De acordo com o Dicionário Infopédia da Língua Portuguesa, o termo “letramento” refere-se à capacidade de utilizar a leitura e a escrita para adquirir conhecimentos, desenvolver potencialidades e participar ativamente da sociedade. Muitas vezes, o conceito é confundido com alfabetização, que é na verdade um passo anterior ao letramento, definido como o processo de ensino e/ou aprendizagem da leitura e da escrita.
O letramento pode abranger diferentes áreas específicas, como o letramento matemático ou o letramento racial. Neste texto, o foco será o letramento digital, que envolve a habilidade de utilizar recursos tecnológicos de forma consciente e crítica, bem como o domínio para acessar, interagir e produzir no ambiente digital.
Ao longo do texto, serão apresentados dados sobre acesso à internet e qualidade da conexão no Brasil, além de iniciativas governamentais voltadas ao letramento e à qualificação digital, evidenciando seu papel estratégico na redução de desigualdades e na geração de oportunidades.
Você sabe qual é a importância do letramento digital para um cidadão e a sociedade como um todo? Siga a leitura para entender!
A sociedade brasileira já é digital?
Em 2025, estima-se que os celulares já façam parte do cotidiano da população brasileira, seja para conversar com amigos ou para acessar o cardápio em um restaurante. No entanto, isso não significa que todos os cidadãos os utilizem. De acordo com a pesquisa TIC Domicílios, realizada em 2024, 84% da população com 10 anos ou mais — o equivalente a 159 milhões de pessoas — usavam a internet. Entre esses usuários, 60% acessavam apenas pelo celular, enquanto 40% utilizavam tanto o computador quanto o celular.
O público da pesquisa foi segmentado por cor ou raça, área de moradia, grau de instrução, faixa etária e classe social (ver Gráfico 1). A análise revela diferenças significativas no acesso à internet, seja exclusivamente pelo celular, apenas pelo computador ou por ambos. Por exemplo, entre pessoas com nível superior, predomina o uso combinado de celular e computador.
Gráfico 1 – Usuários de internet, por acesso à internet pelo telefone celular ou computador de forma exclusiva ou simultânea (2024)

TIC Domicílios 2024.
Já entre aqueles com grau de instrução Analfabeto/Educação Infantil, o uso de computadores é inexistente; com Ensino Fundamental, apenas 17% utilizam o computador. Outro exemplo da chamada exclusão digital no Brasil é a diferença entre a classe B, em que 75% utilizam ambos os equipamentos, e a classe C, onde esse percentual cai para apenas 37%. Considerando que o computador pode ter um papel importante no aprendizado — como na busca e leitura de textos para aquisição de conhecimento —, depender exclusivamente do celular pode limitar o potencial de aprendizagem do usuário, como é explicado nesta matéria do Nexo Políticas Públicas.
O termo exclusão digital diz respeito àqueles que estão desprovidos ou têm baixos níveis de acesso às Tecnologias da Informação e da Comunicação, as TICs, ou aos seus benefícios. Isso pode acontecer de diferentes formas e níveis, que envolvem mais que o acesso a aparelhos eletrônicos. Esse fator está normalmente relacionado à pobreza e pode acontecer no nível tecnológico, mas também financeiro, cognitivo, instrumental ou linguístico, por exemplo. – Instituto AlanaConceito explicado!
Como mencionado anteriormente, a exclusão digital não se resolve apenas com o acesso a aparelhos eletrônicos. A qualidade da conexão também exerce grande influência: em 2024, 34% da população brasileira possuía o nível mais baixo de conectividade, o que limita o uso pleno dos dispositivos. Essa realidade está associada à ausência de políticas amplas de acesso gratuito à internet sem fio em todo o território nacional. Um caso de sucesso de política pública na área, é o Piauí Conectado, que implantou uma rede de fibra óptica abrangendo todo o território piauiense, com mais de 11 mil km de extensão, melhorando significativamente os serviços públicos oferecidos em áreas como escolas, hospitais e delegacias, com uma velocidade mínima de 30 Mbps.
Entre os usuários de internet, a pesquisa aponta que as habilidades digitais mais comuns são a verificação de informações encontradas online (52%) e a adoção de medidas de segurança, como senhas fortes ou verificação em duas etapas, para proteger dispositivos e contas (48%). Já competências que exigem maior conhecimento técnico ainda são pouco frequentes, como a utilização de fórmulas em planilhas de cálculo (19%) e a criação de apresentações de slides (17%).
Diante desse cenário, o letramento digital assume um papel fundamental não apenas para a adaptação à vivência virtual, mas também para que os indivíduos possam participar plenamente da sociedade contemporânea.
A importância do letramento digital
O letramento digital proporciona aos indivíduos a capacidade de navegar de forma eficaz pelo vasto universo de informações online. Com a explosão de conteúdo digital, desde artigos acadêmicos até notícias, torna-se essencial desenvolver a habilidade de identificar, avaliar e selecionar informações relevantes, garantindo uma compreensão mais crítica e informada do mundo em que vivemos, assim estimula-se o desenvolvimento de habilidades cognitivas críticas.
O letramento digital, aliado a condições como acesso à internet de qualidade, disponibilidade de equipamentos e um ambiente favorável, pode ampliar significativamente as oportunidades para os indivíduos, ajudando a reduzir a desigualdade digital e permitindo que mais pessoas, independentemente de sua origem socioeconômica, tenham acesso às mesmas possibilidades.
Já no setor profissional, o letramento digital se torna indispensável. O ambiente de trabalho moderno exige competências como uso de plataformas digitais, como o pacote do Google e o Microsoft Teams, e de ferramentas que facilitam o dia-a-dia, por exemplo o pacote Office que possibilita a criação de apresentações, etc.
Além disso, buscar especialização na área de tecnologia representa um passo estratégico para o crescimento profissional, uma vez que se trata de um mercado em plena ascensão. O domínio dessas habilidades torna os profissionais mais versáteis, competitivos e preparados para as demandas em constante evolução do mundo do trabalho.
Ou seja, a participação ativa na sociedade digital traz inúmeros benefícios, seja colaborando em projetos online, buscando vagas de emprego, divulgando oportunidades ou contribuindo para comunidades em plataformas digitais.
Exemplos de iniciativas governamentais
Diante dos desafios relacionados ao uso de aparelhos eletrônicos e dos benefícios proporcionados pelo letramento digital, é fundamental que o gestor público dedique atenção a esse tema. Vivemos em uma sociedade cada vez mais conectada, que demanda um governo digital capaz de facilitar o acesso a serviços e promover o bem-estar, sempre com foco no cidadão.
Nesse cenário, diversas iniciativas têm surgido para ampliar o acesso e as competências digitais da população. Um exemplo é o projeto de lei atualmente em análise na Câmara dos Deputados, que institui o Programa Nacional de Letramento Digital para Pessoas Idosas. A proposta altera a Política Nacional de Educação Digital, incluindo entre suas estratégias prioritárias o desenvolvimento de habilidades digitais nesse público. O objetivo é capacitá-los para produzir conteúdo, se comunicar, utilizar ferramentas tecnológicas com segurança e solucionar problemas no ambiente digital.
Outra ação relevante é o Amazônia Mais Digital e Menos Desigual, lançado no dia 5 de agosto de 2025 pelo governo federal em parceria com a Associação Brasileira das Empresas de Software (Abes) e a Reurbi Socioambiental. O projeto promove letramento e qualificação digital em comunidades da Amazônia por meio da reutilização de equipamentos, como notebooks, desktops e impressoras, descartados ou recondicionados. O programa prevê alcançar aproximadamente 45 mil beneficiários, oferecendo acesso à tecnologia como ferramenta de educação, qualificação profissional e geração de renda.
Já uma iniciativa que está rodando e detém bons resultados é o Embarque Digital. Criado em 2021, é uma parceria entre a Prefeitura de Recife, por meio da Secretaria de Educação e o Porto Digital, que promove a formação em nível superior de estudantes egressos da rede pública de ensino em cursos da área de Tecnologia da Informação (TI) oferecidos por instituições de ensino superior locais. Desde sua criação, já contemplou 2.030 estudantes e, no encerramento de seu primeiro ciclo, em 2024, registrou cerca de 60% de empregabilidade entre os concluintes. Contribuindo para a mudança de vida de estudantes em vulnerabilidade social e o consequente fortalecimento do setor de tecnologia da Cidade do Recife.

Legenda: Alunos do programa Embarque Digital.
Com foco em cursos como Análise e Desenvolvimento de Sistemas (ADS) e Sistemas para Internet (SI), o programa oferece uma formação prática e alinhada às demandas do mercado, incluindo disciplinas desenvolvidas em parceria com empresas do setor. Um de seus diferenciais é a disciplina prática Residência Profissional Tecnológica do Porto Digital, realizada semestralmente, que conecta os estudantes a desafios reais de empresas de tecnologia desde o primeiro período, ampliando as oportunidades de inserção profissional no polo tecnológico recifense.
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O futuro é agora
Essas iniciativas mostram que o letramento e a qualificação digital são peças-chave para reduzir desigualdades, ampliar oportunidades e preparar a população para um mercado de trabalho cada vez mais tecnológico.
O avanço do setor de Tecnologia da Informação (TI) no Brasil reforça esse potencial. Em 2023, o segmento cresceu 21% em relação a 2022, que já havia registrado alta de 22% sobre 2021. No segundo trimestre de 2024, o crescimento foi de 22% em comparação ao mesmo período do ano anterior, superando as expectativas. No entanto, a falta de mão de obra qualificada segue como um dos principais desafios do setor. É nesse contexto que programas como o Embarque Digital, do Recife, ganham relevância, formando profissionais para suprir a demanda e, ao mesmo tempo, gerar emprego e renda para jovens egressos da rede pública.
Investir em letramento e qualificação digital, especialmente em áreas estratégicas como a tecnologia, significa criar condições para que mais pessoas, independentemente de idade, origem, cor, raça ou localização, participem ativamente da vida digital e aproveitem as oportunidades de um mercado em franca expansão.
E você, gestor público, já refletiu sobre o impacto que o letramento digital pode gerar na sociedade? Compartilhe sua opinião nos comentários, queremos ouvir suas ideias! E, se este conteúdo foi útil para você, avalie com 5 estrelas abaixo.
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