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Encontro de Líderes 2025: estratégias para uma gestão pública transformadora

Publicado em: 06.10.25
Escrito por: Redação Tempo de leitura: 7 min Temas: Parcerias Público-Privadas, Planejamento Estratégico, Segurança Pública
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O Encontro de Líderes, evento anual da Comunitas, que reúne líderes públicos e privados brasileiros, trouxe ao centro do debate o papel do Congresso Nacional diante dos desafios da segurança pública no Brasil. A discussão contou com a participação do Presidente da Câmara dos Deputados, além de governadores, parlamentares, gestores e especialistas, que apresentaram visões complementares sobre como enfrentar a infiltração do crime organizado, os desafios do sistema prisional e a necessidade de um planejamento nacional mais integrado.

Desafios estruturais e responsabilidade do estado

A crise do sistema prisional brasileiro e os desafios da segurança pública estiveram no centro das discussões durante o Encontro de Líderes de 2025. Embora se reconheçam esforços pontuais e a existência de uma multiplicidade de programas em curso, prevaleceu a percepção de que ainda falta ao país uma visão integrada e de longo prazo, capaz de articular as diferentes instâncias de governo e transformar políticas de segurança em políticas de Estado.

Nesse cenário, o sistema prisional surge como um dos principais gargalos. Longe de cumprir sua dupla missão de punir de forma justa e promover a ressocialização, as prisões passaram a funcionar, em muitos casos, como incubadoras do crime organizado. Facções e milícias ampliam sua influência dentro das unidades, coordenando atividades ilícitas, expandindo seu poder econômico e recrutando novos integrantes. 

Essa dinâmica evidencia que a segurança deve ser assumida como responsabilidade prioritária do Estado. Ainda que os municípios desempenhem papel relevante no cotidiano da proteção da população — seja com guardas municipais, seja com políticas sociais em territórios vulneráveis —, a ausência de uma coordenação nacional robusta faz com que cada ente federativo atue de forma isolada, fragmentada e de impacto restrito.

É nesse ponto que ganha centralidade o Sistema Único de Segurança Pública (SUSP). Criado para padronizar práticas, compartilhar informações e unificar a estratégia nacional de combate à criminalidade, o SUSP ainda opera de forma limitada, distante do papel estratégico que lhe cabe. Para cumprir sua função, precisa ser efetivamente implementado como instrumento de gestão conjunta, em que União, estados e municípios atuem em rede, sustentados por dados, inteligência e mecanismos de avaliação contínua de resultados.

Justiça, Governança e Reformas: convergências para a Segurança

Um dos pontos altos do Encontro de Líderes de 2025 foi a roda de conversa que reuniu Hugo Motta, e lideranças como, Mauro Mendes, Rafael Fonteles, Gilberto Kassab, Mendonça Filho, Raquel Lyra e a jornalista Andréia Sadi. O diálogo revelou diagnósticos convergentes sobre a gravidade da situação da segurança pública no Brasil e sobre os caminhos possíveis para avançar.

Os participantes foram unânimes em reconhecer que a criminalidade organizada já extrapolou os limites das prisões e das periferias urbanas, infiltrando-se em segmentos da economia formal — de postos de combustíveis a comunidades inteiras. Mendonça Filho trouxe à tona um dado alarmante: hoje, cerca de 26% da população brasileira vive sob algum grau de domínio do crime organizado, um quadro que reforça a necessidade de respostas institucionais urgentes.

Nesse contexto, destacou-se a percepção de que o marco jurídico brasileiro encontra-se defasado para lidar com facções e milícias, demandando reformas legislativas mais duras e eficazes. Mauro Mendes foi incisivo ao apontar que penas brandas e prescrições frequentes minam a credibilidade da Justiça, defendendo maior rigor na aplicação das sanções e foco na raiz da criminalidade.

Experiências locais trouxeram perspectivas práticas sobre alternativas de enfrentamento. Raquel Lyra, governadora de Pernambuco,  apresentou resultados de Pernambuco, onde políticas de isolamento de lideranças criminosas, revitalização urbana e programas de reintegração social garantiram 17 meses consecutivos de queda na violência. Já Rafael Fonteles, governador do Piauí, mostrou como o uso do sistema IMEI para bloqueio de celulares roubados, desenvolvido em parceria com operadoras, reforçou a integração entre tecnologia e segurança no Piauí.

No conjunto das falas, consolidou-se um consenso: a segurança pública não pode ser reduzida à bandeira eleitoral. Deve ser tratada como uma política de Estado sustentada por inteligência, tecnologia e cooperação federativa, rompendo com a fragmentação atual. Todos os líderes reforçaram que a burocracia excessiva – especialmente nos processos de monitoramento e repressão – é um entrave crítico, que compromete tanto a prevenção quanto a resposta do Estado.

O ciclo, portanto, é claro: prisões frágeis alimentam o crime organizado, leis defasadas e morosidade operacional reduzem a capacidade de ação do Estado, e a falta de coordenação federativa amplia a vulnerabilidade da sociedade. Para romper essa lógica, torna-se indispensável avançar em reformas legislativas, integrar experiências locais e consolidar um pacto federativo em torno da segurança como prioridade nacional. 

Nesse sentido, o presidente da Câmara, Hugo Motta, defendeu que apenas uma agenda guiada por evidências, pragmatismo e cooperação entre atores será capaz de construir respostas duradouras para um dos maiores desafios nacionais.

 

Contribuição da iniciativa privada e eficiência do Estado

O painel sobre o papel do setor privado evidenciou que a segurança pública depende também da cooperação com empresas. Marcos Lutz, Carlos Jereissati e Leo Branco destacaram exemplos de como metodologias de gestão pública apoiadas por consultores, aliadas à integração de dados e práticas de governança nos municípios, podem gerar resultados concretos. 

Na discussão, foi posto que o enfrentamento da criminalidade e a construção de cidades mais seguras não podem ser responsabilidade exclusiva do Estado, sendo indispensável estabelecer parcerias sólidas com o setor produtivo, tanto na prevenção quanto na eficiência da gestão.

Na mesma linha, Eduardo Riedel, Mauro Mendes, Pedro Paulo, João Campos, Ricardo Nunes e Fábio Zambeli ressaltaram o papel estratégico da inteligência artificial e da transformação digital para aproximar Estado e cidadão. Os participantes apresentaram experiências bem-sucedidas de digitalização de serviços em cidades como São Paulo e Recife, que ampliaram a transparência, reduziram a burocracia e reforçaram a confiança social.

O consenso entre os debatedores foi de que sem um Estado moderno, eficiente e transparente, não será possível consolidar avanços na segurança pública nem fortalecer a democracia. Transformação digital, gestão orientada por resultados e maior proximidade com a sociedade emergem como pilares essenciais para reconstruir a confiança entre cidadãos e instituições, garantindo que políticas públicas sejam efetivas, integradas e duradouras.

O Encontro de Líderes 2025 evidenciou que segurança pública e eficiência do Estado estão profundamente interligadas, exigindo respostas integradas, sustentadas por inteligência, tecnologia, gestão por resultados e parcerias com a iniciativa privada. Prisões frágeis, leis defasadas e burocracia excessiva alimentam o crime organizado, enquanto experiências locais e soluções inovadoras mostram que é possível avançar de forma concreta. O consenso foi claro: somente uma agenda baseada em evidências, pragmatismo e cooperação entre União, estados, municípios e setor produtivo permitirá romper ciclos de vulnerabilidade, fortalecer a democracia e consolidar políticas de Estado duradouras.

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