Por mais de duas décadas atuando como secretária de educação, sempre acreditei em ações de desenvolvimento de lideranças escolares que consideram a integração das escolas com o órgão central das secretarias de educação, partes que compõem o sistema de ensino. Dessa forma, torna-se possível  consolidar uma abordagem estruturada na gestão do sistema de ensino,  particularmente na gestão da aprendizagem, como o melhor caminho para elevar os indicadores educacionais. A abordagem sistêmica permite compreender as interações e relações entre as diferentes partes de um modelo de ensino e do processo de aprendizagem. Isso implica reconhecer que as decisões tomadas no nível central — por exemplo, as políticas educacionais —, afetam outros níveis, como formação de lideranças escolares, as práticas pedagógicas e os resultados de aprendizagem por escola. Essa perspectiva permite que educadores e gestores vejam o sistema educacional como um todo, em vez de se concentrarem apenas em partes isoladas. 

Ademais, os sistemas de ensino são caracterizados por interações complexas. Gestores, professores, estudantes e a comunidade interagem em diferentes contextos socioeconômicos e culturais, influenciando o ambiente educacional e impactando na eficácia do aprendizado.  Assim, adotar uma abordagem sistêmica implica em promover a colaboração entre os diferentes atores do sistema educacional, criando redes de colaboração entre órgão central, escolas, famílias e comunidades para minimizar os impactos extra escolares e potencializar os efeitos da escola no desenvolvimento integral do estudante.  

Em contextos de mudanças rápidas, como as que estamos vivenciando, a visão sistêmica permite que gestores e educadores tomem decisões mais informadas, com monitoramento contínuo do sistema de ensino e da gestão da aprendizagem, levando em conta as consequências a longo prazo de suas ações, o que é essencial para promover melhorias por meio de inovações. Por sua vez, a gestão da aprendizagem promove a coerência sistêmica pedagógica, ao desenvolver a articulação entre os diferentes componentes do sistema educativo. Isso inclui a relação entre objetivos, conteúdos, metodologias, avaliação e o ambiente escolar. Quando esses elementos estão alinhados, as práticas pedagógicas se tornam mais eficazes, favorecendo a aprendizagem dos estudantes.

Igualmente, ao aceitar as interconexões entre os diferentes elementos do sistema de ensino e do processo de ensino e aprendizagem, e trabalhando de forma colaborativa e integrada, é possível promover mudanças mais sustentáveis no nível central e nas escolas. Um dos primeiros passos para garantir a coerência sistêmica é o alinhamento dos objetivos educacionais. É importante que os diversos atores envolvidos, como gestores, técnicos e professores compartilhem uma visão comum sobre o que se deseja alcançar. Isso envolve a definição de objetivos e metas educacionais, as competências e habilidades que devem ser desenvolvidas nos estudantes, assim como a promoção de valores éticos e sociais. A coerência não é apenas uma característica desejável, mas uma necessidade para que o ensino seja efetivo e significativo.

Reconhecer e superar os desafios que impedem a promoção de um ambiente adequado ao desenvolvimento da coerência sistêmica é fundamental para garantir que as mudanças não apenas ocorram, mas que se tornem parte integrante da cultura educacional. Diante disso, a formação de lideranças, de forma integrada e sistêmica, acompanhadas de suporte técnico, pode facilitar a transição e aumentar a confiança dos técnicos, gestores e professores nas novas práticas, viabilizando a consolidação de políticas educacionais voltadas para a melhoria da aprendizagem.

Considerando que a gestão de um sistema de ensino é complexa e dinâmica, e demanda conhecimentos e capacidades de lideranças em diversas áreas, tanto no órgão central da Secretaria de Educação, quanto nas escolas, o desenvolvimento de lideranças, particularmente do gestor escolar torna-se imprescindível, tanto para garantir a implementação das políticas educacionais desenhadas no nível central, quanto para conduzir a equipe na execução  dos processos necessários para alcançar os objetivos e metas educacionais, no âmbito de cada escola.

Nesse contexto, torna-se essencial a compreensão, por cada gestor escolar, dos objetivos e metas do sistema de ensino e qual a participação de cada escola no alcance desses objetivos e metas, considerando onde a escola se encontra e o quanto pode avançar. A análise dos dados educacionais de cada escola, de forma sistêmica, fornece informações precisas sobre os problemas e as causas e embasa as decisões do gestor escolar. E, uma vez implantadas essas decisões, torna-se necessário criar uma rotina de monitoramento e avaliação, de correção de rumos e de realização de feedbacks. 

Ademais, cabe ao órgão central do sistema de ensino direcionar o desenvolvimento dos gestores escolares de forma planejada, promovendo formações que contemplam os conhecimentos, habilidades e atitudes  específicas para executar as ações de gestão e de liderança da escola, e tomar decisões baseadas em dados e informações educacionais.

Ao identificar esses desafios, no período em que atuei como Secretária de Educação no município de Petrolina – PE, tomei a iniciativa de elaborar e implantar o Programa de Formação de Lideranças em Gestão Escolar Integrada. O Programa foi estruturado em trilhas de aprendizagem, com três Cadernos: 

• A Dimensão Pedagógica da Gestão Escolar Integrada; 
• A Dimensão Relacional na Gestão Escolar Integrada;
• A Dimensão Administrativa na Gestão Escolar Integrada.

Cada uma dessas dimensões é abordada a partir das áreas de gestão que a constituem e suas respectivas competências. O material instrucional de cada Caderno foi estruturado com a finalidade de informar os conhecimentos, habilidades e atitudes essenciais para função de liderança do gestor escolar, demonstrando situações práticas e a relevância da tomada de decisões, a partir da análise dos dados educacionais. Com a finalidade de compartilhar os Cadernos, em sua íntegra, seguem abaixo os links com a síntese de cada um deles.

Primeiramente, o caderno “A Dimensão Pedagógica da Gestão Escolar Integrada” apresenta novas abordagens sobre questões de longa data nas escolas, a partir da discussão da gestão Pedagógica sob três áreas de gestão e suas respectivas competências. A área de gestão do desempenho e rendimento escolar, que demanda as competências de realizar o diagnóstico do desempenho escolar e implementar ações de intervenção pedagógica em grupos prioritários. A área de gestão das estratégias de ensino e aprendizagem, com as competências de monitorar a implementação do currículo escolar e monitorar o desenvolvimento das ações e projetos pedagógicos. A área de gestão das estratégias de desenvolvimento contínuo da equipe pedagógica, com a competência de promover a aprendizagem colaborativa e inovação pedagógica.

Importante destacar que o desempenho e o rendimento escolar dos estudantes só podem ser maximizados por meio de estratégias de ensino e aprendizagem que se  alinhem com as necessidades discentes aferidas nas avaliações internas e externas, o  que, por sua vez, só ocorre se os professores estiverem em contínuo processo de desenvolvimento profissional. Essa engrenagem é que move a escola, uma vez que no processo de ensino e aprendizagem, a dinâmica mais importante é aquela que acontece na sala de aula, entre professor, estudantes e desenvolvimento do currículo. 

Por sua vez, a  gestão das estratégias de ensino e aprendizagem devem ser realizadas por meio da implementação e monitoramento do currículo escolar e das ações pedagógicas e da formação em serviço. A dimensão pedagógica é, sem dúvida, o núcleo da gestão escolar. Ela se refere à articulação das práticas de ensino e aprendizagem, envolvendo o planejamento curricular, as metodologias de ensino, a formação docente e a avaliação do aprendizado. 

Portanto, uma gestão pedagógica de qualidade promove a formação contínua dos professores, incentivando a atualização constante e a troca de experiências. A prática de metodologias ativas, que colocam o estudante como protagonista do processo educativo, deve ser incentivada, permitindo que desenvolvam habilidades críticas e criativas. A avaliação, por sua vez, deve ser compreendida como um processo formativo, que vai além das notas, proporcionando feedbacks construtivos que ajudem os estudantes a progredir em suas aprendizagens.

Na sequência, o Caderno “A Dimensão Relacional da Gestão Escolar Integrada” aborda a gestão Relacional  a partir de três áreas de gestão e suas competências. A área de gestão das relações com o entorno da escola, com as competências de realizar o diagnóstico do território e do entorno da escola; promover a integração entre escola, território e comunidade e implementar órgão colegiado no território. A área de gestão das relações intraescolares, com competências de mediar conflitos entre os atores escolares; estimular a participação e desenvolvimento da equipe escolar e avaliar o desempenho da equipe escolar e fornecer feedbacks. A área de gestão do clima e cultura escolar, com competências de avaliar e monitorar o clima escolar. 

Essa dimensão envolve as interações entre os diversos atores da comunidade escolar: gestores, professores, estudantes e pais. Um ambiente relacional positivo é fundamental para o sucesso da gestão escolar, uma vez que a qualidade das relações interpessoais impacta diretamente na aprendizagem e no clima escolar. Para construir um ambiente colaborativo, é essencial promover a cultura do respeito, da empatia e da cooperação.

Dessa forma, a gestão relacional deve incluir práticas que incentivem a participação ativa de todos os envolvidos. Reuniões periódicas com pais, grupos de discussão e fóruns abertos são ferramentas eficazes para promover a participação e o diálogo. Além disso, é importante desenvolver programas que trabalhem as habilidades socioemocionais dos estudantes, fortalecendo a convivência e a resolução de conflitos de forma pacífica.

Por último, o Caderno “A Dimensão Administrativa da Gestão Escolar Integrada”  aborda a gestão administrativa  a partir de duas áreas de gestão e suas  competências. A área de gestão de recursos escolares, com as competências de aplicar o plano de recursos físicos e financeiros da escola e apoiar o trabalho da equipe escolar. A  área de gestão do projeto pedagógico da escola, com as competências de realizar o planejamento integrado da escola; executar a implementação do projeto da escola e avaliar os resultados do projeto da escola. 

Importante destacar que essa dimensão abrange a administração de recursos financeiros, humanos e materiais, essenciais para garantir a infraestrutura necessária ao ensino. Uma administração eficiente requer planejamento, controle e avaliação constantes, assegurando que os recursos sejam utilizados de maneira adequada e que as necessidades da escola sejam atendidas. A formação de equipes administrativas competentes e comprometidas é crucial para garantir o bom funcionamento da escola, permitindo que o gestor escolar se concentre nas questões pedagógicas e na melhoria da aprendizagem dos estudantes.

Em conclusão, a formação de lideranças em gestão escolar integrada é um desafio que requer uma abordagem sistêmica e multidimensional. As dimensões pedagógica, administrativa e relacional devem ser trabalhadas em conjunto para garantir que a escola cumpra seu papel de promover uma educação inclusiva e de qualidade. Da mesma forma, a comunicação e as tecnologias educacionais devem apoiar essas três dimensões e juntas favorecer a criação de ambientes propícios ao desenvolvimento integral dos estudantes. Trata-se de uma construção coletiva, que envolve todos os atores do órgão e central e das escolas que compõem o sistema de ensino, em busca do objetivo comum de garantir o direito de aprender para todos.

Acesse os conteúdos citados no artigo em nossa página de ferramentas! E, você gestor, já entrou em contato com uma gestão escolar integrada em seu território? 

*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.