No dia 14 de dezembro, foi celebrado no Brasil o Dia Nacional de Combate à Pobreza. A data foi instituída pela Lei nº 11.172/2005 para conscientizar sobre a miséria e buscar soluções, sendo que a data homenageia a promulgação da Emenda Constitucional nº 31, que criou o Fundo de Combate e Erradicação da Pobreza.
Neste ano, o Brasil avançou em relação ao combate à pobreza e às desigualdades sociais, que atingiram o menor índice desde 1995. Ainda assim, lidar com essa pauta é um dos grandes desafios da gestão pública a nível local e nacional.
Neste texto, a Rede Juntos apresenta os dados mais atualizados sobre a situação de pobreza e extrema pobreza brasileira, destaca políticas públicas associadas à redução dessas taxas e aponta os principais fatores que ajudam a explicar essa evolução.
Continue a leitura para entender mais!
Novos cenários sobre a realidade da pobreza no Brasil
De acordo com o relatório SIS do IBGE publicado em 2025 (com dados do ano anterior), o número de brasileiros vivendo em situação de pobreza, a partir do critério do Banco Mundial (US$ 6,85 PPC 2017/dia), é de 23,1% no ano de 2024. O mesmo relatório apontou que em 2023 cerca de 27,4% da população vivia em situação de pobreza. Isso mostra que em um ano houve uma redução da quantidade de pessoas acometidas pela pobreza no Brasil.
O relatório mostrou que entre 2023 e 2024, houve redução da extrema pobreza (linha US$ 2,15 PPC), com queda de 0,9 ponto percentual, saindo de 4,4% e atingindo 3,5% da população neste último ano. Isso pode indicar que o incentivo e a construção de políticas públicas que atuam para tirar as pessoas de uma situação de vulnerabilidade têm funcionado e surtido efeito.
Desigualdade regional
Entretanto, no Brasil há ainda uma relevante disparidade regional quando se analisam os dados referentes à pobreza.
Os dados sobre pessoas em situação de pobreza extrema do Síntese de Indicadores Sociais (SIS) mostram que enquanto no Nordeste 6,5% da população vive nessa condição, no Norte esse número é de 4,6%. Ambos os percentuais são maiores que a média geral do país, que é de 4,5%.
Por outro lado, no Sul e no Sudeste os números são menores do que a média nacional. A região Sul tem cerca de 1,5% da população em situação de extrema pobreza, enquanto o Sudeste tem aproximadamente 2,3% (ver Tabela 1).
Já em relação aos índices de pobreza, a região Norte tem um total de 35,9% da população nessa situação, sendo um número superior ao número geral do Brasil (23,1%). Ao mesmo tempo, as regiões Sul e Sudeste têm, respectivamente, 1,5% e 2,3% da população vivendo em condição de extrema pobreza, segundo os dados do SIS (ver Tabela 1).
Tabela 1 – Proporção de pessoas, por classes de rendimento domiciliar per capita selecionadas, taxas de crescimento e significância da diferença, segundo as Grandes Regiões – 2012/2024

Fonte: IBGE, Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua 2012/2024.
Esses dados confirmam que ainda há uma disparidade regional que precisa ser corrigida e melhorada a partir de políticas públicas que olhem para as especificidades e particularidades de cada uma das regiões do Brasil.
Políticas públicas de combate à pobreza
No caso brasileiro, uma das principais políticas para combate à pobreza e para transferência de renda é o Programa Bolsa Família (PBF). Iniciado em 2003, o programa atende, atualmente, cerca de 48,59 milhões de pessoas, com um benefício médio de R$ 683,28 por domicílio.
Além de se consolidar como um dos principais projetos de transferência de renda do Brasil e do mundo, o Bolsa Família também tem sido responsável por outros resultados importantes. Em 2025, um estudo da Fundação Getúlio Vargas (FGV) mostrou que o Bolsa Família tem conseguido quebrar o ciclo intergeracional da pobreza.
Na prática, isso significa que o Programa consegue dar oportunidades para que os filhos superem a condição de pobreza de seus pais, conquistando autonomia e oportunidades. De acordo com o Ministro do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome, Wellington Dias:
O que verificamos aqui é a quebra do ciclo intergeracional da pobreza. O Bolsa Família não acomoda; ele dá a oportunidade para que os filhos superem a condição de seus pais e conquistem autonomia – Ministro Wellington Dias
Segundo dados do IBGE, o Brasil alcançou em 2025 os melhores resultados de renda e os menores números de pobreza desde 1995, de acordo com a nota técnica do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea). O relatório divulgado em novembro mostrou que a renda domiciliar per capita cresceu cerca de 70%, o coeficiente de Gini (índice que mede concentração de renda) caiu quase 18% e a taxa de extrema pobreza recuou de 25% para menos de 5%.
Os bons resultados do ano devem-se, em parte, ao Programa Bolsa Família e a outras políticas de transferência de renda, como o Benefício de Prestação Continuada, Auxílio Brasil e Auxílio Emergencial.
Os pesquisadores responsáveis pelo estudo apontam o aquecimento do mercado de trabalho e também a expansão dos programas de transferências de renda como alguns dos fatores responsáveis pela queda da extrema pobreza entre 2021 e 2024.
Desafios atuais
Mesmo com os resultados positivos promovidos por programas sociais e políticas públicas, o Brasil continua tendo uma das maiores desigualdades sociais do mundo. O relatório World Inequality Report, publicado em dezembro de 2025, mostrou que a renda concentrada no bolso dos brasileiros mais ricos aumentou de 53% em 2014 para 63% em 2024, mostrando que o Brasil se tornou um pouco mais desigual nos últimos anos.
O estudo mostrou também que os 10% mais ricos do país tiveram uma renda média anual de € 74,1 mil, o equivalente a R$ 468 mil. É 63,5 vezes mais que a renda média dos 50% mais pobres, que foi de € 1,2 mil, ou R$ 7.574.
A nível global, o Brasil ocupa o quinto lugar em questão de desigualdade social entre 216 países analisados pelo relatório. Acima do Brasil, a ordem de países mais desiguais segue, respetivamente, África do Sul, Colômbia, México e Chile.
E os próximos passos?
É preciso continuar investindo em políticas de inclusão social, diminuição da concentração de renda e transformação social por meio da geração de emprego e renda.
Os dados apresentados no texto apontam que políticas públicas de transferência de renda são um caminho possível e funcional. Porém, a alta concentração de renda enfrentada pelo país mostra que ainda há um longo caminho a percorrer até que a desigualdade social atinja níveis mais baixos.
E você, gestor público? Como a sua região tem se preparado para erradicar a pobreza? Você já pensou em como a gestão pública pode avançar ainda mais no combate às desigualdades sociais? Não deixe de contar para a gente nos comentários!
Síntese de Indicadores Sociais: Uma análise das condições de vida da população brasileira 2025, IBGE | Mais de 18,65 milhões de famílias começam a receber o Bolsa Família nesta sexta-feira (14.11), Ministério do Desenvolvimento e Assistência Social, Família e Combate à Fome | Brasil é o 5º país mais desigual do mundo, diz estudo da equipe de Thomas Piketty, Folha de São Paulo | Brasil tem melhor renda, menor pobreza e desigualdade desde 1995, Agência Brasil
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