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Água. Bem vital e direito universal do ser humano. Você já pensou que não somente nossos corpos são compostos por aproximadamente 70% de água, mas também só estamos aqui hoje porque o nosso planeta possui esse recurso natural? Cientistas afirmam em uníssono que onde há água, há vida. Então, partindo desse pressuposto, eu agora te faço um convite: imagine viver em um mundo sem água. Preocupante, não?
A cena imaginada por você pode parecer um pouco apocalíptica, ou quem sabe, se for muito positiva, algo bem distante de se concretizar. Tomando suas devidas proporções e analisando de forma crítica, não estamos nem tão longe de um cenário pessimista e nem tão perto de uma realidade otimista.
De acordo com a Organização das Nações Unidas (ONU), atualmente, aproximadamente meio bilhão de pessoas vivem sem acesso à água potável e metade da população mundial sofre ou sofrerá com escassez de água aguda apenas este ano. Tal cenário coloca em cheque um tema primordial para nossa existência: a segurança hídrica.
A corrida contra o tempo já começou quando aos primeiros sinais de aquecimento global e aumento dos períodos de seca extrema em regiões da África Subsaariana, deixaram o meio por cento da água potável do mundo ainda mais em risco. Sim, de acordo com a Organização Meteorológica Mundial (OMM) apenas 0,5% da água disponível no planeta é segura para consumo. Isso significa que, todo o resto da água que vemos ao nosso redor, se não tratada conforme os padrões de sanitização ou reutilizadas para outros fins que não consumo humano, é não só totalmente dispensável como um grande poluente da natureza. E é aqui onde eu quero chegar… A água não pode e nem deve ser um bem dispensável, é preciso que cuidemos do nosso maior e mais valioso recurso natural, daquilo que nos mantém vivos. Como? Através do reúso da água.
O reúso da água nada mais é do que o próprio nome indica, reutilizar a água que já foi inicialmente usada para um determinado fim. Assim, após a água ser utilizada e contaminada por resíduos, ela é submetida a um novo tratamento, o qual deixará a água apta para reúso, reduzindo o desperdício de água e promovendo a segurança hídrica do território.
Após o tratamento, a água de reúso passa a se encaixar em dois tipos de aproveitamento. Um sendo o reúso da água indireto e o outro, o reúso direto. Enquanto o primeiro tem seu reúso direcionado para o meio ambiente, o segundo é direcionado para atividades que não tem seu descarte no meio ambiente. Assim sendo, o reúso da água pode ser utilizada para diversos fins, sendo eles:
- Uso urbano, como por exemplo, no combate a incêndios, lavagem de ruas e veículos, sistemas de ar-condicionado, entre outros;
- Uso industrial, como nos processos fabris, de refrigeração, na geração de energia elétrica, na água de processamento e caldeiras;
- Uso potável, que após passar por um processo de tratamento avançado se torna apto para consumo humano;
- Uso agrícola para a irrigação de plantação, além de poder servir de proteção contra geadas;
- Uso ambiental para aplicação em terras alagadas, indústria da pesca, recargas de mananciais e etc., e
- Uso diverso como rega de parques, cemitérios, construções e terraplanagens, dessedentação de animais, entre outros.
Dito isso, alguns países já fazem do reúso da água uma prática habitual em seu cotidiano. A Namíbia, por exemplo, reutiliza mais de 60% da água de descarte para fins de uso potável, já o Japão iniciou com a prática através das indústrias de Tóquio e Nagoya desde a década de 1960. Nos Estados Unidos, a cidade de El Paso no Texas passou a injetar a água no aquífero Hueco Bolson depois de tratada para uso potável. Enquanto na Califórnia, para conter a crise hídrica iniciada na década de 1970, a região de Orange County passou a desenvolver modernas tecnologias com uso de membranas e desinfecção com raios ultravioleta para proporcionar o reúso da água.
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Entretanto, a situação brasileira não é tão boa quanto a de Israel, por exemplo. Enquanto o país do Oriente Médio tem cerca de 90% do esgoto tratado e reutilizado, o Brasil, hoje, atinge a marca de 1%. Em um país de dimensões continentais como o Brasil e com grandes bacias hidrográficas, há de se pensar que a escassez de água pode não ser tão grave assim, certo?
Errado. Além das graves secas muito bem conhecidas pelos moradores do sertão nordestino, as cinco regiões do Brasil já sofrem com crises hídricas em cidades rurais e urbanas. Isso porque o consumo de água no país continua crescendo com o passar dos anos, e estimativas indicam que o uso da água deverá aumentar em 24% até 2030, atingindo o nível de 2,5 milhões de litros por segundo. Este cenário não parece muito sustentável quando se trata de segurança hídrica. No mais, é preciso lembrar, ainda, que atualmente apenas 49% do país tem acesso a saneamento básico e 86% a água potável, ou seja, o cenário para águas de reúso é muito favorável.
Para isso, ainda que pouco normatizado, o Brasil conta com duas legislações que apoiam os gestores públicos a implementar essa prática e fazer dessa atividade uma política pública que pode transformar a vida dos cidadãos, gerando emprego e renda e levando segurança hídrica para seus moradores. Sendo assim, os arcabouços legais que podem apoiar o gestor na implementação desta prática são:
- Lei n° 14.546 de 4 de abril de 2023 (Lei do Saneamento Básico);
- NBR 15.527 – Água da Chuva – Aproveitamento de coberturas em áreas urbanas para fins não potáveis.
As discussões sobre amparo legislativo para a prática de reúso continuam entre os entes responsáveis pela governança das águas. A intenção é de prover ainda mais normativas que sustentem essas práticas e façam dela parte de um novo modelo de gestão hídrica. Entretanto, é imprescindível destacar que o reúso das águas é uma prática inevitável e cedo ou tarde ela se tornará um padrão da gestão dos recursos hídricos. Assim sendo, cabe a você gestor se antecipar nessa caminhada e fazer do seu território um caso de sucesso de reúso das águas no Brasil.
O seu município já faz uso dessa prática? Se sim, conta para a gente como funciona nos comentários!
*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.
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Lideranças com espírito público
Somos servidores, prefeitos, especialistas, acadêmicos. Somos pessoas comprometidas com o desenvolvimento dos governos brasileiros, dispostas a compartilhar conhecimento com alto potencial de transformação.
Excelente artigo. Parabéns!!!!