Como o Rio de Janeiro (RJ) promoveu segurança em travessias 

Pintura de fundo vermelho sob a travessia de pedestres que se desejava estimular no Rio de Janeiro.

Exemplo de faixa de sinalização de pedestres pintada com fundo vermelho. Rio de Janeiro – RJ. Créditos Imagem: Nudge Rio.

Introdução

 

O experimento Travessia + Legal foi realizado em novembro de 2018 através do NudgeRio e inserido no projeto RIO + Pedestre, promovido pela Prefeitura da Cidade do Rio de Janeiro, em que se desenvolveu e implementou uma intervenção nudge em via não sinalizada, isto é, uma linha de desejo de travessia – que nada mais é do que os caminhos inventados por pedestres em uma região com alto fluxo de veículos, de forma a transitar de um ponto a outro com mais praticidade e rapidez.

 

A ação fez com que os transeuntes apresentassem uma redução de movimentos indesejados em até 30%. O impacto dessa iniciativa foi o aumento da segurança viária e a sensação de humanização do ambiente urbano para todos os envolvidos, pedestres e motoristas.

 

Desafio

 

Embora a Prefeitura do Rio tenha conseguido uma redução na taxa de vítimas de acidentes de trânsito em 57,7% entre 2011 a 2017, o esforço para redução da taxa de mortalidade nesses incidentes ainda é necessário e urgente, visto que a ONU estabelece reduzir o índice de mortes no trânsito para um valor igual ou inferior a 6 a cada 100 mil habitantes por ano. Entretanto, a taxa de mortalidade em acidentes viários no Rio de Janeiro foi de 14,9 a cada 100 mil habitantes em 2017.

 

Neste cenário, a Prefeitura utilizou da metodologia nudge para realizar um experimento com foco na temática da segurança viária, abordando a questão de como a sinalização de uma das linhas de desejo praticadas por pedestres aumentaria a segurança viária nos trechos viários em que se inserem.

 

 

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Estratégia

 

Além de estar alinhado com as metas de redução do índice de acidentes viários, o experimento de nudge do Travessia + Legal também se integrou ao projeto de urbanismo tático da Prefeitura do Rio, intitulado “RIO + Pedestre”, que aconteceu em novembro de 2018. 

 

A iniciativa tinha o objetivo de realizar uma ação urbana temporária, com foco na segurança e na caminhabilidade do pedestre no entorno da estação de metrô São Francisco Xavier, na Tijuca.

 

Essas ações pretendiam demonstrar a importância de reduzir a velocidade dos veículos, através de reposicionamento do meio-fio e dos ângulos das curvas na percepção dos motoristas, garantindo uma melhor convivência entre pedestres, ciclistas e condutores de veículos motorizados. 

 

O local recebeu mobiliário temporário, novas travessias de pedestres, elementos de paisagismo e sinalização removível para ampliar a segurança e o conforto do pedestre durante dois dias, 18 e 19 de novembro de 2018 (domingo e segunda-feira). Este contexto foi parte do cronograma do experimento Travessia + Legal.

 

Assim, ambos os projetos, Grupo Transversal de Trabalho (GTT) Travessia+Legal e o RIO+Pedestre, partem da ideia de promover o ser humano, aumentar o conforto e a segurança para as pessoas. Neste sentido, o objetivo do GTT Travessia + Legal é usar técnicas de nudge para influenciar o comportamento dos transeuntes em trecho da via considerado linha de desejo, não sinalizada, com maior segurança viária.

 

Partindo-se do pressuposto de que uma faixa de pedestre sinalizada significa maior segurança, que calçadas mais largas aumentam espaços de circulação do pedestre e promovem conforto urbano, as intervenções foram implementadas. Foram executadas ações de urbanismo tático, caracterizado por operação temporária, de baixo custo e possível alto impacto. A hipótese adotada foi a de que, ao serem sinalizadas linhas de desejo, mapeadas como seguras, seria possível aumentar a segurança do pedestre ao torná-lo mais visível para os motoristas de veículos.

 

Nesse sentido, foram realizadas pequenas alterações na arquitetura do ambiente que fossem capazes de atuar sobre as principais conjecturas e vieses identificados no fenômeno em estudo, a saber:

 

  • Heurística da ancoragem – Tendência de fazer avaliações partindo de um valor inicial, ajustando-o para produzir uma decisão final. Os pedestres em geral possuem, como âncora, o valor de que a travessia fora da faixa é uma prática comum que os faz ganhar tempo e reduzir o esforço.

 

  • Heurística da Disponibilidade – Pessoas avaliam a frequência e a probabilidade de um evento pelos exemplos anteriores deste evento presentes na memória. No caso dos pedestres, a lembrança de muitas outras vezes em que a travessia fora da faixa não acarretou acidentes nem o colocou em evidente perigo, incentiva os indivíduos a, mais uma vez, escolherem atravessar fora da faixa.

 

  • Norma Social – Normas sociais são expectativas ou regras comportamentais implícitas ou explícitas em uma sociedade ou grupo de pessoas. Em diversas cidades, atravessar entre os carros, sem respeitar o espaço destinado para tal, é uma norma social que implicitamente conduz o comportamento dos pedestres.

 

  • Efeito Manada – Efeito percebido quando as pessoas fazem o que outras estão fazendo, sem considerar as suas próprias informações ou simplesmente tomar decisões independentes. Pedestres tendem a tomar decisões sobre travessia acompanhando os que os transeuntes mais próximos estão fazendo.

 

  • Viés da confirmação – Tendência de buscar evidências que confirmam a hipótese e a ignorar evidências negativas, isto é, valorizam as informações que facilitam a travessia fora da faixa e ignoram os indícios de que a travessia entre os carros significa elevado risco à integridade física.

 

  • Viés da confiança – Os indivíduos tendem a ser excessivamente confiantes quanto à infalibilidade de seus julgamentos ao responderem a perguntas de dificuldade, variando de moderada a extrema. Isso significa, no experimento realizado, que os indivíduos confiam de forma demasiada de que conseguirão atravessar fora da faixa sem serem atingidos por algum automóvel.

 

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Desenvolvimento

 

O local que recebeu a intervenção foi escolhido por se tratar de um ambiente urbano com relevante movimentação de pessoas, não só de passagem, mas também atraídas por comércio e serviços diversificados. No entorno da estação de metrô São Francisco Xavier, passam 1.500 pessoas por hora nos horários de pico e o fluxo de veículos chega a 60 mil por dia.

 

O processo de imersão no problema foi conduzido a partir de um conjunto de métodos e ferramentas do Design Thinking, Marketing Estratégico, Oficina Nudge para gestores públicos e pesquisa com levantamento de dados primários realizados no projeto RIO + Pedestre em parceria com o Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (IPTD).

 

A utilização desse ferramental possibilita a elaboração de uma série de abordagens acerca do problema definido, bem como o levantamento e cruzamento de informações que atuam no contexto escolhido para o experimento aumentando as reflexões que se fazem necessárias para a questão a ser testada na intervenção.


Nesse sentido, foram realizados dois experimentos em três horários diferentes: pela manhã, por volta do horário do almoço e à tarde, que se desenvolveram segundo a contagem de pedestres. 

 

O primeiro experimento considerou que a sinalização horizontal convencional de uma travessia (faixa de pedestres) não seria suficiente para convencer os transeuntes a realizarem o percurso no local mais seguro. Optou-se por implantar uma travessia de pedestres mais larga do que o usual e com um fundo de cor vermelha, diferente das demais cores utilizadas na ação RIO+Pedestre e que remetesse a um “tapete vermelho” para que o “rei pedestre” se sentisse motivado a passar sobre a travessia – a que se desejava estimular – movimento desejado.

 

O segundo experimento tratou de implantar uma sinalização vertical em um dos lados da via para desestimular que os pedestres realizassem a travessia fora da faixa.

 

Ao analisar a influência do experimento 1 e 2 combinados, os pedestres que visualizaram a travessia de fundo vermelho e a placa de sinalização vertical, apresentaram uma redução 45% em relação aos que não visualizaram a placa.

 

Resultados

 

O projeto NUDGE Travessia + Legal tratou de desenvolver intervenções que alteraram o contexto físico de um trecho da via não sinalizado utilizado como travessia pelos transeuntes (linha de desejo), através de um fundo vermelho sob uma nova faixa de pedestre e sinalização vertical em um dos lados dessa “nova travessia”.

 

Os experimentos influenciaram o comportamento dos pedestres ao apresentar uma redução dos movimentos indesejados de até 30%. Destaca-se que a combinação dos experimentos 1e 2 foi mais efetiva do que somente o uso do experimento 1. O impacto dessa ação é o aumento da segurança viária e a sensação de humanização do ambiente urbano para todos os envolvidos, tanto pedestres quanto motoristas.

 

 

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