitos cumprirem seu ofício: o teletrabalho. O vírus testou barreiras culturais e organizacionais impelindo-os para uma nova fase do faça tudo on-line.
Um estudo realizado pelo MIT (Instituto de Tecnologia de Massachusetts) concluiu que as economias desenvolvidas tendem a obter melhores performances em relação ao teletrabalho.
Em uma lista de 30 países estudados; porém, diante de uma mudança tão abrupta nem todos os países ou setores obtiveram os mesmos desempenhos positivos.
O Brasil ficou ao lado da China entre aqueles que encontrariam maiores dificuldades para a implementação desse método de trabalho.
Devido à pandemia, no ano passado, grande parte dos governos adotou, em diferentes níveis, medidas de teletrabalho.
Entretanto, como essas ações foram tomadas com urgência, surgiram diversos desafios naturais para quem não estava preparado, como por exemplo, a falta de acesso à infraestrutura tecnológica e à baixa literacia digital, que prejudicaram o desempenho dos trabalhadores.
Não há dúvidas que os governos, de forma geral, precisarão, reavaliar as novas estruturas e relações de trabalho, sobretudo as que têm impacto direto na qualidade dos serviços prestados à população.
Por mais que o teletrabalho tenha ganhado força por conta da pandemia, ele não deve ser encarado como um remédio amargo com o único propósito de atenuar o atual momento. Pelo contrário! Muitas vezes, importantes mudanças estruturais positivas só ocorrem após grandes desafios coletivos.
O teletrabalho tem o potencial de aumentar a produtividade e engajamento dos servidores, economizar o tempo de locomoção, auxiliar na inclusão de pessoas com deficiências físicas e promover um modelo de gestão baseado na busca por resultados.
Para isso, todavia, é necessário um acompanhamento na fase de transição para esse regime, como realizado pela Prefeitura de São Paulo com o apoio do (011).lab, uma entidade municipal que auxilia na criação de soluções inovadoras para problemas de interesse público.
De acordo com dados da Prefeitura, somente no município houve uma redução de R$ 42,8 milhões com o teletrabalho de abril a julho de 2020.
Ademais, 89% dos 4 mil servidores entrevistados concordaram que suas respectivas áreas deveriam adotar o regime, sendo que 67% enxergaram uma melhoria do desempenho de suas equipes.
Por outro lado, segundo um estudo realizado em 2020 pela Duke University em parceria com o Center for Advanced Hindsight sobre essa modalidade de trabalho no governo brasileiro, 14% dos funcionários públicos não possuem computadores próprios e 16% não têm acesso a uma rede de internet estável.
Isso aponta para uma necessidade de incluí-las digitalmente, permitindo que possam executar suas tarefas com eficiência. O mesmo estudo aponta que a ciência comportamental poderia ajudar estabelecer normas de trabalho.
Trabalhar remotamente exige que a maneira de gerir equipes também seja adaptada, visto que o gestor não se encontra fisicamente próximo de sua equipe. Isso traz à tona uma outra reflexão fundamental que deveríamos fazer: sobre a gestão de pessoas no setor público.
O teletrabalho deve ser visto, acima de tudo, como uma oportunidade de modernização, digitalização e inovação no setor público, algo de suprema primordialidade no serviço público brasileiro. Devemos utilizar nossos desafios atuais como instrumento de aprendizagem para desafios futuros.
Em um mundo conectado em alta velocidade e equipado com tecnologias que nos surpreendem a cada dia, optar pelo uso de processos obsoletos e delongados e a manutenção de culturas organizacionais retrógradas significaria, conscientemente, escolher ficar para trás.
A inovação no setor público, além de beneficiar, em última instância, os usuários, é um efetivo caminho para o desenvolvimento e o progresso.
Artigo publicado originalmente na coluna da revista Exame.
*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.
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