Parcerias que Transformam: quando o setor público avança com eficiência, inclusão e inovação
No Recife, a experiência do Porto Digital mostra como parcerias entre governo, academia e setor produtivo podem modernizar o Estado, impulsionar a economia criativa e transformar territórios
Diante dos complexos desafios e da constante evolução da gestão pública no Brasil, as parcerias com entidades não governamentais têm se consolidado como um caminho promissor para fortalecer o Estado e aprimorar os serviços prestados à população. Mais do que instrumentos formais, essas parcerias têm o potencial de mostrar como a colaboração entre os setores público e privado pode impulsionar a inovação, eficiência e, sobretudo, impacto social duradouro.
Quando bem desenhadas e estrategicamente alinhadas, essas iniciativas não apenas modernizam processos e contribuem para a melhoria de indicadores sociais, como também constroem uma nova lógica de cooperação, fundamentada na confiança, na corresponsabilidade e na busca por resultados mensuráveis. Diferente do que muitos acreditam, elas não substituem o papel do Estado, mas o fortalece, ao se integrar a planos e diretrizes de médio e longo prazo, assegurando que as políticas públicas sejam formuladas, implementadas e sustentadas com mais qualidade, escala e continuidade.
Este é o quarto e último artigo de uma série especial que aborda elementos fundamentais para construir parcerias público-privadas verdadeiramente transformadoras. Ao longo das últimas semanas, exploramos características que elevam as contratualizações a um novo patamar, gerando eficiência na gestão pública, promovendo a inclusão social e entregando resultados concretos para a sociedade.
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Inovação e reestruturação de processos

O Porto Digital está instalado no Bairro do Recife e já expandiu para os bairros de Santo Antônio, São José e Santo Amaro, totalizando uma área de 1,7 km² na capital pernambucana. Crédito da Imagem: Divulgação
Parcerias transformadoras vão além da ampliação de serviços: elas atuam diretamente na forma como o setor público entrega valor à população. Ao introduzirem novas tecnologias, metodologias ou modelos de gestão, essas iniciativas promovem uma reorganização dos processos públicos, muitas vezes substituindo práticas ultrapassadas por soluções mais eficientes, acessíveis e centradas no cidadão.
Além disso, o parceiro privado frequentemente contribui com know-how técnico, capacidade de adaptação e ferramentas de monitoramento que dificilmente estariam disponíveis com a mesma velocidade no setor público. Quando bem estruturadas, essas inovações não apenas otimizam os recursos, mas deixam um legado institucional duradouro, elevando o padrão de qualidade dos serviços públicos.
Exemplo prático – Porto Digital (Recife/PE)

Crédito da Imagem: Divulgação
O Porto Digital é um parque tecnológico de destaque nacional, com foco nas áreas de tecnologia da informação e comunicação (TIC) e economia criativa. Criado no ano 2000, o projeto surgiu com o duplo propósito de reter talentos qualificados na capital pernambucana e promover a revitalização do Recife Antigo, bairro histórico que, à época, encontrava-se em processo de degradação urbana.
Sua implantação foi viabilizada por um aporte inicial de R$ 33 milhões, oriundos da privatização da Companhia Energética de Pernambuco (Celpe). Além da sede no Recife, o complexo conta com uma unidade em Caruaru, o Armazém da Criatividade, ampliando seu alcance e potencial de inovação no Estado.
O Porto Digital vai além da introdução de novas tecnologias e metodologias de gestão. Ele representa uma reconfiguração da relação entre o poder público, o setor produtivo, a academia e a sociedade civil. Inspirado no modelo da tríplice hélice – que articula governo, universidades e empresas -, o parque tecnológico promove uma dinâmica de cooperação orientada para soluções digitais, fomento à economia criativa e desenvolvimento urbano sustentável.
Sobre a importância da colaboração multissetorial, o Diretor de Inovação na Secretaria de Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de Pernambuco, César Andrade, explica como o Porto Digital foi construído a partir de um diálogo coletivo. “Para uma coisa dar certo, por exemplo, uma política pública, você tem o que a gente chama de política participativa. A gente precisa que a população participe para entender que ela faz parte daquele contexto, ela se entender pertencente àquilo tudo”.
Entre os principais elementos que caracterizam sua inovação e modelo de governança destacam-se a adoção de um contrato de gestão com metas definidas e plano de trabalho monitorado; e uma articulação intersetorial sólida, envolvendo a Secretaria de Ciência e Tecnologia, órgãos de desenvolvimento econômico e instituições de ensino e pesquisa.
Impactos
Desde que saiu do papel, o Porto Digital provocou uma transformação social significativa ao unir inovação tecnológica, desenvolvimento econômico e requalificação urbana. Em 2023, o ecossistema faturou R$ 5,4 bilhões, impulsionando a criação de empregos qualificados, atraindo grandes empresas e colocando o Recife no mapa nacional da inovação. A revitalização urbana veio no mesmo ritmo: antigas áreas degradadas do centro histórico deram lugar a um polo tecnológico vibrante, hoje com o metro quadrado mais caro do Estado, abrindo espaço para novos negócios, serviços e moradias voltadas ao público jovem e criativo.
Refletindo sobre a evolução do modelo, Andrade enfatiza a autonomia conquistada pelo complexo tecnológico. “Investimos milhões de reais ao longo dos anos, eram contratos de valores vultosos, e chegou um momento que houve desmame, porque o Porto Digital não precisou mais de um contrato de gestão. Hoje, eles têm uma parceria, mas caminham com as próprias pernas. Isso é que eu chamo de política eficiente”, afirma o gestor
A iniciativa também tem papel estratégico na inclusão produtiva. Com cursos rápidos e oportunidades para estudantes e recém-formados, o projeto conecta jovens de diferentes perfis ao mercado de tecnologia, contribuindo para reduzir desigualdades e enfrentar a evasão de talentos para o exterior.
Além disso, até 2026, o plano é expandir esse modelo para o interior de Pernambuco, com novas unidades no Agreste, Sertão e Zona da Mata (sem contar com a unidade já em operação em Caruaru). A proposta é levar formação, infraestrutura e estímulo à economia criativa para regiões historicamente afastadas dos grandes centros por meio de articulação com prefeituras e sociedade civil, reforçando o compromisso com o desenvolvimento regional e a redução das desigualdades no Estado.
O gestor também explicou a estratégia de interiorização e traçou um paralelo com o processo vivido no Recife. “O contrato se restringiu agora para a interiorização. Na capital, deu certo. Então, a gente tem um modelo que pode ser aplicável a outras regiões. Com essas outras mesorregiões, o contrato de gestão aumenta de valor. E o que vai acontecer futuramente? O desmame. No momento em que, dentro do interior, eles tiverem condições de andar com as próprias pernas, é possível realizar uma redução equilibrada dos investimentos”.
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Somos servidores, prefeitos, especialistas, acadêmicos. Somos pessoas comprometidas com o desenvolvimento dos governos brasileiros, dispostas a compartilhar conhecimento com alto potencial de transformação.
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