PT | EN | ES

São Paulo Global Halal Brazil Business Forum 2025: sustentabilidade na parceria Árabe-Brasileira

Publicado em: 23.10.25
Escrito por: Marcos Antonio Rehder Batista Tempo de leitura: 12 min Temas: Desenvolvimento econômico, Desenvolvimento Verde, Meio ambiente e Sustentabilidade, Turismo
Voltar ao topo

São Paulo Global Halal Brazil Business Forum 2025 e o Halal Green

Nos próximos dias 26 e 27 de outubro, a Câmara de Comércio Árabe-Brasileira – CCAB – e a FAMBRAS Halal realizam em São Paulo o Global Halal Brazil Business Forum 2025 – GHB 2025, no WTC Events Center, terceira edição do maior encontro sobre a economia dos países árabes das Américas. Terá como tema central o conceito de Halal Green, focado em como o modo de produzir e consumir das culturas muçulmanas tem profundas raízes alinhadas às sustentabilidades social, econômica e ambiental.

O evento conta com apoio institucional do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços – MDIC – e está programada a participação de autoridades dos governos federal e estadual, além de empresários e lideranças mobilizadas na já forte relação entre o Brasil e esses países, do agronegócio e da indústria de cosméticos ao turismo e à cultura religiosa. Em paralelo, acontece também a CETEC Halal, organizada pela International Halal Academy, onde pesquisadores acadêmicos debatem com executivos as relações econômicas entre o Brasil e o mundo islâmico.

Nas edições anteriores, de 2021 e 2023, o evento reuniu mais de 5 mil participantes, com mais de 300 matérias na mídia nacional e internacional, e atingiu cerca de 1 milhão de pessoas nas redes sociais. A CCAB atua em nosso território há mais de 70 anos e reúne 22 países da Liga dos Estados Árabes, que representam 2 bilhões de consumidores – 25% da população mundial – e juntos formam um PIB de 9 trilhões de dólares.

De acordo com dados da FAMBRAS Halal, fundada em 1979 e maior certificadora de produtos com padrão Halal da América Latina, o crescimento médio anual do PIB do conjunto formado pela Liga dos Estados Árabes é de 6,2% – maior do que o mundial, de 5,7% –, e o Brasil é seu maior parceiro não muçulmano, conforme pode ser confirmado no mapa disponível no site da entidade.

Em 2019, o Brasil exportou 16,2 bilhões de dólares (praticamente tudo em alimentos), sendo 16% desse montante da venda de carnes. Comparado aos outros líderes de vendas para a região, é seguido pela Índia, com 12% a menos, e pelos Estados Unidos, com 15% a menos. Na indústria, temos mais de 350 empresas certificadas para que comprem nossos produtos, envolvendo principalmente todas as etapas das cadeias de valor agroindustriais. Deste modo, ganhar cada vez mais familiaridade com as exigências desse mercado mostra-se crucial neste momento, em que o país empreende um esforço de neoindustrialização por meio da Nova Indústria Brasil, carro-chefe do ministério que apoia o evento – projeto que envolve todos os setores produtivos, inclusive o agronegócio.

Além do MDIC e de algumas das maiores empresas de vários setores, o GHB 2025 conta com apoio institucional da Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes – Abiec, da Associação Brasileira de Proteína Animal, da Brazilian Beef (parceria entre a Abiec e a ApexBrasil) e da Islamic Chamber of Commerce and Development, além das instituições já citadas. Entre as autoridades confirmadas estão Khaled Hanafi (secretário-geral da União das Câmaras Árabes), Sheikh Youssef Khalawi (secretário-geral da Câmara Islâmica) e Ali Zoghbi (vice-presidente da International Halal Academy), além do secretário de Comércio e Relações Internacionais Luis Rua e do ministro da Agricultura Carlos Fávaro. Também confirmaram presença o coordenador de Mercados Internacionais da Embratur, Alisson Andrade, o secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo, Roberto de Lucena, e pesquisadores da FGV e da Embrapa. Está prevista ainda a participação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, por videoconferência, durante missão internacional na Ásia.

Como será apresentado na sequência, a chamada Economia Halal vai muito além dos critérios associados à criação e ao abate animal, envolvendo um modo de vida equilibrado com os recursos naturais, defendendo sistemas produtivos competitivos, mas que não abrem mão do bem-estar humano. Muitos princípios adotados pelas nossas atividades rurais nas últimas décadas, como a agropecuária regenerativa e a agroecologia, estão em consonância com o que é exigido pelo mercado em questão, que não se restringe ao universo circunscrito pela “Liga”, dada a presença da população islâmica em toda a Eurásia, América do Norte e do Sul e na África Subsaariana.

É um padrão cultural cada vez mais significativo, e iniciativas tanto para a adaptação a esse público quanto para o amadurecimento da conexão dele com a economia global e com as demandas ambientais urgentes representam o fortalecimento da integração das economias emergentes com as maiores potências produtivas e científicas do planeta. 

Do Halal ao Halal Green: das tradições à sustentabilidade

Segundo o conceito apresentado pela FAMBRAS Halal Certificação, mais antiga certificadora no Brasil dos padrões árabes de produtos e formas de produção, com escritórios também na Argentina, Colômbia e Paraguai, halal” refere-se às maneiras permitidas pelo islamismo de agir em todas as esferas da vida. Em outras palavras, seguem “um padrão ético e moral de ações lícitas que abrangem o ambiente social, a conduta, a justiça para com o próximo”, opondo-se ao desperdício, e seus alimentos “não podem conter elementos venenosos, intoxicantes e perigosos à saúde”, devendo ser “cultivados por meio de manejo consciente” e “livres de mão de obra escrava”.

Assim como nas sociedades ocidentais, cujos princípios éticos também foram moldados por séculos a partir de orientações religiosas, entre os 12 princípios das chamadas Empresas Halal, autorizadas a comercializar com a Liga dos Estados Árabes, é possível encontrar vários elementos da Agenda 2030. São consideradas Empresas Halal aquelas que:

  1. utilizam matérias-primas, insumos e auxiliares de processo 100% garantidos diante dos requisitos Halal;
  2. fabricam alimentos, produtos ou fornecem serviços que não afetam a saúde humana;
  3. possuem um sistema de gestão da qualidade devidamente implantado, reconhecido e seguro, com boas práticas de fabricação (BPF) e APPCC (quando aplicável);
  4. zelam pelo bem-estar animal, quando relacionadas ao setor de pecuária ou proteína animal;
  5. possuem um sistema de rastreabilidade completo, seguro e reproduzível, que permite avaliar todo o fluxo Halal;
  6. manejam de forma equilibrada o solo e demais recursos naturais;
  7. não utilizam mão de obra escrava ou infantil;
  8. transferem informações com transparência;
  9. praticam conduta comercial correta e justa em suas negociações;
  10. destinam parte de seus lucros a benefícios sociais e ao meio ambiente (empresa cidadã);
  11. utilizam e respeitam os níveis de agrotóxicos determinados pela legislação;
  12. abatem os animais com humanismo e respeito.

Como se pode observar, existe um razoável alinhamento com a atual agenda de sustentabilidade ambiental no que se refere às condutas empresariais exigidas para o mercado produtivo, desde as relações trabalhistas e princípios de compliance até as práticas comerciais e o uso do solo. Também há uma preocupação para que as riquezas geradas pelos empreendimentos exitosos proporcionem benefícios sociais e ambientais; neste último ponto, exige-se a rastreabilidade de todas as etapas da produção dos bens de consumo. Ou seja, a adequação aos critérios exigidos pelos árabes também significa adequação a boa parte das metas nacionais do Acordo de Paris, além da otimização das políticas públicas que visam uma produção agropecuária regenerativa.

Isso deu origem ao conceito de Halal Green, que concentra atenções nas afinidades entre a Agenda Verde e os princípios de conduta árabe. Desde a abertura até as discussões do Global Halal Brazil Business Forum 2025, tudo girará em torno dessa nova concepção, que tem orientado a transição de economias demasiadamente dependentes da produção de petróleo para uma diversificação em matrizes limpas nos países da “Liga”.

Ao retomarmos o quanto representam na economia mundial, suas demandas geopolíticas e o potencial de crescimento – inclusive fora do Oriente Médio –, essa conversão das tradições em parâmetros de conduta econômica dentro do que é cobrado no mundo contemporâneo torna-se fundamental para a integração desse bloco no sistema global. Um evento dessa magnitude no Brasil também nos coloca como importantes mediadores nesse processo.

O conceito Halal Green no São Paulo Global Halal Brazil Business Forum – GHB 2025

Além do CETEC Halal, sobre inovação e Halal Green, as oito mesas de debate temático serão divididas entre os dois dias da programação e intercaladas por outros eventos no palco, como o lançamento do livro “Brasil e Mundo Árabe: Negócios, Marketing e Diplomacia Econômica Ampliada”, de Rubens Hannun, e homenagem à Família Saad, do Grupo Bandeirantes.

Além do  CETEC Halal, sobre inovação e Halal Green, as 8 mesas de debate temático serão divididas entre os 2 dias, e intercaladas por outros eventos no palco, como lançamento do livro “Brasil e Mundo Árabe: Negócios, Marketing e Diplomacia Econômica Ampliada”, de Rubens Hannun, e homenagem à Família Saad, do Grupo Bandeirantes. Concentrando nos temas dos debates, serão os seguintes: Keynote – Potencial do Mercado Halal Green: Tendências e Oportunidades Globais; Painel 1 – Inovação e Tecnologia: alimentos e agricultura Halal sustentáveis; Painel 2 – Sustentabilidade e Ética: construindo uma reputação de confiança; Painel 3 – o empoderamento feminino na Economia Halal; Painel 4 – Turismo Halal Green: desenvolvimento de destinos e experiências sustentáveis; Painel 5 – Finanças Islâmicas: investimento em projetos Halal Green; Painel 6 – Parcerias Estratégicas: Brasil e países islâmicos: casos de sucesso e oportunidades e; Painel 7 – Halal como selo universal de garantia e confiança.

A primeira apresentação trata de um apanhado da linha geral a ser priorizada no evento, e os três últimos relacionam-se às finanças e certificados do universo Halal Green, mais focados em investidores. Já os painéis 1, 2, 3 e 4 tratam de questões diretamente ligadas à oferta de produtos e serviços ao consumidor, incluindo agro sustentável e turismo – pautas que já tratei aqui na Rede Juntos –, por isso trago mais informações sobre eles.

Inclusive, são nesses painéis que a maioria dos pesquisadores universitários e autoridades brasileiras irá se apresentar, e abaixo seguem os detalhes da programação de cada um:

  • Painel 1 – Inovação e Tecnologia: alimentos e agricultura Halal sustentáveis: apresentará o panorama geral para agropecuária de precisão, biotecnologia e embalagens inteligentes demandadas atualmente pelo mercado Halal. Terá como moderador Marco Tieman (HSC Alliance) e como debatedores Luis Rua (MAPA), Flávio Redi (EcoHalal) e Sirajuddin Bin Suhaimee (Departamento de Desenvolvimento Islâmico da Malásia).
  • Painel 2 – Sustentabilidade e Ética: construindo uma reputação de confiança: discutirá padrões de bem-estar animal, preservação ambiental, impacto social e alinhamento com a emergência climática. Será moderado por Guilherme Bastos Filho (Centro de Agronegócios da EESP-FGV) e contará com João Campos (Seara Alimentos), Paulo Pianez (BTF/Marfrig) e İhsan Övüt (SMIIC).
  • Painel 3 – O empoderamento feminino na Economia Halal: abordará as possibilidades de empreendedorismo feminino dentro do universo de negócios com o mundo árabe, sobretudo em nichos como indústrias da moda, cosméticos e cadeias agroindustriais de alimentos. A moderação será feita por Silvia Antibas (vice-presidente de Marketing da Câmara Árabe) e contará com Sarah Hassan Kamal El Gazzar (Faculdade de Transporte e Logística Internacional), Alessandra Frisso (diretora da Câmara Árabe e da H2R Pesquisas), Soha Chabrawi (FAMBRAS) e Sulivan Alves (diretora técnica da Associação Brasileira de Proteína Animal).
  • Painel 4 – Turismo Halal Green: desenvolvimento de destinos e experiências sustentáveis: tratará do grande potencial de clientes de origem islâmica, seu poder de compra e exigências em relação às responsabilidades sociais, ambientais e comportamentais. O moderador será Dr. Rafi-uddin Shikoh (Salam Gateway) e contará com palestras de Roberto de Lucena (Secretário de Turismo e Viagens do Estado de São Paulo) e Alisson Andrade (Embratur).

Esses quatro painéis comprovam a abrangência do evento e das temáticas do atualmente chamado Halal Green, não se restringindo apenas aos alimentos propriamente ditos. Tratam de como vários setores desenvolvem seus produtos e das peculiaridades que podem facilitar a relação com essas sociedades. Também abordam a mulher como liderança no mundo corporativo, diferente da ideia generalizada sobre as relações de gênero no mundo islâmico. Nesse sentido, o acompanhamento dos detalhes do GHB permite a abertura de um horizonte para muitos desconhecido, tanto do ponto de vista cultural quanto das relações econômicas, posto que somos o principal parceiro comercial externo dessa comunidade.

Economia Halal Green e as possibilidades dessa parceria histórica

Como se tentou mostrar aqui, os padrões cobrados na Economia Halal não diferem tanto dos cobrados internacionalmente por países da Europa, América do Norte e Ásia. Também convergem para boa parte dos compromissos firmados no Acordo de Paris, além de contribuírem para a qualificação do sistema produtivo brasileiro dentro da Economia Verde e para a consequente melhoria da qualidade de vida.

O potencial de intensificação das exportações é gigantesco, dada a necessidade de diversificação de nossos clientes, da qual também dependem as atuais políticas industriais nacionais.
Na medida em que nosso setor produtivo for capaz de compreender a raiz cultural e política do que é cobrado pelo mercado árabe, isso nos colocará em uma posição absolutamente privilegiada, tanto para receber investimentos desses países quanto para mediar uma série de demandas internacionais, reforçando ainda mais nossa posição como players diplomáticos.

Mesmo para quem não puder estar no GHB 2025 presencialmente, é possível acompanhar o evento por transmissão via internet. Para isso, basta realizar a inscrição no site do evento, tornando possível conhecer o atual debate dessa relação econômica, social e científica, com todas as possibilidades decorrentes dela.



*Esse conteúdo pode não refletir a opinião da Comunitas e foi produzido exclusivamente pelo especialista da Nossa Rede Juntos.

Artigo escrito por: Marcos Antonio Rehder Batista
Pesquisador
O que você
achou desse
conteúdo?

Média: 0 / 5. Votos: 0

Nenhum voto até agora! Seja o primeiro a avaliar!

Compartilhe
este conteúdo:

Deixe seu comentário!

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Lideranças com espírito público

Somos servidores, prefeitos, especialistas, acadêmicos. Somos pessoas comprometidas com o desenvolvimento dos governos brasileiros, dispostas a compartilhar conhecimento com alto potencial de transformação.

Rede Juntos
Visão geral de privacidade

Este site utiliza cookies para que possamos oferecer a você a melhor experiência de usuário possível. As informações dos cookies são armazenadas no seu navegador e desempenham funções como reconhecê-lo quando você retorna ao nosso site e ajudar nossa equipe a entender quais seções do site você considera mais interessantes e úteis.