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Pesquisas eleitorais e democracia

Publicado em: 21.07.22 Escrito por: Paulo Alexandre Barbosa Tempo de leitura: 4 min
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Pesquisas eleitorais e democracia

Julho, 2022

 

Foto por Element5 Digital | Unsplash

 

Eleições são momentos decisivos da vida política de países democráticos. Quando o eleitorado entende que seus representantes estão no caminho certo, ele tende a votar em candidatos da situação. Em sentido contrário, quando eleitores percebem que há equívocos em relação ao que entendem ser o melhor para a coletividade, candidatos da oposição costumam sair-se melhor. Ao longo desse processo, pesquisas eleitorais são de grande importância, pois conferem mais transparência ao processo eleitoral, reforçam a confiança no sistema político e direcionam o eleitorado para o exercício do voto útil.

Pesquisas eleitorais aprimoram a transparência das disputas políticas. Elas melhoram a qualidade da democracia, pois servem como guias estatisticamente seguros a respeito da idoneidade dos resultados eleitorais. Embora resultados inesperados também aconteçam, na medida em que as emoções humanas estão sujeitas a mudanças, elas permitem avaliar o processo de formação da vontade do eleitor com base em variáveis como discurso político, carisma e tempo de televisão.

No Brasil, especificamente, esses levantamentos precisam ser registrados na justiça eleitoral e por conseguinte, criam-se incentivos extras para que institutos de pesquisa, atentos a seus riscos reputacionais, sigam as regras do jogo. Analisados sistematicamente, além disso, esses levantamentos são fontes primárias importantes para pesquisas acadêmicas posteriores.

A confiança no sistema político é outro benefício da realização de pesquisas eleitorais. Corolário da transparência, ela contribui para que o espaço público seja aberto à competição. Como via de regra, essas pesquisas devem ser realizadas por terceiros a fim de reduzir-se o clássico problema entre agente (instituições que realizam as pesquisas) e principal (governo).

Esse persistente conflito de interesses marcou a história de diversos países. Em algumas nações da América Latina, por exemplo, onde a justiça eleitoral passa por interferências governamentais constantes, a realização de pesquisas eleitorais independentes é fundamental como elemento de contestação.

O sistema representativo, todavia, não deve ser confiável apenas durante as eleições. A realização de estudos durante os mandatos políticos, nesse sentido, reforça o vínculo de confiança entre a população e seus governantes. Em Santos, durante os oito anos em que estivemos à frente da prefeitura, avaliar constantemente a satisfação da população com as medidas adotadas em nossa gestão consolidou-se como uma regra de ouro.

Aspecto por vezes estigmatizado sobre os efeitos de levantamentos das intenções de voto dos candidatos é o de sua contribuição para a manifestação do “voto útil” dos cidadãos. À primeira vista, tende-se a pensar que as pesquisas beneficiam o status quo, ou que não refletem as verdadeiras aspirações populares. Essa percepção, contudo, é equivocada.

Em primeiro lugar, porque ela parte da premissa que o voto útil é um voto irrefletido, baseado no “comportamento de manada” dos eleitores. Sabe-se, no entanto, que ao início de campanhas eleitorais, um número expressivo de cidadãos ainda não decidiu em quem votar. A convicção do eleitor, portanto, desenvolve-se ao longo do tempo, o que é indicativo de sua abertura a novas propostas. Em segundo lugar, ignora-se o fato de que o chamado voto útil é também o voto do cidadão na condição de membro da sociedade, e, nesse sentido, uma chancela aos candidatos que se mostrem mais consistentes para a defesa de interesses comuns, e não necessariamente de suas “paixões” individuais.

Pesquisas eleitorais são um dos pilares contemporâneos da democracia. Elas tornam as disputas eleitorais mais transparentes e competitivas, além de constituírem registro dos humores da população. Ao serem realizadas externamente ao governo, reforçam a integridade do espaço público. Por fim, servem para orientar os cidadãos a tomarem decisões que equilibrem, com maior propriedade, suas preferências pessoais e as necessidades da população em geral.



*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.

Artigo escrito por: Paulo Alexandre Barbosa
Ex-prefeito de Santos (SP) e colaborador da Comunitas
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