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A frase “juntos somos mais fortes” nunca fez tanto sentido.
Em 1985, observando a indústria inglesa no século XIX, Marshal constatou a condição favorável criada pela concentração de pequenas e médias empresas ao redor de outra com maior destaque, o que chamou de Distrito Industrial. Este tipo de aglomeração gerava economia externa que, por consequência, acabava provendo ganhos de competitividade das empresas inseridas neste contexto, o que não era percebido naquelas que atuavam isoladamente.
Movido pelas indagações sobre as vantagens competitivas das nações, Porter (1993) definiu, pela primeira vez o termo clusters, que considerou como “concentrações geográficas de empresas e instituições interconectadas numa área de atuação particular. Eles incluem um conjunto de empresas e outras entidades ligadas que são importantes para a competição”. Sua contribuição teórica permitiu analisar os motivos pelos quais algumas nações eram, com maior frequência, sede de empresas líderes de um mesmo segmento.
Foi a partir de então que a questão da capacidade competitiva das aglomerações ganhou destaque. Verificou-se que a concentração geográfica e as externalidades positivas a esta aglomeração gerava vantagens econômicas significativas ocasionadas também pela interligação dos laços gerados pelos atores envolvidos (empresas, setor público, instituições) e não dependentes exclusivamente de condições econômicas externas.
No Brasil, Cassiolato e Lastres, em 2003, deram o nome de “arranjo produtivo local” para esse fenômeno. Para os autores, as características que definem um APL são a dimensão territorial, a diversidade de atividades e atores econômicos, políticos e sociais, o conhecimento tácito, a inovação e aprendizado interativos, a presença de governança e o grau de enraizamento.
Falemos o português claro e simples: APLs, clusters ou CPLs, como atualmente definiu o Governo do Estado de São Paulo, são concentração de empresas de um mesmo setor produtivo em uma determinada região que evidenciem relação de trocas, cooperação, aprendizado e inovação constantes. A esse cenário se unem as diversas esferas do poder público, sistema S, universidades, instituições financeiras, entre outros tantos parceiros que variam de acordo com a realidade de cada setor.
E porque é interessante que nós, como gestores públicos, possamos apoiar o desenvolvimento de clusters, APLs ou CPLs em nossas cidades? Porque essa concentração e cooperação sempre acaba por trazer vantagens competitivas e sociais para o território. Os participantes de um cluster, competindo entre si por parcelas do mercado, acabam gerando na localidade uma mão de obra mais especializada do que empresas não inseridas nesta aglomeração, uma vez que indústrias relacionadas demandam recursos similares para operacionalização. Desta forma, isso evidencia a competitividade das empresas dos clusters, ressaltando a cooperação e a colaboração gerada localmente.
Ao buscar se instalar em uma localidade, empresas buscam por esse diferencial de mão de obra especializada, rede de fornecedores, institutos de pesquisa, entre outras vantagens. Ou seja, a presença da concentração produtiva acaba por atrair ainda mais investimento para cidade/região, gerando empregos, renda e aumentando a arrecadação de impostos.
Uma das maiores dificuldades que ouvi nos 12 anos que atuei a frente do Programa de Arranjos Produtivos Locais do Governo do Estado de São Paulo foi: “como eu, como Prefeitura, crio um APL?” E a minha resposta sempre foi: APL não se cria, APL se constata.
Um cluster se torna mais competitivo quanto mais completo forem seus fundamentos da competitividade. Estes fundamentos se dividem em dois grupos. No primeiro, dependem apenas da auto-organização, provocando uma evolução espontânea por parte do setor produtivo. Já no segundo grupo, tem como premissa a presença da governança que, através de planejamento direcionado e decisões conscientes, contribuem para a melhoria da competitividade do cluster.
Ok, talvez eu tenha deixado as coisas ainda mais confusas. Mas geralmente o que acontece é que as empresas, por auto gestão, acabam se aproximando, identificando problemas em comum e percebendo que, se organizando, terão vantagens como a possibilidade de realizar compras coletivas e assim baixar o valor dos insumos, atrair a instalação de centros educacionais para capacitação de mão de obra e, inclusive a demanda por cursos específicos para atendimento de suas necessidades, além de uma das prerrogativas mais interessantes: o fortalecimento setorial para o debate político, tributário e fiscal. Assim acabam surgindo associações e sindicatos que tomam essa frente, a quem chamamos de entidade gestora.
Existe uma grande confusão entre o que é a entidade gestora e o que é a governança. Então cabe esclarecer que Governança são todos aqueles atores que participam do APL e atuam de alguma maneira para melhorar as condições do setor a fim de promover a competitividade do arranjo. Os atores comuns que compõem a governança são as entidades de classe (associações, sindicatos), instituições de ensino, pesquisa e inovação, poder público, ONGs, cooperativas e o sistema S. Já a entidade gestora é aquela que organiza e executa as ações voltadas para as empresas do arranjo e representa os interesses setoriais. É a entidade gestora que organiza as demandas, encaminha projetos e mobiliza os atores da Governança buscando apoio para o crescimento do setor.
É sempre importante reforçar que a gestão do APL é compartilhada entre as entidades que compõem a Governança, mesmo com a existência de uma entidade gestora. Essa gestão compartilhada se só é possível através de uma relação de confiança entre os atores da Governança e empresários que se desenvolve ao longo do tempo e das ações implementadas. E sim, talvez essa seja a parte mais difícil do trabalho: estabelecer essa relação de confiança.
E o que nós, como agentes públicos no meio disso tudo podemos fazer? As Prefeituras devem ser as catalizadoras de ações e encorajar as empresas a elevar suas aspirações, promovendo um ambiente em que as corporações sejam capazes de ganhar vantagem competitiva. O poder público não é capaz de criar setores competitivos – essa tarefa é exclusivamente das empresas. Portanto, após mobilização e organização iniciais por parte do poder público, o protagonismo da organização do APL deve necessariamente passado para as empresas. Uma relação de dependência do Arranjo com o poder público é prejudicial ao andamento das ações, que deveriam melhorar competitividade das empresas.
A Prefeitura é um ator importante no desenvolvimento do arranjo, especialmente na fase inicial, mobilizando os atores para a composição da Governança, e no apoio político no encaminhamento de demandas. Mas o APL, como o próprio nome diz, é arranjo PRODUTIVO local. E o Poder Público não é um setor produtivo.
É fundamental também que você busque conhecer se seu Estado tem um programa de arranjos/cadeias produtivas/cluster. Cada unidade da federação tem seu conceito e forma de apoiar suas concentrações produtivas.
Atualmente, o Estado de São Paulo atualizou o programa de fomento aos APLs lançando o SP PRODUZ. As aglomerações podem se beneficiar de diversas ações a depender de seu nível de maturidade, bem como acessar recursos para projetos horizontais através de editais de fomento. Então minha sugestão é que você busque junto à Secretaria do seu Estado que trata dessa pauta compreender como esse apoio pode se dar localmente, em nível municipal.
Para iniciar esse processo, as dicas finais que posso dar são:
- Identifique os parceiros: entidades privadas sem fins lucrativos representativas do setor, universidades e instituições de ensino, sistema S, empresas âncora ou de expressão local;
- Mobilize os atores identificados e empresas;
- Sensibilize-os quanto ao tema;
- Busque conhecer experiências de outras regiões e municípios;
- Deixe que os EMPRESÁRIOS tenham lugar e espaço de fala;
- Apoie o planejamento e o direcionamento das ações (o Sebrae é um excelente parceiro para isso).
Por fim, trabalhe com quem está a fim de trabalhar! Não espere o cenário ideal para começar. Inicie o processo mesmo com um pequeno grupo e, quando as ações saírem do papel, quando os demais empresários perceberem os benefícios de estarem inseridos em um contexto de arranjo produtivo local, eles mesmos buscarão participar desse processo. Afinal, quem fica às margens de um cluster, acaba por perder competitividade para seus vizinhos.
*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.
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