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Florestas em pé e biodiversidade brasileira: Como estamos?

Publicado em: 05.06.25
Escrito por: Redação Tempo de leitura: 11 min Temas: Desenvolvimento Verde, Meio ambiente e Sustentabilidade
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Hoje é celebrado o Dia Mundial do Meio Ambiente (05/06). A data foi escolhida pelas Nações Unidas (ONU) por referência ao primeiro dia da Conferência de Estocolmo sobre o Meio Ambiente Humano. Realizada em 1972, essa foi a primeira grande conferência internacional para discutir questões climáticas. 

De lá para cá, o debate acerca dos desafios climáticos seguem em discussão. Ao mesmo tempo, a preservação da biodiversidade e soluções baseadas na natureza têm ganhado espaço na agenda pública. No ano da COP30, que será realizada em Belém, no Pará, as florestas em pé tornam-se estratégicas. 

Reconhecendo a importância dessa data, aqui na Rede Juntos, serão apresentados os principais dados, desafios e soluções sobre esses pontos centrais da agenda brasileira.  

Quer saber qual o panorama brasileiro em preservação ambiental e conhecer boas práticas no tema? Siga a leitura abaixo

Cenário Atual: Desmatamento e Biodiversidade no Brasil

Em termos comparativos, o Brasil é o país mais biodiverso do mundo – ao todo são identificadas no país cerca de 163.087 espécies, incluindo animais, plantas e fungos. Além disso, é o país com a maior área de floresta tropical do mundo. Essa variedade de vida representa mais de 20% do total de espécies do planeta, seja encontrada em terra ou em água. Essa riqueza biológica se distribui por seis biomas e constitui um patrimônio natural estratégico, com valor ecológico, social e econômico imensurável.

De acordo com um artigo de pesquisadores brasileiros publicado na última edição do Journal for Nature Conservation, o peixe-boi amazônico é o “grande jardineiro” das planícies aluviais da Amazônia, atuando como agente dispersor de sementes endozoocóricas dentro do ecossistema da região.

Mesmo diante dessa abundância de espécies nativas, ainda existem desafios significativos para preservá-las. O Relatório Anual do Desmatamento do Brasil 2024, divulgado anualmente pelo Map Biomas, revela que o país perdeu, nos últimos seis anos, aproximadamente 9,88 milhões de hectares de vegetação nativa, uma área equivalente à da Coreia do Sul. 

Apesar de os dados mais recentes apontarem uma redução no desmatamento em quase todos os biomas, a exceção ficou por conta da Mata Atlântica, que apresentou uma leve alta de 2%, após uma importante queda no ano anterior. Entre os destaques positivos, o Pantanal registrou a maior redução proporcional, com queda de 58,6%, seguido pelo Pampa, com recuo de 42,1%.

Relação de Desmatamento por bioma em 2024, em comparação com 2023

Bioma Hectares desmatados em 2024 Em comparação com 2023
Cerrado 652.197 ha  queda de 41,2%
Amazônia 377.708 ha queda de 16,8%
Caatinga 174.511 ha queda de 13,4%
Pantanal 23.295 ha queda de 58,6%
Mata Atlântica 13.472 ha alta de 2%
Pampa 896 ha queda de 42,1%

 

 

 

Fonte: Relatório Anual do Desmatamento do Brasil 2024.

Ainda assim, os números seguem distantes do ideal – especialmente diante de um cenário de subnotificação de casos de desmatamento, o que indica que os dados reais podem ser ainda mais elevados. Desde 2023, o Brasil assumiu o compromisso internacional de zerar o desmatamento até 2030, uma meta que exigirá políticas mais robustas e articulação federativa efetiva. Em 2024, Amazônia e Cerrado foram responsáveis por mais de 83% de toda a área desmatada no país, com o Cerrado permanecendo como o bioma mais devastado pelo segundo ano consecutivo.

A expansão agropecuária continua sendo a principal responsável por essa degradação ambiental: mais de 97% da perda de vegetação nativa entre 2018 e 2024 ocorreu por pressões diretas da agropecuária. A região do MATOPIBA (Maranhão, Tocantins, Piauí e Bahia) está entre os principais focos de desmatamento, com seus quatro estados presentes entre os cinco que mais desmataram em 2024 — ao lado do Pará. Juntos, representam mais de 65% da área desmatada no país.

E as Áreas Verdes Urbanas?

Apenas 6,9% das áreas urbanas do Brasil são cobertas por vegetação, o equivalente a 283,7 mil hectares, cerca da metade do território do Distrito Federal. Segundo levantamento do Map Biomas, a maior parte dessa vegetação urbana está concentrada no bioma Mata Atlântica, nos estados da região Sudeste, que abriga 61,5% da vegetação presente nas cidades brasileiras. Os dados do último censo mostram como a realidade urbana ainda é marcada pela carência de áreas verdes: cerca de 58,7 milhões de pessoas (33,7% da população urbana) vivem em vias sem qualquer arborização.

Por que Florestas em Pé e Biodiversidade?

É preciso pensar em sistemas em que a manutenção das florestas em pé e a conservação da biodiversidade sejam a prioridade, afinal quando esses são os pilares do desenvolvimento é possível perceber impactos positivos para o desenvolvimento humano, sustentável e econômico. 

Em termos ambientais, manter biomas e florestas preservados é essencial para garantir o equilíbrio climático, a regulação do ciclo das águas e a preservação de modos de vida tradicionais. Ao olhar para a floresta amazônica, por exemplo, sua vegetação densa atua como uma barreira natural contra incêndios, protegendo não apenas o bioma, mas também áreas agrícolas e urbanas adjacentes. Além disso, o ecossistema influencia diretamente o regime de chuvas em diversas regiões do Brasil, garantindo a estabilidade hídrica necessária à agricultura, à produção de energia e ao abastecimento urbano.

Manter a floresta em pé também significa preservar um dos maiores estoques de carbono do mundo. Quando protegida, ela contribui para conter o aquecimento global, quando derrubada e queimada, emite cerca de 200 milhões de toneladas de carbono por ano. 

Esses impactos ambientais trazem consequências econômicas diretas. O desmatamento no Cerrado e na Amazônia já causou perdas médias anuais de US$ 1,3 bilhão à produção de soja entre 1985 e 2012. Esses impactos ocorrem porque a perda de vegetação nativa está ligada ao aumento de calor na região, o que está conectado à perda de produtividade agrícola. Enquanto isso, a projeção de perdas até 2050 é igualmente significativa, o prejuízo pode alcançar US$ 4 bilhões por ano. Ou seja, a destruição ambiental prejudica também a competitividade do próprio agronegócio brasileiro.

DICA!

Quer saber mais sobre modelos de restauração de ecossistemas em grande escala? Recomendamos assistir o TEDx Talks do Bernardo B. N. Strassburg, diretor executivo do International Institute for Sustainability (IIS), com o tema “How we can restore one million hectares of degraded land?”. Ele traz, por exemplo, que restaurar 30% das terras degradadas de baixa produtividade em todo o mundo tem o potencial de evitar a perda mais devastadora da biodiversidade e capturar quantidades significativas de dióxido de carbono.

Com a perda dos ecossistemas, as possibilidades de uma economia local baseadas em ecoturismo também se perdem. Enquanto o turismo convencional cresce 7,5% ao ano, o ecoturismo cresce a taxas de 15 a 25% por ano. Além disso, essa modalidade de turismo já é reconhecida como uma das políticas centrais na proteção do meio ambiente e na erradicação da pobreza

Bioeconomia e agroflorestas

Neste caminho surge também a bioeconomia, que conforme a citação abaixo extraída da publicação Bioeconomia da Floresta – 2ª edição, é um modelo econômico que utiliza os recursos naturais de forma sustentável para desenvolver produtos, serviços e processos. 

Os conceitos de bioeconomia variam conforme a abordagem daqueles que os formularam. Contudo, prevalece a visão de uma economia baseada no conhecimento e no uso dos recursos naturais visando a obtenção de produtos, processos e serviços dentro de um sistema de produção sustentável. – Serviço Florestal Brasileiro

Para melhor exemplificar, citamos a bioeconomia relacionada aos produtos florestais não madeireiros. Estes produtos oriundos das florestas nativas podem ser produtos alimentícios, aromáticos, medicinais, corantes, borrachas, ceras, fibras, oleaginosos e tanantes. A sua comercialização movimentou cerca de  1,9 bilhão de reais apenas no ano de 2020. 

O Governo Federal traz em seu Plano de Transformação Ecológica – PTE, não só a bioeconomia como eixo altamente estratégico, mas também os sistemas agroalimentares. O fomento a esses sistemas colabora para a segurança alimentar e geração de renda para as comunidades que vivem nessas áreas.

Dentro dessas formas de produção, os sistemas agroflorestais (SAFs) se destacam. Nessa prática há uma valorização do uso integrado do solo com árvores para a produção agrícola, alinhando bioeconomia e produção sustentável. Esses sistemas promovem a diversificação produtiva, reduz a dependência de insumos externos e fortalece economias locais com base no uso racional dos recursos naturais.  

Além de gerar renda e ocupar mão de obra, os sistemas agroalimentares sustentáveis baseados em agrofloresta contribuem para a segurança alimentar, melhoram a qualidade do solo e da água e desenvolvem serviços ecossistêmicos, como a ciclagem de nutrientes. Trata-se de um caminho eficiente para conciliar preservação ambiental com desenvolvimento socioeconômico.  

Boas Práticas e Soluções Locais

Diante dos crescentes desafios para a preservação dos ecossistemas e biomas no Brasil, torna-se cada vez mais urgente voltar o olhar para políticas públicas e iniciativas locais inovadoras. Nesse contexto, é fundamental valorizar soluções que conciliam conservação ambiental e desenvolvimento territorial sustentável.

Um dos instrumentos do setor público que podemos citar é o Pagamento por Serviços Ambientais (PSA), um instrumento estratégico que pode ser adaptado e implementado em níveis estadual e municipal. De acordo com o Guia para a Formulação de Políticas Públicas Estaduais e Municipais de Pagamento por Serviços Ambientais, políticas bem desenhadas de PSA se destacam por três fatores principais de sucesso. 

Em primeiro lugar, essas políticas oferecem maior flexibilidade para que diferentes agentes sociais se adaptem às exigências ambientais. Além disso, incentivam mudanças em comportamentos e atividades produtivas, incorporando uma ideia de gestão mais sustentável de território. Por fim, valorizam comunidades como povos indígenas, ribeirinhos e agricultores familiares, reconhecendo seu papel histórico na proteção dos ecossistemas, muitas vezes realizada sem qualquer retorno direto.

Entre os principais aspectos a serem considerados para uma política de pagamento por serviço ambiental eficaz, estão: o estado de conservação dos ecossistemas naturais; o bioma predominante; os serviços ecossistêmicos mais demandados pela população local; e aqueles cuja oferta está ameaçada pelas atuais formas de uso e ocupação do território.  Além disso, é importante analisar as tendências socioeconômicas da região, garantindo que a política de PSA dialogue com os contextos locais e promova soluções alinhadas com a realidade de cada território.

A promoção do próprio turismo sustentável é também um instrumento efetivo para o desenvolvimento alinhado à preservação ambiental da biodiversidade. Diante da necessidade de promover um turismo local responsável e ecologicamente correto, o Ministério do Turismo desenvolveu o Mapa Brasileiro do Turismo Sustentável. A ideia da plataforma é mapear e disseminar boas práticas e casos de sucesso na promoção desta modalidade em todo o Brasil. Os casos mapeados servem como forma de inspiração e inspiram a replicabilidade de ações voltadas para a promoção do turismo sustentável. 

Além disso, o fomento à pesquisa e inovação é também uma forma de desenhar novas ações. Esse é o caso do Programa AmazonFACE, uma iniciativa científica voltada para entender como a Floresta Amazônica pode reagir às mudanças climáticas nas próximas décadas. Para isso, será utilizada a tecnologia “Free-Air CO₂ Enrichment” (FACE), que permite simular o aumento de CO₂ diretamente no ambiente natural, sem o uso de estufas. 

Com isso, o AmazonFACE se posiciona como um dos maiores laboratórios ao ar livre do mundo, abordando uma lacuna crítica na ciência climática global e buscando fornecer subsídios concretos para políticas públicas de mitigação e adaptação às mudanças climáticas. Configurando-se como projeto relevante para o fomento à inovação e preservação. 

Diante da urgência climática e da complexidade dos desafios socioambientais no Brasil, iniciativas e políticas públicas precisam estar alinhadas ao conhecimento científico, à valorização de saberes locais e à inovação. Ao reconhecer o papel estratégico das comunidades tradicionais e investir em soluções baseadas em evidências, é possível avançar na construção de caminhos mais sustentáveis para o uso do território e a conservação dos biomas. 

E você, gestor? Já conhecia os dados sobre desmatamento e quais políticas podem colaborar para a preservação ambiental? Para saber mais sobre preservação ambiental e ações climáticas, siga acompanhando as publicações da Rede Juntos!

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